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Prefácio

Meus caros filhos. Venho falar-vos do trabalho em que agora colaborais com o nosso amigo desencarnado, no sentido de esclarecer as origens remotas da formação da Pátria do Evangelho, a que tantas vezes nos referimos em nossos diversos comunicados. O nosso irmão Humberto tem, nesse assunto, largo campo de trabalho a percorrer, com as suas facilidades de expressão e com o espírito de simpatia de que dispõe, como escritor, em face da mentalidade geral do Brasil.

Os dados que ele fornece nestas páginas foram recolhidos nas tradições do mundo espiritual, onde falanges desveladas e amigas se reúnem constantemente para os grandes sacrifícios em prol da Humanidade sofredora. Este trabalho se destina a explicar a missão da terra brasileira no mundo moderno. Humboldt,(1) visitando o vale extenso do Amazonas, exclamou, extasiado, que ali se encontrava o celeiro do mundo. O grande cientista asseverou uma grande verdade: precisamos, porém, desdobrá-la, estendendo-a do seu sentido econômico à sua significação espiritual. O Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas também a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro.

Nestes tempos de confusões amargas, consideramos de utilidade um trabalho desta natureza e, com a permissão dos nossos maio- res dos planos elevados, empreendemos mais esta obra humilde, agradecendo a vossa desinteressada e espontânea colaboração. Nossa tarefa visa esclarecer o ambiente geral do país, argamassan- do as suas tradições de fraternidade com o cimento das verdades puras, porque, se a Grécia e a Roma da Antiguidade tiveram a sua hora, como elementos primordiais das origens de toda a civiliza- ção do Ocidente; se o império português e o espanhol se alastraram quase por todo o planeta; se a França, e a Inglaterra têm tido a sua hora proeminente nos tempos que assinalam as etapas evo- lutivas do mundo, o Brasil terá também o seu grande momento, no relógio que marca os dias da evolução da Humanidade.

Se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões ma- terializadas e transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do Espírito, representando a fonte de um pensamento novo, sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os cam- pos das atividades humanas com uma nova luz. Eis, em síntese, o porquê da nossa atuação nesse sentido. O nosso irmão encontra mais facilidade para vazar o seu pensamento em soledade2 com o médium, como se ainda se encontrasse no seu escritório solitário; daí a razão pela qual as páginas em apreço foram produzidas de molde a se aproveitarem as oportunidades do momento. Peçamos a Deus que inspire os homens públicos, atualmente no leme da Pátria do Cruzeiro, e que, nesta hora amarga em que se verifica a inversão de quase todos os valores morais, no seio das oficinas humanas, saibam eles colocar muito alto a magnitude dos seus precípuos deveres. E a vós, meus filhos, que Deus vos fortaleça e abençoe, sustentando-vos nas lutas depuradoras da vida material.

(1)N.E.: Alexander von Humboldt (1769–1859) foi um geógrafo, historiador, naturalista e explorador alemão.

(2) N.E.: em soledade significa a sós.

Emmanuel

Esclarecendo

Todos os estudiosos que percorreram o Brasil, estudando alguns detalhes dos seus 8 milhões e meio de quilômetros quadrados, se apaixonaram pela riqueza das suas possibilidades infinitas. Eminentes geólogos definiram-lhe os tesouros do solo, e naturalistas ilustres lhe classificaram a fauna e a flora, maravilhados ante as suas prodigiosas surpresas. Nas paisagens suntuosas e inéditas, onde o calor suave dos trópicos alimenta e perfuma todas as coisas, há sempre um traço de beleza e de originalidade empolgando o espírito do viajor sedento de emoções.

Mas, se numerosos pensadores e artistas notáveis lhe traduziram a grandiosidade de mundo novo, contando “lá fora” as inesgotáveis reservas do gigante da América, todo esse espírito analítico não passou da esfera superficial das apreciações, porque não viram o Brasil espiritual, o Brasil evangélico, em cujas estra- das, cheias de esperança, luta, sonha e trabalha o povo fraternal e generoso, cuja alma é a flor amorosa de três raças tristes, na expressão harmoniosa de um dos seus poetas mais eminentes.

Nessa abençoada tarefa de espiritualização, o Brasil caminha na vanguarda. O material a empregar nesse serviço não vem das fontes de produção originariamente terrena, e sim do plano invisível, onde se elaboram todos os ascendentes construtores da Pátria do Evangelho.

— Brasileiros, ensarilhemos, para sempre, as armas homicidas das revoluções!… Consideremos o valor espiritual do nosso grande destino! Engrandeçamos a pátria no cumprimento do dever pela ordem, e traduzamos a nossa dedicação mediante o tra- balho honesto pela sua grandeza! Consideremos, acima de tudo, que todas as suas realizações hão de merecer a luminosa sanção de Jesus, antes de se fixarem nos bastidores do poder transitório e precário dos homens! Nos dias de provação, como nas horas de venturas, estejamos irmanados numa doce aliança de fraternidade e paz indestrutível, dentro da qual deveremos esperar as claridades do futuro. Não nos compete estacionar, em nenhuma circunstância, e sim marchar, sempre, com a educação e com a fé realizadora, ao encontro do Brasil, na sua admirável espirituali- dade e na sua grandeza imperecível!

N.E.: ensarilhar significa por à parte, depositar, deixar, acabar a guerra.

Francisco Cândido Xavier – Humberto de Campos

Humberto de Campos