“O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja”. Foi citando o poema “Versos íntimos”, de Augusto dos Anjos, que o presidente do Goiás, Syd de Oliveira, iniciou o pronunciamento em que reforçou a permanência no comando do time esmeraldino.



Syd decidiu botar a boca no microfone depois da semana conturbada que o clube viveu, após a repercussão da reunião do Conselho Deliberativo no último dia 17. “Agora eu quero dar uma versão dos fatos, versão essa que brota do mais puro do meu ser, e que retrata a fonte cristalina da verdade”, anunciou ela, ainda poeticamente inspirado.

Desunião

Segundo o presidente, ele foi candidato à presidência encabeçando uma chapa que pretendia unir os dois grupos políticos presentes no clube. Sem citar nomes, Syd disse que a intenção não se concretizou, e o ambiente no time é de desunião, e de embate de interesses.

“Não sabíamos, no entanto, a extensão dessas confusões e nem que a ética havia sido afugentada do meio”, declarou. O presidente se auto-intitula como um “bastião de resistência” no time, e que as acusações que recebe são, em sua maioria, por tentar administrar honestamente o clube.

“Segundo o lema que a defesa melhor é o ataque, nos rotulam de conduzir uma administração aloprada, e como honestidade, pelo que estamos vendo, é coisa rara nos tempos atuais, nossas ações e intenções podem parecer loucura, uma coisa realmente aloprada”, comentou.

Herança ruim

Mantendo o tom de críticas às gestões anteriores, Syd de Oliveira responsabilizou a atual crise financeira do time às administrações que o antecederam. Ele citou exemplos, como o contrato com a Luppi, o uso do dinheiro conseguido com a venda do atacante Welliton, e o dinheiro recebido pelo adiantamento do contrato com o Clube dos 13 referente ao ano de 2011.

“Será que quem assina um contrato tão prejudicial ao Goiás, como o da Luppi, pode criticar a nossa administração?”, questionou. “Ainda está nebulosa o destino dos 20 milhões do Welliton e adiantamento do Clube dos 13, feito a administração que nos precedeu. Dela recebemos uma herança maldita. Dívidas, folhas de pagamento inchada e atrasadas, bichos, prêmios, e luvas também atrasadas”, acusou.

Problemas com Conselho Deliberativo

O presidente do Conselho Deliberativo do Goiás, Hailé Pinheiro, foi o principal alvo das acusações do comandante alvi-verde. Sempre se dirigindo a Hailé pelo cargo, e não pelo nome, Syd declarou que o presidente do Conselho tem amplos poderes sobre o grupo.

“Como o Conselho Deliberativo não tem regimento interno, a condução dos trabalhos é autoritária. Somente falam os que são favoráveis aos projetos, e pensamentos da presidência do Conselho”, atacou.

O impedimento da negociação do zagueiro Rafael Tolói para o futebol italiano pelo Conselho Deliberativo foi visto pelo presidente esmeraldino como mais uma forma de prejudicar a administração. “O bom senso nos faz acreditar que essa decisão foi uma forma de boicote direto à atual administração”, declarou.

Segundo Syd, a venda do jogador ajudaria na saúde financeira do time, e poderia, inclusive, dar condições de novas contratações para a equipe. O valor que seria repassado ao Goiás, pelos 50% que o clube detém sobre os direitos do jogador, seria de 3,5 milhões de euros.

“Se o presidente do Conselho Deliberativo renunciar, eu vou pensar na minha renúncia”

Com tudo isso exposto, Syd de Oliveira concluiu o pronunciamento reforçando que não cederá as pressões, e continua na presidência. Segundo o mandatário, o pedido para que renunciasse seria para que, em caso de queda para a Série B, ele fosse apontado como principal culpado por toda a situação.

“A situação do Goiás no Campeonato Brasileiro hoje é o resultado da desunião provocada pelos que colocam interesses pessoais acima do amor ao clube”, afirmou.

“Temos a esperança de que haverá resistência dos bem intencionados, no fortalecimento da ética, da moral, e da verdade no ambiente esmeraldino. É por isso que mantemos firme a nossa posição de dirigente acreditando acima de tudo, na grandeza do Goiás”, finalizou.

Na entrevista coletiva realizada após o pronunciamento, disse que só renunciaria ao cargo com uma condição, a renúncia de Hailé Pinheiro. “Existe uma condição atual em que eu possa renunciar. Eu estou sabendo que os dois vice-presidentes (Alexandre Iúnes e Sebastião Macalé) renunciaram. Se o presidente do Conselho Deliberativo (Hailé Pinheiro) também renunciar, eu vou pensar na minha renúncia”, declarou.