Com os ânimos redobrados, o ex-prefeito Iris Rezende vem reassumindo paulatinamente o seu tradicional papel de líder do PMDB. Nas duas últimas semanas, tem atuado fortemente para arregimentar novos filiados e vem intervindo efetivamente nos rumos da legenda visando as eleições de 2012. Na sexta-feira, 30, por exemplo, ao lado do mais novo colega de partido Vanderlan Cardoso abonou fichas de filiação, na Assembleia Legislativa.
Sob sua orientação, vereadores da sigla conclamaram a dissolução do diretório municipal de Goiânia, de olho na manutenção da bem-sucedida aliança que o levou ao Paço em 2004. O projeto, que, segundo a tese irista, deve desembocar no apoio recíproco em 2014, tem por objetivo levar Paulo Garcia à reeleição com o apoio peemedebista.
Em entrevista à Tribuna, concedida na segunda-feira, 26, durante homenagem em uma faculdade da capital, Iris Rezende analisa o momento político em Goiás, indica os rumos que seu partido deve tomar para o pleito do ano que vem, avalia a administração do prefeito Paulo Garcia – que, segundo ele, tem feito “um excelente trabalho” – e responde às cobranças dos correligionários, que defendem candidatura própria – para ele, “um posicionamento natural dos colegas”.
Todavia, não poupa os ex-peemedebistas que trocaram a legenda recentemente pelo PSD. Sobre o argumento da falta de espaço propalada pelo deputado Francisco Vale Jr. – cuja saída Iris diz ter encarado com “muita tristeza e decepção” -, é categórico: “Espaço? Num espaço pequeno de tempo, sem representatividade política nenhuma, ele se tornou secretário da mais importante pasta da prefeitura da capital do Estado. E por isso, depois se elegeu vereador, presidente da Câmara e, finalmente, deputado estadual”. “De qual espaço ele fala?”, desabafa, em tom de indignação.
Como é que está o debate sobre o diretório municipal, o partido tentando se organizar para as eleições de 2014. Como o sr. vê esse processo?
Iris Rezende – Vejo como um fato absolutamente normal na política. No momento em que o partido participou com candidato próprio numa eleição estadual, o normal é que sobressaia o comportamento de todos aqueles que tinham sobre os ombros a responsabilidade de condução do partido. O diretório estadual está hoje sob o assessoramento dos deputados estaduais e vereadores, que têm procurado fazer os ajustes necessários. No caso do diretório de Goiânia, nós sentimos que ele ficou absolutamente diferente, equidistante quanto ao comportamento daqueles que não foram leais ao partido na ocasião das eleições. Pelo contrário. O diretório metropolitano se colocou como um defensor desses elementos, o que levou o diretório estadual, as bancadas na Câmara de Vereadores e deputados estaduais eleitos por Goiânia a tomarem aquela iniciativa, representando junto ao diretório estadual o pedido de intervenção no município. Naturalmente, mas informalmente, fui ouvido e achei que eles tinham absoluta razão.
Tem algumas lideranças, como o deputado Bruno Peixoto, que defende a candidatura própria do partido, que cobra um maior diálogo com o presidente antes dessa ação. Como o sr. vê isso?
Num partido da dimensão do PMDB, isso é natural, e até seria estranho se não houvesse essa pluralidade de posições e ideias. Agora, entendo que no momento oportuno, o partido saberá assumir a posição e melhor se apresentar sobre os destinos de Goiânia. Não tenho dúvida disso. Agora, defendemos a nível federal há muito tempo a candidatura própria. Eu mesmo. Nós de Goiás, três senadores, deputados federais, entregamos ao governo federal todos os cargos preenchidos por indicações de Goiás porque naquele momento o diretório de Goiás assumiu uma posição de apoio à candidatura de Maguito Vilela a presidência nacional do partido, justamente para defender a candidatura própria, uma vez que a outra chapa estava já comprometida com José Serra para Presidência da República, na época. Então, isso é natural. Depois apoiamos outros candidatos porque sentíamos que o partido, naquela oportunidade, não tinha condição de concorrer à presidência, não tinha nome para aquele embate.
Em relação a Goiânia, o sr. acha que é hora do partido apoiar o nome do prefeito Paulo Garcia (PT)?
Bem, eu tenho a minha posição. Hoje, entendo que seria a melhor saída para o partido. Mas estamos a mais de um ano das eleições – elas serão, salvo engano, no dia 7 de outubro de 2012. Então, temos pouco mais de um ano. Logo, há tempo para se discutir. E não é esta a discussão que deve se travar agora. O que deve-se fazer agora é buscar aqueles que têm demonstrado fidelidade ao partido, as suas decisões e preparar o projeto o mais consequente possível, para as próximas eleições.
O que se coloca é que apoiar o Paulo Garcia é uma tese fechada. Então, ela está aberta ainda?
É uma tese que se defende. Eu me integro a ela. Mas [a decisão] só será tomada no momento da convenção.
Como o sr. tem visto o trabalho do prefeito, que tem sofrido denúncias e críticas até mesmo por aliados?
Considero o trabalho de Paulo Garcia excelente. Francamente, não tem reparos. Todos os nossos projetos já encaminhados, já em estudo, ele deu sequência em todos eles. Ele tem trabalhado com muita responsabilidade. Agora, estou acostumado com política. Quando chega em véspera de eleição, começam a colocar defeito naqueles que estão com o poder na mão. Se não tem, os adversários põem. Esta questão do Mutirama, foi tudo feito às claras. Se houve erro, foi justamente no edital, permitindo propostas para uma montanha-russa usada, porque alegavam na época que aqui no Brasil não se fabricava e importar seria um processo demorado, de encomenda, para fabricar, ou seja, levaria algum tempo.
Como o sr. avalia o atual momento do governo estadual?
Me nego a fazer uma avaliação do governo ao qual concorri e perdi, decorridos aí apenas oito meses. Afirmei isso no início da administração, tenho falado que vou deixar para fazer esta avaliação um pouco mais à frente. Até pela minha situação minha. Uma parte da população poderia considerar suspeita qualquer juízo de valor nesse momento, até porque não tive sucesso concorrendo com o atual governador.
O tema da campanha de 2004 foi o asfalto. O sr. Prometeu asfalto e fez asfalto. Qual será o tema da próxima campanha?
Nós assumimos aquele compromisso de asfaltar todas as ruas habitadas e cumprimos. Depois, o prefeito Paulo Garcia já está asfaltando outros 30 e tantos bairros que surgiram de lá para cá, principalmente com este volume de recursos alocados junto ao governo federal, do programa Minha Casa, Minha Vida. Então, no decorrer da minha administração, não havia mais bairros a serem asfaltados. Hoje, já tem. Temos questões como o transporte, que está complicada. Temos outras questões, que não são da administração municipal, mas a prefeitura precisa estar sempre preocupada, como saneamento básico, água e esgoto. Questão de segurança pública, a prefeitura consolidou com muito esforço a sua Guarda Municipal, mas estamos ainda com dificuldade de conseguir uma autorização legal para colocar na mão dos nossos policiais uma arma de fogo. O que posso dizer é que todos estes problemas que Goiânia convive, o prefeito Paulo Garcia tem dado uma demonstração de consciência, preocupação, espírito público, de zelo da coisa pública. Agora, posso dizer que Goiânia, em comparação com outras cidades do país, é privilegiada. Não convive com tantos problemas e tantos defeitos que convivem outras capitais brasileiras.
E em relação a Vanderlan Cardoso, ele integrou o partido, tem viajado pelo interior. Algumas lideranças defendem que ele tome as rédeas e venha a ser o presidente do partido. Qual é a visão do sr. a respeito disso?
Não se discute se ele virá ou não a assumir a chefia do partido. Até porque quem pensa em se apresentar como candidato, e é o que nós pensamos e o Vanderlan também, não deve tomar liderança de partido. Porque isso acaba contrariando essa ou aquela ala. Todo problema que o partido venha a ter em uma determinada cidade, exigirá uma tomada de posição, que, por consequência, implica em ser a favor ou contra determinado grupo. Então, isso não existe. O próprio Vanderlan – e tentaram colocar isso na cabeça dele – não pensa nisso. Acho que ele está dando seus primeiros passos com muita competência, percorrendo o Estado, contatando lideranças. E penso que esse projeto, que nós temos alimentado, tem sido conduzido com competência.
Ele é o melhor quadro do PMDB para 2014?
Sim, hoje, o nome de Vanderlan Cardoso é o melhor.
Como o sr vê o retorno de Sandro Mabel para o PMDB?
Com alegria. Dizem que o bom filho à casa retorna,não é? Tenho admiração pelo deputado. Ele começou conosco. Alguns vão sentindo que o espaço realmente apropriado é o PMDB.
Enquanto o PMDB ganha novos quadros, o deputado estadual Francisco Vale Jr. deixou a legenda recentemente. Como o sr. analisa essa saída?
Com muita tristeza e decepção.
Por que decepção?
Porque se o PMDB não era bom, que se canditasse por outro partido. Ele teve ai quantos anos para pensar nisso? Não viesse agora, eleito, com uma vitória bonita, trocar de partido como troca de camisa! O povo não gosta desse tipo de lideranças. Se o partido vale muito pouco, o que vale o eleitor para políticos dessa natureza?
Penso que eu gozo de respeitabilidade em Goiás pela minha firmeza no partido. Um dia decidi, entrei no PSD [o antigo PSD, no final da década 1960], aí veio a ditadura, acabou com tudo. O PSD criou o MDB e estou nele até hoje, rindo e chorando. Tem momentos de dissabores, momentos de alegria, mas permaneço aqui, firme! O político precisa ser legítimo, verdadeiro, firme. Ele não pode tratar a política como se fosse um piquenique, uma brincadeira.
O deputado alega falta de espaço.
Não existe alegação. Espaço? Num espaço pequeno de tempo, sem representatividade política nenhuma, ele se tornou secretário da mais importante pasta da prefeitura da capital do Estado. E por isso, depois se elegeu vereador, presidente da Câmara e, finalmente, deputado estadual. E agora ele vem reclamar que o partido não dá espaço? De qual espaço ele fala? O PMDB, em poucos anos, deu a ele muito espaço e muita oportunidade.