Lembranças, recordações, saudades. O tempo passa, mas a história de grandes ídolos do passado do futebol goiano permanece intacta, sempre no aguardo para ser transmitida. Em dia de clássico Vila Nova x Atlético, a RÁDIO 730 e o PORTAL 730 visitaram dois grandes ídolos, dois grandes atacantes que fizeram a alegria das torcidas coloradas e rubro-negras nas décadas de 60 e 70.
De um lado, Guilherme, artilheiro, considerado o maior atacante e um dos maiores ídolos de toda a história vilanovense. Do outro, Jair Porrete, atacante veloz, que dava trabalho aos adversários e era acima de tudo, goleador e decisivo. Ambos deram muitos títulos, muitas alegrias e agora aguardam novos títulos e alegrias, no meio da torcida, empurrando seus clubes de paixão.
Reconhecimento e sonhos
Nascido em 25 de junho de 1948, Guilherme foi um dos melhores jogadores que já vestiram a camisa colorada. Foi campeão com o Vila nada mais, nada menos, do que 14 vezes, e por isso é tão querido por toda a velha guarda colorada em todo local que passa. Morador da região Central de Goiânia desde que chegou ao Vila, o ex-atacante recebeu a reportagem da RÁDIO 730 para descrever momentos marcantes, comentar sobre o momento complicado que o Vila vive e revelar um sonho para ele e muitos jovens atletas que estão começando no clube.
“Meu sonho é mexer com escolinha no Vila Nova, porque eu quero passar o que eu já fiz, não é possível que eu já esqueci tudo que já fiz no Vila. Mostrar para os meninos de onde que eu saí até onde eu cheguei no Vila. Isso eu não li, nem escutei, isso eu vivi, eu tive lá dentro, eu gostaria de falar isso para os garotos. Ainda não (foi convidado), estou esperando o pessoal do Vila abrir as portas para mim, e eu espero que sejam abertas pelo presidente. É um sonho meu”
Natural de São Geraldo (MG), Guilherme se mostra um colorado de coração, como se tivesse nascido no alto do Setor Universitário, dentro do Vila Nova. O ex-jogador enche a boca para elogiar a torcida vilanovense e a considera a maior de todo o Centro-Oeste, perdendo apenas para grandes equipes do futebol nacional, como Corinthians e Flamengo. Dentro do Estado, é superior a qualquer uma. Questionado sobre o melhor momento no Vila, Guilherme elege uma partida inesquecível para ele no Estádio Olímpico.
“Uma das partidas que ficou foi em 1970, Vila Nova e Botafogo-RJ, com treinador e jogadores tudo da Seleção que havia acabado de ser campeã do mundo e nesse dia eu fiz três gols no Estádio Olímpico. Foi 3 a 3, o estádio cheio, nunca tinha visto tanta gente no Estádio Olímpico. Foi marcante mesmo, a imprensa nacional toda aqui envolvida, foi fora de série. Foi nossa melhor época, o Vila tinha um time muito bom, um timaço de muitas glórias”
Quando lembra do passado, o ex-atacante também enxerga com clareza os aspectos cruciais que o futebol foi perdendo com o passar dos anos. O principal deles? A garra e o amor à camisa, principalmente a do Vila, que sempre prezou pela luta até o fim do jogo. Guilherme explica que o trabalho para conscientização deste fator deveria começar nas categorias de base, com os jovens valores.
“Falta mais raça, a pessoa ter mais dedicação, vestir mesmo a camisa. Eu sou contra os jogadores ficarem mudando de time, tem que vestir a camisa mesmo, igual a mim, que joguei no Vila, sou vilanovense até hoje, gosto das cores vermelho e branco, isso é muito importante. Tem que mostrar para os meninos que estão começando agora, mostrar o peso dessa camisa, o que é vestir esse manto”
Histórias que deixam saudade
O torcedor atleticano, na década de 60, das muitas vezes que deixava o estádio feliz e ia para casa satisfeito por um bom resultado, era devido a Jair Porrete. Mais do que artilheiro, Jair era um jogador veloz, que incomodava os zagueiros, do estilo que levantava a torcida a cada toque de bola. Inclusive, vem daí a explicação para o apelido ganhado assim que chegou a capital do Estado.
“Foi justamente quando eu jogava no Atlético. Eu era um jogador veloz, inclusive me lembro que o treinador colocava todos os jogadores na linha do gol e ficava no outro gol. Ele apitava, a gente corria e eu fazia 100m em 11s. Os beques me caçavam demais, daí os torcedores, a própria imprensa dizia: ‘Nossa, mas o Jair toma muita pancada, muita porretada’. Daí, passaram a me chama de Jair Porrete e o negócio pegou.”
Jair conta, de forma inusitada, que uma das situações mais cruéis pela qual passou foi ter sido três vezes vice-artilheiro do Campeonato Goiano, todas elas por um gol de diferença para o artilheiro: em 63, 64 e 65. Trazido por Antônio Accioly de Minas Gerais, depois de uma grande partida na cidade de Sete Lagoas, o ex-jogador conta que chegou ao Atlético em um momento de escassez de vitórias rubro-negras sobre o Vila.
“Quando eu cheguei em Goiás havia um tabu de quatro anos que o Atlético não ganhava do Vila, inclusive nos dois jogos da minha estreia, eu perdi para o Vila Nova. Nós ganhamos do Vila em 1964, quando fomos campeões goiano. Ganhamos do Vila o primeiro jogo de 1 a 0, gol do Amestrado, e ganhamos também no 2° turno de 3 a 1, quando eu fiz um gol e o Luisinho fez dois”
Sempre presente nos estádio acompanhando o Atlético, Jair temeu pelo fim do clube na queda brusca que o clube sofreu na década passada, mas se alegra ao ver onde o Dragão conseguiu chegar atualmente. Comparando a época em que jogou com a atual, Jair Porrete acredita que houve evolução em todos os aspectos, mas algumas coisas precisavam ser resgatadas. Entre elas, o amor a camisa.
“O problema é que o futebol mudou. Até os anos 70, o futebol era uma especialidade diferente, hoje até os esquemas táticos mudaram. Eu acredito que agora só tende a crescer e evoluir, sem retrocesso. Na época que nós jogávamos, era outro esquema tático, e agora o futebol vai evoluindo. Naquela época, a gente jogava mais por amor a camisa, hoje a gente não vê mais isso, os salários são totalmente diferentes”