Só cachaceiro que quer ser assassino é contra o delegado Waldir

Nilson Gomes

O delegado e político Waldir Soares (hoje perseguido por delegados e políticos) deixou a Delegacia de Trânsito porque é contra bêbado dirigir. Compará-lo a Tiririca não tem graça. Demiti-lo é prenúncio de desgraça. O que Waldir fez de errado aos olhos de seus chefes foi exigir o certo – que para dirigir carro o motorista esteja sóbrio.

Para o defensor de quem mata ao volante, o que interessa é a impunidade. Para a família da vítima, o que interessa é que seu parente está morto. Autoridades frouxas tratam os assassinos do trânsito como “envolvidos em acidente”. Waldir trata assassino como assassino. Para ele, o cachaceiro que mata com o carro é assassino igual a quem mata com revólver.

É preferível Waldir empunhando a Lei Seca que a turma da mão molhada. Ótimo para Goiás que haja um delegado, ao menos um, que peita o governo, mesmo sendo do partido do governador. Tem apelo midiático, mas chega à mídia com serviço para mostrar. Está na imprensa não como protagonista de escândalos, mas com resultado para apresentar. Que bom
que Waldir concede entrevista e emposta a voz, enquanto outros são porta-vozes do banditismo. Waldir protege as pessoas de bem, muitas delas vítimas da desonestidade que ele combate. Às vezes, o sujeito cometeu o único erro de beber e dirigir, mas dirigiu bêbado e matou uma família inteira (às vezes, a própria família).

A exposição concedida pela imprensa a Waldir é inversamente proporcional ao ostracismo pretendido pelos que o colocam no corredor. Chocolate com licor e higiene bucal são perceptíveis ao guarda e diferentes do uísque e da cachaça. Portanto, os goianos que correm
risco com delegado honesto e dentro da lei são somente os foras-da-lei. Ainda que tenham virado marginais pelo tempo exato em que dirigiam embriagados.

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Waldir Soares, o Tiririca com licença para matar, vai tarde

Diogo Luz

O delegado e político Waldir Soares (hoje muito mais o segundo do que o primeiro) deixou a Delegacia de Investigação de Crimes de Trânsito (Dict). Assim que foi avisado do recolhimento, Waldir deu entrevista à Rádio 730 e disparou contra o governo do estado. Alegou que foi destituído porque teceu críticas ao Detran, responsável pela organização da Balada Responsável, e que foi preterido pelo governador Marconi Perillo, com quem caminhou na eleição de 2010.

Waldir é quarto suplente na fila para a Câmara dos Deputados. Obteve 40,4 mil votos depois de virar hit no YouTube com a sua propaganda eleitoral em que aparece disparando com os dedos contra alvos em forma de patinhos e até mesmo gatos enquanto apresenta a plataforma e o slogan de campanha (45 do calibre, 00 da algema para o criminoso). Uma espécie de Tiririca com licença para matar. Chegou a assumir o cargo, mas logo depois voltou para a Secretaria de Segurança Pública.

Encostado numa delegacia sem apelo midiático, dispensado do programa Balada Responsável sob a alegação de que o objetivo da campanha era educar – apenas uma meia verdade, já que a arrecadação também vai muito bem, obrigado –, voltou aos holofotes com a nova Lei Seca, que passou a mandar para o xadrez quem ingere mais do que o limite tolerado. Waldir acostumou-se a conceder entrevistas, sempre empostando a voz e às custas de pessoas, muitas vezes de bem, que cometeram um único erro: beber e dirigir – ainda que ninguém tenha se acidentado. Uma exposição, no mínimo, desnecessária, mas que poderia garantir uma vaga efetiva na Câmara na eleição de 2014.

Se os motivos que levaram Waldir a sair da Dict foram políticos, nada seria mais natural, uma vez que ele transformou o próprio cargo num palanque eleitoral. De toda forma, a decisão foi acertada: os goianos estariam em risco com o delegado Waldir (45 do calibre, 00 da algema) a perseguir motoristas que excederam na higiene bucal ou que tem predileção para chocolates com licor.