A cidade fala a língua do “pê” e o fato é que a prefeitura permite as patifarias. Pode poluir que o poder público não impede. Pode corromper que os patifes pretendem é propina. Pode passar a perna nas pessoas que o perfil imposto na equipe é para isso mesmo. O primeiro escalão foi pensado com o propósito de transformar a arrogância em decreto e a prepotência em resumo da Lei Orgânica. Os secretários que destoam desse contorno parecem patinhos feios. Os bons que nos perdoem, mas a incompetência e a soberba são fundamentais.
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Transportada para a prática das políticas públicas, a tirania se traduz nas multas. Infrator deve mesmo ser castigado e a sanção pecuniária, quer dizer, o pagamento em dinheiro, é uma forma eficiente de punir. No trânsito de Goiânia, a multa não é uma forma, a multa é a única forma, a única fórmula. É preciso chegar um feriadão como o da Semana Santa para o goianiense ter alguma tranquilidade ao dirigir.
Transparência na prefeitura não existe nem nas janelas de vidro, quanto mais na aplicação das quantias arrecadadas com as multas. O primeiro item da pauta deveria ser a conscientização, palavra cara ao partido do prefeito e rara no mandato. Nos corredores recém-demarcados para tirar os carros das faixas dos ônibus, o motorista fica tonto só de olhar tanta placa. É impossível decidir o que fazer nos poucos segundos entre pretender virar na esquina e ser multado. A vítima não é comunicada sobre o momento em que está autorizada a seguir seu destino sem robustecer os cofres da Secretaria de Trânsito. Conversão segura? Apenas levantando a mão na igreja.
Para a prefeitura, é mais cômodo captar no bolso do motorista o dinheiro da multa. Muito melhor do que informar, instruir, avisar. A decisão é de tal maneira abrangente que está em vigor para todos os departamentos do Município. No meio ambiente, por exemplo, a opção pela multa chegou ao paroxismo, virou operação policial e de promotores. O caso dos postos de combustível resume as ações: a prefeitura multa o agressor da Natureza e o mantém no local do crime.
No idioma do “pê”, por que preparar o pobre-diabo para fazer o certo se permanecer no erro proporciona portentoso pagamento à prefeitura? Isso é podre, mas é poder. É poder, mas é podre.