Fica a dica!  Como o próprio nome já diz, é nosso espaço para sugestões. Vamos garimpar dicas de filmes, livros, discos, locais e qualquer outra coisa que consideramos importante para você, nosso ouvinte. A dica de hoje é o filme o Abismo Prateado, uma versão da música Olhos nos Olhos de Chico Buarque para o cinema.


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O abismo prateado

Cinema e música. Uma boa combinação como esta só pode resultar em uma boa produção cinematográfica. Imagine uma versão da música Olhos nos Olhos de Chico Buarque para os cinemas. Este é o resultado do filme O Abismo Prateado, do diretor Karim Aïnouz, que também assina os filmes O Céu de Suely e Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo.

Selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2011, o longa-metragem conta a história de Violeta, interpretada por Alessandra Negrini, uma dentista de 40 anos, casada e com um filho adolescente, que está pronta para começar mais um dia em sua rotina, entre seu consultório, a academia e um novo apartamento em Copacabana.

Ela parece ter uma vida dos sonhos, até que recebe um recado no celular, o que muda drasticamente seu cotidiano, fazendo com que ela passe por uma dolorosa experiência, durante a qual busca entender a situação, andando pelas ruas do Rio de Janeiro.

Um belo filme com uma atuação impecável de Alessandra, que dá força para a personagem Violeta. Ele esteve em 2011 em Goiânia no FestCine. Agora ele volta para as telas de Goiás no Cine Cultura, a partir de sexta-feira. No filme, talvez o som seja o elemento primordial para as cenas. O uso do som é quase sempre bastante inspirado. Em um momento o ruído de uma broca impede que entendamos o que a protagonista está dizendo. Em outro, a toada de um funk que toca na rua permite que surpreendamos apenas uma ou outra palavra que ela grita para o marido ao telefone em um dos momentos mais importantes da história.

Mas talvez o ponto mais acertado do filme seja mesmo a forma como mostra a autodestruição causada por um evento como esse. Em um melancólico quarto de motel, Violeta escuta repetidamente as últimas palavras do marido em seu celular, “eu não te amo”, uma frase que tem mais de maldade quanto mais é repetida, transformando o prazer sádico do marido, Djalma, ao dizê-la.

O longa parte para a simplicidade e pobreza dos novos personagens para comover o público e tornar menos pesado o fardo da protagonista. A última parte do filme funciona como uma espécie de comédia romântica sem romantismo ou humor.

No final do filme, um dos personagens, no aeroporto do Rio de Janeiro, canta a música Olhos nos Olhos, já próximo dos letreiros finais. Tudo termina em uma espécie de feel-good movie e a última frase de Chico ressoa como uma grande ironia: Quero ver como suporta me ver tão feliz. Para Aïnouz, este era um filme em que, “por não ter muita história, destramado”, a canção, e o tom, era crucial para conduzir a narrativa.

Após longas premiados como “Madame Satã” e “O Céu de Sueli”, o diretor conta que desta vez quis fazer um cinema que não fosse tão calcado em momentos de ação e roteiro. Talvez seja o seu filme mais irregular, em que a mise-en-scène está muito mais próxima da pulsação da Violeta que de um preciosismo de enquadramentos. Este é um filme de sensações.