A cidade ficou chocada com um cemitério de prováveis vítimas de grupo de extermínio e o fato está longe de encerrar o capítulo do descrédito. Enquanto as famílias choram seus mortos, o corporativismo enterra jovens que a polícia considera suspeitos. Os que escapam, ficam amedrontados pelo resto da vida. Uma vida em retalhos, porque quem sofre na mão da polícia nunca mais é o mesmo. A referência aqui não é a todos os policiais, apenas àqueles que desonram a confiança neles depositada pela sociedade que lhe paga os salários, a aposentadoria, as armas, os equipamentos, enfim, banca a proteção que não recebe.

Os cadáveres descobertos em Goianira, na região metropolitana de Goiânia, são muito mais que montes de ossos. Ali estão os restos mortais de goianos que pagaram impostos, acreditaram no governo, votaram. Eles tinham amores, tinham sonhos, tinham esperança no futuro. Foram reduzidos a objeto de análise da Polícia Científica, outro órgão público sucateado. A Polícia Militar, ainda que não abrigue os autores dos homicídios, falhou ao não garantir a sobrevivência daqueles goianos. A Polícia Civil fez o seu trabalho e trouxe o assombro à luz. Espera-se que as forças de segurança somem mais essas vítimas à lista de assassinatos que elas tanto se esforçam para maquiar.

Não importa se quem matou foi a polícia. Não importa se os cadáveres são de suspeitos de crimes. O que importa é apurar a autoria, o que as autoridades fazem com muita incompetência. Em Goiás há atualmente 9 mil homicídios sem pena e mais 3 mil sem sequer autor, apenas os cometidos no melhor governo da vida dos goianos. Aliás, está se tornando o governo da morte dos goianos. Nunca tantos goianos foram assassinados. Nunca a polícia matou tanto. Nunca tantos inocentes morreram em paredões. Nunca tantos inocentes clamaram por estarem presos sem provas, sem julgamento, sem as garantias constitucionais.

Assim, a esperança de este ser o melhor governo da vida dos goianos está enterrada em covas rasas no cemitério da boa-fé.