A cidade tem um monstrengo chamado Palácio Pedro Ludovico Teixeira, o Papelute, e o fato é que o dono do nome deve estar se revirando no túmulo. Pedro Ludovico não merece ter a sua memória tão vilipendiada, pois no prédio que leva seu nome só ocorre coisa que ele repudiaria. O Papelute deveria ter sido demolido há muitos anos e dois governadores tiveram essa coragem, Maguito Vilela e Marconi Perillo. O primeiro não teve a oportunidade de botar o bruto abaixo, o segundo teve a chance, mas não levou adiante a ideia.

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O Papelute é uma excrescência na Praça Cívica Pedro Ludovico Teixeira. Não combina com a arquitetura, não combina com o urbanismo, não combina com nada. Enquanto se chamava simplesmente Centro Administrativo, o palácio não envergonhava tanto o fundador de Goiânia. Agora, a praça e o Papelute são motivos de ignomínia. O Papelute é um mocó de aspones. Em frente à entrada do palácio existe uma cracolândia. Começou tímida e já chega a abrigar 20 moradores de rua.

Agora, com as chuvas, rapazes e moças que vivem na calçada estão com um problema: quando começa a chover, eles correm para o bar ao lado. São vistos com péssimos olhos e correm para a marquise do Papelute. Ali, os olhares são de esguelha. Os esquálidos seres que se sentem estranhos no ninho dos engravatados sabem que a culpa de eles viverem em situação de mendicância é do pessoal daquele prédio, do Papelute.

Do Papelute sai a chuva de dinheiro para obras inúteis, como os 2 milhões e 500 mil reais dados para o Goiás sediar um treino da Seleção Brasileira.

No Papelute dão expediente o secretário que chamou todos os seus colegas de “bandidos” e o governador que identificou bandidos na oposição.

E, no fim, só são tratados como bandidos os coitados que dormem na calçada. É do sofrimento deles e de sua família que sai o dinheiro para pagar as obras inúteis e sustentar os bandidos, os do governo e os da oposição.