A cidade se apavora e o fato é monstruoso. Gestores das forças de segurança culpam as manifestações. Quinta-feira passada, eles colocaram oficialmente 4 mil policiais para cuidar das multidões. Extraoficialmente, fala-se até no dobro, o que é quase impossível, porque Goiás nunca juntou 8 mil policiais em época alguma, em lugar algum, por motivo nenhum. Havia o risco, mesmo mínimo, de algum vândalo tentar invadir os palácios ou o Tribunal de Contas do Estado. Mas os protestos foram pacíficos, com exceção dos criminosos logo repudiados e isolados pela multidão.

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As forças policiais atribuem culpa aos manifestantes, mesmo aos de paz. A desculpa é que o efetivo responsável por patrulhar as ruas evitando a ação de bandidos está acompanhando as multidões. Tentemos entender a matemática do governo. Ele emprega 200 policiais no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, outros tantos na Assembleia e nos tribunais, além de prefeituras e gabinetes de parlamentares. Mantém a arcaica estrutura de soldado ser motorista de todo mundo, cabo ser segurança de comandante e tenente ser estafeta de oficiais superiores. Com esse tanto de policiais desviados de função, é surpreendente que alguém no palácio ainda tenha coragem de culpar as manifestações.

Outro mito insistente é o de que Goiás deveria ter 30 mil policiais, pois assim, de uma hora para outra, os criminosos virariam honestos ou presidiários. Tudo conversa fiada. O Estado usa mal os militares e civis, não lhes dá equipamentos suficientes, a começar dos carros, pois alugou veículos que não assustam nem ladrão de galinha. Se todos os 20 mil servidores da Secretaria de Segurança Pública estivessem na atividade-fim de proteger o povo, e cada integrante recebesse carro, combustível, armamento e outros acessórios, a criminalidade cairia. Claro, tudo escudado numa Polícia Técnico-Científica com material de ponta. Mas é exatamente o contrário. O governo emprega métodos da época do tacape. Em vez de unir as duas polícias, partiu em três. Agora, quer dividir a secretaria em duas. Enfim, o governo quer acabar com a violência criando cargo na burocracia.

Enquanto isso, há lojas assaltadas 20 vezes. A intranquilidade é total. Os homicídios se multiplicam e há 12 mil assassinatos não resolvidos, 9 mil deles aguardando a lentidão do Judiciário e os que dão mídia atropelam a fila. Por essas e muitas outras, a descrença do povo nas forças de segurança se tornou um dos motivos das manifestações.