O diretor-geral da Polícia Civil de Goiás, João Carlos Gorski, participou nesta quarta-feira (3) de uma oitiva na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga uma suposta rede ilegal de grampos telefônicos e invasão de dados de autoridades públicas. Ele foi o primeiro convidado a comparecer à CPI. A comissão foi criada em maio deste ano e volta a se reunir em agosto, após o recesso parlamentar.
Gorski informou que antes da divulgação da suposta rede ilegal de grampos, a polícia de Goiás já sabia da existência de indícios sobre interceptação de dados de autoridades goianas. Ele revelou que o jornalista Chico Góes, de O Globo, encaminhou e-mail ao secretário de Segurança Pública, Joaquim Mesquita, para denunciar o esquema. O secretário determinou então a instauração de inquérito policial. João Carlos Gorski disse que o inquérito está em andamento e encaminhou um relato e alguns documentos iniciais para a CPI dos Grampos.
Durante a reunião, foi feita também a apreciação do requerimento apresentado pelo deputado Karlos Cabral (PT), que convida os representantes legais do Twitter no Brasil para prestar esclarecimentos. O deputado Talles Barreto (PTB), que preside a CPI, informou que a Procuradoria da Assembleia Legislativa relatou que havia dificuldades, com pontos discutíveis, em relação ao requerimento apresentado pelo deputado Karlos Cabral e pediu suspensão do requerimento. A sugestão foi aprovada pelos membros da CPI.
De acordo com ele, existiam dois pontos indicados pela Procuradoria. “O primeiro é que não deveria ser requerimento, mas convite aos representantes legais do Twitter. Em segundo lugar, trata-se de empresa privada, logo, não é autoridade e por isso não pode prestar esclarecimentos”.
O relator da CPI dos Grampos, deputado Marcos Martins (PSDB), indagou a Gorski sobre o andamento das investigações de interceptação de dados, que resultou na matéria veiculada pela revista Carta Capital. Ele questionou se a prática do grampo é comum e se há conivência de servidores públicos ou funcionários de operadoras. O diretor-geral afirmou que a polícia depende de parceria com as operadoras de telefonia e dados para que possa ocorrer interceptação, sempre com respaldo do poder Judiciário. De acordo com ele, a realização de grampos clandestinos ou ilegais se daria por meio da corrupção de funcionários dessas empresas ou policiais.
“Não é fácil identificar os autores dos grampos. É uma investigação complexa, que demanda quebra de sigilos. Há paranoia em razão do medo de grampos, mas é difícil interceptar dados em grande volume. A capacidade de interceptação das polícias e do Ministério Público está na casa de 60 mil, contra 240 milhões de celulares. Também é inviável analisar cada ligação, já que não contamos com inteligência artificial”, afirmou o delegado.
Outra dificuldade para se apurar, segundo Gorski, é a quantidade de perfis falsos nas redes sociais. Segundo ele, é difícil identificar os autores responsáveis pelos ataques às pessoas e aos dados. “A parte mais complexa é identificar os perfis falsos e saber quem os criou. Não é algo simples de se fazer. Muitas vezes, criam contas falsas para atacar pessoas e violar dados e na maioria dos casos buscando informações com o intuito de obter dinheiro através de chantagem”, disse.