O crack faz suas vítimas na cidade e o fato é que não parece haver solução para o problema. Nas ruas, é possível ver o aumento progressivo de pessoas vivendo amontoadas nas calçadas; debaixo dos viadutos, a população de usuários da droga também cresce a cada dia e as pequenas cracolâncias, formadas por adolescentes, mulheres e homens de todas as idades, e até crianças, se espalham por toda a cidade, sem discriminar região.
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Os governos federal, estadual e municipal tentam resolver o problema com politicas públicas de atendimento ao usuário, mas isso não tem surtido efeito. Casas de recuperação e consultório de rua tratam o viciado em crack quando ele já perdeu tudo, inclusive a dignidade, mas a raiz do problema está em uma fase anterior a esse desastre do indivíduo e também da sociedade: são pessoas que estavam marginalizadas antes do surgimento do crack e ninguém nunca as havia notado.
A sociedade passou a notar porque as vítimas do crack não apenas os usuários, mas toda a família, a vizinhança e a população. O viciado nessa droga está disposto a tudo, a roubar e até matar para conseguir saciar o vício. As histórias que envolvem usuários de crack são sempre muito dramáticas: o filho que tentou matar o pai ou matou os avós para roubar o dinheiro, a mulher que vendeu o filho recém-nascido ou o abandonou na rua, a prisão de famílias inteiras – pai, mãe e filhos menores – envolvidas em tráfico de droga. Situação que a população nunca vivenciou e que a deixa assustada e estarrecida.
É preciso, antes de tratar a doença, buscar as causas, que são as mesmas de outros vícios, principalmente do alcoolismo. Até então a sociedade não se preocupou com essas pessoas porque elas não significavam uma ameaça. Morriam à mingua sem incomodar ninguém. Mas o usuário de crack não apenas incomoda, é uma ameaça. A imagem de adolescentes e crianças nos sinaleiros pedindo moeda deixou de ser constrangedora para se tornar um perigo. O motorista fecha o vidro não apenas para ignorar a cena, mas também para se proteger.
Essa realidade não vai ser resolvida com casas de tratamento porque, enquanto um grupo estiver internado, outros estarão surgindo. É preciso prevenir o vício, obstruindo a entrada da droga, identificando e prendendo os verdadeiros traficantes e cuidando dos usuários em potencial antes de terem contato com o crack. Senão, todas essas políticas de combate ao crack não terão efeito algum. Os governos precisam tratar a epidemia de crack com a seriedade que ela merece: uma droga fatal para o usuário e para a sociedade.