A prefeitura de Goiânia tenta conseguir na Câmara a aprovação de um projeto que pretende desafetar áreas públicas do município. Informações dos bastidores mostram que a articulação para evitar uma nova derrota no Legislativo passa pela possível negociação de secretarias com vereadores independentes e a presença de nomes influentes em Brasília acompanhando todo processo. As construtoras de imóveis de luxo também demonstram interesse na votação.

A venda de áreas públicas – em qualquer circunstância – sempre foi polêmica. Nos últimos anos, mais de 100 áreas públicas foram vendidas em Goiânia e uma área em especial, em frente ao Paço Municipal, com mais de 9 mil m², chamou a atenção. A alienação foi realizada em 2008 por menos de R$ 2,7mi, sendo que seu valor de mercado estimado, à época, poderia chegar aos R$ 18 milhões.

A intenção da prefeitura de Goiânia de vender 18 terrenos gera nova polêmica. A decisão da prefeitura veio depois de a Câmara Municipal não aprovar o aumento do IPTU, que acrescentaria aos cofres públicos algo em torno de R$ 90 milhões no próximo ano. Com a desafetação das 18 áreas públicas a prefeitura pretende arrecadar algo entre R$ 250 a R$ 300 milhões.
A comercialização dos terrenos foi aprovada pelo Ministério Público, que será beneficiado com dois lotes a serem alienados, de acordo com o projeto que tramita na Câmara Municipal e tem votação marcada para sábado, 28, às 10 horas. Nos bastidores, boatos dão conta que a aprovação do projeto passa por grandes negociações e alguns fatos ocorridos durante a tramitação da matéria apontam mesmo para algum tipo de acordo entre vereadores, prefeitura e representantes do setor imobiliário.

O primeiro indício de que estaria havendo alguma negociação se deu ainda na Comissão de Constituição e Justiça, que, por duas vezes, não conseguiu quórum para votar o projeto. Faltaram à reunião justamente os vereadores da base do prefeito Paulo Garcia (PT): Edson Vieira (PMN) e Izídio Alves (PMDB). Só na terceira tentativa a matéria foi aprovada com quatro votos contra dois da oposição, representada pelos vereadores Geovani Antônio (PSDB) e Pedro Azulão Jr. (PSB). Logo depois, Pedro Azulão se ausentou da sessão plenária em que o projeto seria colocado em votação.

Também veio dos bastidores outro sinal suspeito na votação do projeto. Um vereador da base afirmou à imprensa que o projeto envolvia muito dinheiro, sugerindo que havia negociação entre os vereadores e o setor imobiliário. Os empresários do ramo da construção têm muito interesse nas áreas à venda, uma vez que são vizinhas do Paço Municipal e compõem uma área muito valorizada da cidade, perto dos condomínios fechados. Na primeira tentativa, a oposição conseguiu impedir de votação no plenário, que acabou adiada. A suspeita de pagamento de propina foi denunciada a polícia civil pelo vereador Djalma Araújo (SDD) e vai ser investigada.

O governo municipal tem maioria na Câmara, conta com 19 dos 33 vereadores, todavia foi surpreendido na votação do IPTU. A oposição, que soma nove vereadores, contou com os votos dos cinco membros do bloco moderado, liderado por Zander Fábio (PSL) e dois da situação: Fábio Lima (PRTB) e Felisberto Tavares, do PT, para derrubar o projeto. Os articuladores da prefeitura tentam impedir nova surpresa.

Corre à boca miúda, que as negociações para aprovação do projeto de venda das áreas públicas são capitaneadas pelo chefe de gabinete e secretário de Gestão e Pessoal Iran Saraiva, que tem como fieis escudeiros o vice-prefeito Agenor Mariano e os secretários Denício Trindade, Extraordinário Macambira Anicuns, Luciano Castro, de Obras e Serviços Públicos. Também participa do processo o advogado Sebastião Juruna, petista tradicional muito ligado a Delúbio Soares e José Dirceu.

Aos vereadores do bloco moderado, do qual participa além de Zander, Antônio Uchoa (PSL), Divino Rodrigues (PROS), Paulo da Farmácia (PROS) e dr. Bernardo do Cais (PSC). Em troca do apoio, teriam oferecido a Secretaria de Finanças, que foi recusada. Os votos seriam garantidos apenas por pastas mais vistosas, como a de Obras e Serviços Públicos (Semob), de Habitação, ou a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg).

O grupo se diz independente, mas negocia tanto com Paulo Garcia como com o governador Marconi Perillo (PSDB). Sempre em bloco, nunca individualmente. Caso aceitem uma pasta na administração municipal, fecham as portas para futuras alianças com o governador, o que só estão dispostos a fazer caso a secretaria oferecida pelo município tenha autonomia financeira e uma vasta gama de contratos.

Outro protagonista dessa grande negociação seria o presidente da Câmara, vereador Clécio Alves, a quem coube seduzir os votos dos vereadores com cargos de direção na Casa Legislativa. A reunião teria se dado a portas fechadas na sexta-feira (27) à tarde, poucas horas antes da votação da matéria.