Errar é humano, persistir no erro é burrice, ensina a sabedoria popular. Falta à oposição uma boa olhada em como estava a campanha em 2010 neste exato momento (início de setembro) e como andou daí em diante, até o resultado final: vitória apertada de Marconi Perillo (PSDB) no segundo turno contra Iris Rezende (PMDB). Mas vitória.

Em 2010, a disputa era: Marconi x Iris x Vanderlan Cardoso (PR). Agora, a mesma coisa. Mudou o partido de Vanderlan, para o PSB. E há um fato novo: a presença de Antônio Gomide (PT). Gomide não mudou diretamente o jogo, já que não deslanchou. Tem relevância por ser de Anápolis, onde Marconi sempre vai bem. Lá a disputa foi basicamente definida na eleição passada, e pode ser de novo – em outra direção.

Gráfico elaborado pelo Instituto Grupom a pedido da Tribuna do Planalto mostra que tanto Marconi quanto Iris e Vanderlan começaram setembro de 2010 com índices de intenção de voto maiores que os de agora. Outra constatação é que a partir daí Marconi e Iris oscilaram para baixo e para cima, e Vanderlan teve crescimento constante. Foi o período dos programas eleitorais gratuitos. Em tempo: os programas agora têm audiência maior que da outra vez. Chegou a 52,8 pontos entre de 19 de agosto e 2 de setembro.

No capítulo das lições, Vanderlan também se animou na reta final, visualizando um salto na vontade popular que o colocaria no segundo turno. Mas faltou o elementar: campanha. Não houve ação intensiva para alavancar a curva de crescimento, muito menos investimento em estrutura de campanha. Assim foi que Vanderlan nadou, nadou e morreu na praia. Agora, a situação se repete: ele está subindo, porém sua estrutura é até menor que a de 2010, e ele não acena que terá nada além de fé na vontade de mudança do eleitor para o seu lado.

No PMDB, o filme é igualmente repetido. Antes como agora eram fortes as críticas ao marketing irista. O que aconteceu: na virada do primeiro para o segundo turno, Iris demitiu o marqueteiro (Hamilton Carneiro) e absorveu o de Vanderlan: Jorcelino Braga. Braga comanda hoje o marketing do candidato do PSB; o do PMDB é tocado por Dimas Thomas, sob a coordenação de Luiz Felipe Gabriel, dono do Instituto Verus, que fez e faz as pesquisas qualitativas para o PMDB. Marconi manteve o seu: Paulo de Tarso.

Repetido no PMDB também está a disposição dos principais líderes com o enfrentamento a Marconi Perillo: próxima de zero. Logo depois da eleição de 2010, pelo menos dois nomes fortes do irismo seguiram o rumo do marconismo. O caso do federal Thiago Peixoto (PSD), que virou secretário estadual de Educação do atual governo, foi mais sintomático: o pai dele, Flávio Peixoto, era o responsável pelo plano de governo de Iris.

Um dos pontos falhos em 2010 na campanha de Iris foi justamente o plano de governo. No segundo turno, os planos de Vanderlan é que sustentaram os programas. Em 2014, plano de governo é algo que não para em pé no PMDB. Nos dois tempos, prevaleceu durante toda a disputa a desconfiança de que muitos dos coordenadores da campanha de Iris estavam na verdade apenas esperando a hora passar: eram marconistas enrustidos, ou anti-iristas assumidos nos bastidores, torcendo pela derrota do líder e já se avistando com Marconi. A equipe de Iris era formada por vários inimigos não declarados naquele ano, e permanece agora.

No segundo turno, a eleição esteve apertada até o final. Marconi ganhou no volume de campanha: 52,99% contra 47,01%. Também havia a vontade, no final do primeiro turno, de ganhar logo. E houve euforia de que isso poderia acontecer. Hoje, a euforia com uma possível vitória já em 5 outubro é grande, embora no núcleo duro da coordenação a visão seja menos otimista. No segundo turno, o que os marconistas fizeram foi apertar o pé, investir pesado e literalmente ‘tomar’ a vitória de Iris, que esteve perto de acontecer: na última semana, a situação era de empate técnico.

Iris perdeu por problemas que mostra de novo: estrutura falha, partido dividido e estratégia errada. Tivesse em 2010 corrigido erros ainda antes do final do primeiro turno, poderia ter iniciado o outro com mais animação, e muitos dos que mostraram desmotivação teriam se empenhado mais diante de uma perspectiva real de vitória. Vanderlan, se tivesse feito mais sua parte e esperado menos por milagre, poderia ter chegado lá. Já Marconi sabe andar no fio da navalha, e parece usar isso como motivação. Escaldado, o seu ‘apertar o pé’ do primeiro turno anterior, desta vez, começa esta semana. Quer começar bem o segundo, ou, quem sabe, conseguir matar tudo de vez logo.

De diferente mesmo em 2014 na comparação com 2010 está a avaliação de Marconi Perillo. De lá para cá ele passou por uma CPMI (do Cachoeira), por desgastes com uma equipe que na maior parte do tempo não convergiu para lustrar sua imagem, e viveu o inferno de um governo com reprovação maior que a de seu antecessor, Alcides Rodrigues (PSDB, ex-PP). Alcides é a referência negativa sempre usada por Marconi, mas antes da atual campanha começar a sua avaliação estava melhor que a do tucano.

Marconi venceu pela força. Iris perdeu pela falta de profissionalismo. Vanderlan não avançou porque se deu por contente em despontar como terceiro. Por enquanto, o comportamento dos três segue na mesma linha, dentro de um cenário muito parecido. O que vai determinar o final dessa história, se uma repetição de resultados ou não, é justamente a campanha. Iris fará mais uma vez campanha para perder, ou desta vez jogará para ganhar? Marconi terá fôlego para arrancar novo triunfo?

De concreto, o tucano continua como o time que espera vencer em cima dos erros do adversário; e o peemedebista, como o homem de fina intuição que sabe ter tudo para ser premiado na mega-sena, só que se recusa a fazer a sua parte fez: pelo menos jogar; o detalhe de jogar para ganhar. Vanderlan? Quem sabe…

***

Três pontos:

1 – Questão de fluxo

O número de indecisos está maior agora do que estava na mesma época em 2010. Na espontânea da mais nova rodada Grupom para o jornal Diário da Manhã, os que não indicaram nenhum nome chegaram a 47,8%. Metade dos eleitores, portanto, ainda não tem voto definido. Isso pode mudar os rumos de uma eleição. Claro, em 2010, não mudou. O fluxo seguiu na direção da curva, como se observa no gráfico da estimulada.

2 – Questão de custo final

Para ficar claro: a estrutura do governador tucano Marconi Perillo considera que mais vale gastar bem agora e tentar definir a eleição no primeiro turno, do que simplesmente deixar para resolver no segundo. Além do risco de virada, naturalmente, está a visão de que um segundo turno encarece a campanha mais do que qualquer gasto adicional neste momento.

3 – Questão Anápolis

Nesta estratégia dos aliados de Marconi Perillo, tirar o petista Antônio Gomide do jogo é fundamental. Gomide está com a candidatura pendente, aguardando julgamento no TSE por problemas na prestação de contas quando ainda prefeito de Anápolis – as contas foram rejeitadas no TCM, embora aprovadas na Câmara de Vereadores. Julgada no TRE, a prestação de contas foi deferida. Em Brasília, a convicção (sim, juram “certeza”) dos tucanos é de que ele cairá. Estão empenhados nisso. Querem votação cheia em Anápolis. A conta que é feita: em 2010, Marconi obteve na cidade 112.283 (65,01%) votos no primeiro turno e 124.173 74,41%) no segundo; e Iris, 38.706 (22,41%) votos e 42.701 (25,59%), respectivamente. No Estado, a diferença entre Marconi e Iris foi de 300.765 votos no primeiro e de 174.944 votos no segundo turno. Ou seja: como metade mais 1 dos 174.994 definiria a eleição para o outro lado, pode-se dizer que Anápolis decidiu a eleição a favor de Marconi. Pode decidir já no primeiro. É o que avaliam os marconistas.

(Sáb, 13 de Setembro de 2014 20:41Vassil Oliveira, Diretor de Redação do Tribuna do Planalto)