Quase 70% dos pacientes que procuram as unidades de urgência e emergência em Goiânia e Aparecida de Goiânia deveriam, na verdade, ser atendidos pela atenção básica de saúde da família ou em ambulatórios. É o que apontam dados das secretarias de saúde dos dois maiores municípios goianos. Este percentual acaba sendo responsável pela sobrecarga nas unidades de pronto atendimento o que, consequentemente, resulta em aumento das reclamações por causa da demora.

“O tratamento de saúde, o acompanhamento do dia a dia, deve ser feito na atenção básica de saúde da família. Se todo mundo for pra emergência, sobrecarrega e a gente não consegue atender. Por isso as longas filas e as pessoas reclamando que estão lá há muito tempo”, justifica Maria Cláudia Honorato, diretora de atenção à saúde de Aparecida de Goiânia.

E é exatamente para evitar esta sobrecarga nas urgências e emergências, que a atenção primária tem sido o foco de atuação, conforme ressalta Sandro Rodrigues, diretor de atenção à saúde da Prefeitura de Goiânia. “Se investirmos mais em atenção primária, que é perto da casa das pessoas, esse cuidado é transformado em melhor qualidade de saúde e os resultados também são melhores. Esses 70% que procuram urgência e emergência, digamos, de maneira errada, poderiam ter o problema melhor cuidado no programa saúde da família”, explica.

Realidade

Segundo Maria Cláudia Honorato, Aparecida de Goiânia tem investido na estruturação da rede de saúde. Só em 2014, foram inauguradas 8 unidades de saúde da família, consideradas como porta de entrada da atenção básica. Outras 3 devem ser disponibilizadas à população ainda neste início de ano, além de duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Os investimentos visam preencher os chamados vazios sanitários, ou seja, locais em que não tem uma unidade de saúde próxima. “Estamos falando de um município com 500 mil habitantes, cuja rede de saúde ainda é pequena e está em formação. Acreditamos que, com essas ampliações, teremos mais locais para atender as pessoas que necessitam”, argumenta a diretora.

Em Goiânia, outro problema é apontado pelo diretor de atenção à saúde: a incoerência entre os números de habitantes reais e os que são apresentados via Sistema Único de Saúde (SUS). “Nós temos hoje em nossa base de cartão SUS 4,5 milhões de habitantes, sendo que a capital possui, aproximadamente, 1,7 milhão. Esses excedentes são os habitantes do interior que procuram o serviço na capital. Como nenhum tipo de atendimento é negado, Goiânia acaba arcando com isso, sem que a Secretaria tenha nenhum tipo de ressarcimento”, declara Sandro Rodrigues.

De acordo com o diretor, isso acontece porque muitos pacientes do interior driblam a pactuação entre os municípios apresentando um comprovante de endereço de Goiânia, sem de fato residir na capital. “Por mais que se fiscalize isso, pessoas que não moram em Goiânia acabam sendo ‘contempladas’ como moradores de Goiânia prejudicando, obviamente, a questão da saúde para a população goianiense propriamente dita”, conclui.