O escritor Bariani Ortencio comemora neste domingo (24) 93 anos de vida. Paulista de Igarapava, cidade onde iniciou seus primeiros estudos, mas goiano por afetividade, é pai de seis filhos, tem 14 netos e sete bisnetos. Nesta semana, o escritor concedeu uma entrevista exclusiva à repórter da Rádio 730, Giuliane Alves, no Instituto Cultural e Educacional Bariani Ortêncio, no centro da capital de Goiás.

Ouça a entrevista na íntegra: {mp3}Podcasts/2016/julho/23/barianiortencio{/mp3}

Contada em detalhes em um local com muitas fotos do escritor e registros de vida, a história de Waldomiro Bariani Ortencio se confunde com a de Goiânia, onde escolheu morar desde 1938. Ele relata uma curiosidade sobre o seu aniversário. Segundo o escritor, em sua data de nascimento consta, por engano do pai, o dia 24 de outubro de 1923, mesmo dia de fundação da capital goiana, que ocorreria em 1930.

“Quando perguntaram para o meu pai: “Quando nasceu?” assim que ele foi me registrar, ele pensou que era ele e falou que era 24 de outubro. Então, nos meus documentos, são 24 de outubro. Mas sou Leão, graças a Deus, eu nasci em 24 de julho”, relata.

Com muita lucidez, bom-humor e memória aguçada, ele conta como começou a vida no trabalho, desde os tempos de alfaiate, professor, fazendeiro, industrial e minerador. Chegou a defender as redes do clube Atlético Clube Goianiense, quando foi goleiro na década de 40, mesma época em que abriu a loja de discos Bazar Paulistinha. O estabelecimento virou até letra de música, nas canções “Pagode em Brasília”, “Visita a Goiás” e “Saudades de Goiás”. Ele explica como surgiu o “apelido”, antes de uma partida de futebol.

“Estava faltando jogador, aí eu falei ‘Ô, moço, eu sou goleiro’. Ele falou ‘De onde você veio?’, e eu ‘Vim lá do estado de São Paulo’. E ele disse ‘O paulistinha aqui vai jogar no gol’. Aí fiquei dez anos. Lá em Campinas (no bairro) ninguém me conhece por Waldomiro, nem Bariani, nem Ortencio, é ‘Paulistinha’”, relembra.

Sobre o dom da escrita, “seu Waldomiro” consta que começou a ler na infância os livros do tio, que é padre até hoje, aos 100 anos de idade. O escritor conta que lia as obras e, caso não gostasse do final, escrevia um novo desfecho, ao seu gosto.

“Eu lia os livros dele, ia lendo a história. Se eu achasse a história boa, eu deixava. Se eu achasse que ela estava errada, eu riscava o fim e punha o desfecho que eu queria. Rabisquei muitos livros dele e ele não ficou sabendo. Soube apenas mais tarde. Aí eu pensei, se eu tinha capacidade para ficar emendando histórias nos livros dos outros, por que não criar as minhas?”, revela.

Dessa forma, ele conta que começou a enviar suas próprias histórias para a coluna de um jornal em São Paulo. Caso fosse selecionado, ganharia um livro de presente. Sem modéstia, Bariani Ortêncio exclama: “Fui premiado 14 vezes”.

Entre suas obras estão “O que Foi Pelo Sertão”, 1954; “O Sertão – O Rio e a Terra”, 1959; “Sertão Sem Fim”, 1965; “A Cozinha Goiana”, 1967; “Aventura no Araguaia”, 1987; “Minha Vida de Menino”, 2005, entre outros. Em seu 93º aniversário, Bariani Ortencio diz que a idade anuncia um “fim da linha”, mas diz sorridente que está bem e que tem forças para presentear ainda mais seus admiradores por muito tempo.