04 de dezembro de 2016 ficará na memória dos goianos como um dia de fortes emoções. Hora cinzento, hora ensolarado, o domingo passava rapidamente para os familiares e amigos que se despediam do cinegrafista que ganhou o Brasil. Foi difícil de crer, mas às 18h50 o corpo de Ari Júnior foi sepultado no Cemitério Parque Memorial, em Goiânia.
Durante todo o dia, várias homenagens ocorreram. A capital de Goiás e a Capital da Fé, neste domingo, juntas, formaram a “Capital de Ari”. As cidades foram interligadas por muita devoção, oração e lembranças dos maiores feitos conquistados por Ari. O goiano foi um dos 71 mortos no acidente com o avião da Chapecoense na Colômbia.
Missa em Trindade
Na Capital da Fé, o corpo era aguardado com muita emoção. Os amigos e familiares de Ari se reuniram no Portal da Fé, na entrada da cidade. A base da imagem do Divino Pai Eterno estava coberta por um pano preto, simbolizando o luto da cidade em que Ari cresceu. A cada membro da família que chegava, um espetáculo de devoção acontecia.
Ali foi o ponto de encontro dos principais nomes que marcaram presença no velório em Trindade. Os filhos Thalisson, Danilo, Alisson e Isabelle, a esposa Meirilaine Marques e um irmão de Ari e a ex-esposa Valquíria. O prefeito de Trindade, Jânio Darrot, e o técnico do time sub-20 do Goiás e ex-jogador, Sílvio Criciúma, também estiveram na recepção do corpo.
Às 13h15, a funerária apontou na GO-060, famosa Rodovia dos Romeiros. Sim, Ari estava voltando pra casa. Naquele momento começava o que ninguém queria: o primeiro cortejo com o corpo de Ari Júnior em Trindade. O caixão foi colocado em cima de um caminhão do Corpo de Bombeiros. Uma grande quantidade de carros invadiam as principais avenidas da Capital da Fé, em direção a um mesmo rumo: Igreja Matriz.
Chegando na igreja, milhares de pessoas esperavam pelo comboio. Sob muitos aplausos, o caixão com o corpo de Ari adentrou a Matriz de Trindade. Ao ver aquela cena, era perceptível no olhar dos cidadãos trindadenses o choque de realidade. Naquele momento ocorria a materialização da morte de Ari, que antes era apenas acompanhada pela telinha da TV.
Velório na Serrinha
O cortejo saiu de Trindade rumo a Serrinha, sede do Goiás, no Setor Bueno, em Goiânia. No caminho, os cidadãos da cidade onde Ari nasceu recebeu o conterrâneo de corações abertos. Os goianienses saíram nas suas portas e aplaudiram incessantemente. A comitiva passou pela Avenida Castelo Branco, Avenida Mutirão, Avenida 85, de onde seguiu para o Ginásio Luis Torres de Abreu, na sede do Goiás, local do velório.
Clube do coração do cinegrafista, o Goiás preparou uma série de homenagens para o esmeraldino fanático. Torcedores do alviverde aguardavam a chegada do corpo de Ari. Membros da diretoria do Goiás e grandes nomes da imprensa marcaram presença no velório.
A palavra foi dada aos amigos de Ari, companheiros de profissão, esposa e filhos de Ari. Todos, muito emocionados, lembraram-se do espírito de fraternidade do cinegrafista. Várias manifestações de carinho ocorreram no velório de Ari.
Na saída da Serrinha, mais um momento de emoção foi proporcionado. A torcida do Goiás se despediu de Ari aos gritos de “guerreiro… guerreiro… guerreiro… o Ari é guerreiro” . Todos que estavam no ginásio ficaram muito comovidos com a cena do caixão deixando a sede do clube esmeraldino.
A história de Ari Júnior
Da portaria da TV Serra Dourada, para as maiores coberturas internacionais da história da TV brasileira. Desde a década de 1990, um mar de admiração banhava os goianos. Na TV Anhanguera, afiliada da TV Globo em Goiânia, Ari marcou a emissora ao realizar grandes trabalhos às margens do Rio Araguaia, em 1996.
Com um admirável estilo de praticar seu ofício, a partir de 1997, quando se transferiu para a TV Globo, em São Paulo, o “mar de admiração de Ari” passou a respingar em todos os lares do país. 15 anos depois, o goiano novamente mudou de CEP ao ser convidado a trabalhar na TV Globo do Rio de Janeiro, matriz da rede nacional de televisão.
O episódio do Nepal
Atualmente, integrava a seleta equipe do programa Planeta Extremo, da TV Globo. Em abril de 2015, viveu o maior desafio de sua carreira ao viajar para o Nepal para fazer um programa especial sobre os mais radicais e naturais pontos turísticos nepaleses. Ao lado dos repórteres Clayton Conservani e Carol Barcellos, Ari viveu momentos jamais vistos na TV brasileira.
A equipe havia saído da capital Catmandu por volta das 9h da manhã – hora local. Duas horas depois, sentiram a terra tremer, quando estavam na estrada, a 100km de distância, em direção a Pokhara, capital do distrito Kaski.
Dentro de um micro-ônibus, a equipe demorou alguns segundos para perceber o que estava acontecendo. De repente o guia começou a gritar. Eles não entenderam o que estava acontecendo até que ele falou: ‘Olha os postes’. A van foi parada e tudo tremia ao redor: os postes, as casas.
Pra piorar, a equipe estava em cima de uma ponte, que diante dos fatos, poderia até rachar. Casas foram despedaçadas. As estradas ficaram bloqueadas por causa de avalanches de pedras. O clima era de pânico total.
Passado os dias a situação só piorava, a temperatura caia e a chuva aumentava, o que tornava a situação dos desabrigados ainda mais complicada. Um dos principais problemas era a falta tenda para todos. Nos hotéis não era mais permitido que os hóspedes subissem para os seus quartos. Muitas pessoas passaram a noite na chuva e no frio, incluindo Ari Júnior.
Última entrevista à 730
Na última oportunidade que teve em falar com a Rádio 730, Ari Jr. falou da experiência em acompanhar Wendell Lira, também goiano, na disputa do Prêmio Puskas da Fifa, de gol mais bonito da temporada 2015. O atacante acabou saindo vencedor da disputa, e Ari fez questão de ressaltar a humildade de Wendell durante a ida à Suíça, em Zurique, sede da Fifa:
“É um menino com uma história de vida maravilhosa, ele merece tudo o que aconteceu com ele. É, sem dúvida, o grande prêmio da carreira dele. No voo de volta, veio olhando para a taça no colo e até chegou a chorar lembrando do seu passado. Ele parou a aeronave, o aeroporto, parou tudo, todo mundo queria parabenizá-lo. Ele merece muito”.
Descontraído, Ari ainda revelou que não gosta muito de estar em frentes às câmeras: “Meu negócio é atrás das câmeras, no microfone eu não dou conta (risos), gaguejo, não sai nada. Se me chamarem pro Planeta Extremo, terremoto no Nepal, isso aí é comigo, isso eu dou conta. Entrevista não”, brinca.