A cidade assiste consternada a morte de mais três moradores de rua só nas ultimas 24 horas e o fato é que a polícia não consegue explicar as mais de 40 mortes de mendigos ocorridas nos últimos 17 meses. As últimas três vitimas encontraram a morte em locais e por meios diferentes: um foi morto a tiros no Jardim Goiás, o segundo, a facadas no Centro e o terceiro também a facadas no Jardim Ana Lúcia.
{mp3}stories/2013/dezembro/cidade_05-12-2013{/mp3}
O primeiro morador de rua a ser morto em Goiânia foi em agosto de 2012 e de lá pra cá os assassinatos se tornaram frequentes nas ruas da cidade. Muitas das pessoas que vivem nas ruas têm envolvimento com droga e essa tem sido a justificativa da polícia para as mortes recorrentes: acerto de contas de dívida com traficante. Mas a causa não pode ser aceita como justificativa. O que se percebe, em Goiânia, é que está havendo um extermínio de moradores de rua.
Pelo menos uma das mortes não tem relação com o uso de drogas, a primeira, de 12 de agosto. O mendigo teria sido morto por um policial militar, que foi preso. O assassinato mais chocante aconteceu na rodoviária de Hidrolândia: a vítima foi morta a tijoladas. Apesar de afirmar que a causa das mortes é o uso e tráfico de drogas, a polícia não vê relação entre elas.
Mas há sim uma relação entre elas e forte: todas as vítimas são pessoas que a sociedade não considera cidadãos; são empecilhos que invadem as calçadas, sujam as ruas, provocam repulsa e incomodam. São pessoas dispensáveis para a cidade, que simplesmente foram descartadas em algum canto da rua e que obrigam os pedestres a desviar o olhar. Se por um lado o extermínio de seres humanos choca, por outro, a morte de mendigos provoca um certo alívio que as pessoas não têm coragem de confessar.
Enquanto o assassinato de um policial ou de uma pessoa proeminente é solucionado em poucas horas, a morte desses coitados que não têm sequer uma família para reclamar o corpo não tem prazo para ser esclarecida. Nem mesmo a interferência da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, acelerou as investigações, que certamente não tem nenhuma prioridade para a polícia.
Goiânia, a bela cidade das árvores e parques, é também a capital que mata para esconder suas mazelas. O extermínio de mendigos traz à tona a face mais cruel de Goiânia: o preconceito, a discriminação contra aqueles que não são iguais.