(Foto: internet/divulgação)

 

“The Evil Dead: uma noite alucinante” (1981) é mesmo bom? Chaves e Chapolin são ícones culturais? Os filmes da Marvel são mesmo necessários? Não é de hoje que o velho duelo entre qualidade x gosto popular causa polêmica. Porque quando se trata de arte, o gosto pessoal tem sempre um peso importante – ainda que não seja explicitamente considerado. Arte seria o que agrada os olhos, já diria alguém lá do período clássico, até que conheceu Marcel Duchamp e a correia saiu da catraca.

No último dia 08/08, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou a criação de uma nova categoria do Oscar: Melhor Filme Popular (Best Popular Film). Os críticos foram à loucura. Afinal, seria justo premiar um filme apenas por ter levado muita gente às salas de cinema? Seria coerente uma Academia de Arte estabelecer como critério de seleção a quantidade de dólares arrecadada? Numa premiação artística, convém deixar aspectos artísticos de lado e optar pelo que é pop ou cult? Os mais exigentes rejeitam a simples ideia de premiar uma obra de arte, seja por qual critério for. Afinal, não seria essa a finalidade primeira do artista. O fato é que o gosto do público inevitavelmente aumenta o interesse e a curiosidade sobre um filme. Se muita gente está assistindo, outras tantas pessoas procuram assistir, nem que seja para discordar. Algo deve haver ali.

De todo modo, não é de hoje que se critica a vertente comercial e industrial assumida pelo Oscar desde sempre. É claro que filmes são feitos para serem consumidos, e uma boa divulgação, seguida de uma eficiente distribuição são cruciais para que a obra se dissemine. Mas existe toda uma indústria por trás da premiação, dependente dela também para existir, e obviamente com todo o interesse do mundo no sucesso da entrega das estatuetas.  Queira ou não, a premiação continua como uma das principais do planeta, e é sem dúvida nenhuma um referencial (talvez não o melhor, vá lá) do que se produz no mundo do cinema. Mas a cerimônia vinha perdendo audiência paulatinamente – e aí vem o perigo – e a Academia recorreu a isso para tentar puxar público. Basta ver que, ao mesmo tempo que anunciou a nova categoria de premiação, também reduziu o tempo de duração do evento para 3 horas (As mudanças valem apenas para 2020, ou seja, alcança apenas os filmes lançados a partir do ano que vem.)

A questão fica um pouco mais incômoda se notarmos que a ideia da nova categoria partiu do grupo Disney-ABC Television Group, pouco depois da cerimônia deste ano. E esse mesmo grupo já fechou contrato para exibir a cerimônia para todo o mundo, a partir de 2028.

Agora, me diga lá: quais os filmes você acha que vão pintar na nova categoria? Dá uma olhada nessa lista de anos passados, com os possíveis indicados (a lógica, provavelmente, será a mesma):

– Os últimos da franquia Harry Potter (2009, 2010 ou 2011) – WARNER;

– Moana (2016), Viva – a Vida é uma Festa (2017), Divertida Mente (2015) – DISNEY/PIXAR;

– Os mais recentes da franquia Star Wars (2015, 2016, 2017) – DISNEY;

– Praticamente todo e qualquer filme de super herói (2015, 2016, 2017, 2018…) – DISNEY/MARVEL e DC;

– Os mais recentes da franquia do 007 (2006, 2012, 2015) – MGM/COLUMBIA;

– Uma aventura Lego (2014) – WARNER;

Todos de grandes estúdios (Sony, Warner, Paramount, MGM). A maioria, do grupo Disney (responsável pelos filmes do universo Marvel, Star Wars e Pixar). E não é que não possam ser excelentes filmes. Mas é necessário mesmo um prêmio de “Melhor Blockbuster”? Não existem já as categorias tradicionais, muito mais relevantes?

Se você for parar para pensar, é quase que uma troca de favores: “Vocês, grandões, tragam-me o público, que eu dou uma estatueta de brinde”. E se o ingresso para a cerimônia é se sair bem em arrecadação, todo mundo de olho no mercado chinês a partir de agora.