Na última semana, o Athletico Paranaense oficializou o retorno do atacante Walter ao CT do Caju. O jogador, que está há 1 ano e meio sem jogar profissionalmente por conta de uma suspensão por doping, retorna ao Furacão após uma passagem nos anos de 2015 e 2016. O contrato do atacante tem validade de três meses, sendo que neste período ele treinará sob supervisão do departamento físico do clube e se for bem avaliado, poderá ter o vínculo prorrogado.
Essa não é a primeira vez que o rubro-negro ‘abre as portas’ e dá oportunidade para um jogador em situação complicada. Além de Adriano, em 2014, o Furacão também abraçou a causa de Washington. Diagnosticado com problema cardíaco em 2003, quando defendia o Fernerbahçe, o atacante voltou ao Brasil, deu a volta por cima e recebeu o apelido de “Coração Valente”.
“Todos os médicos pelos quais eu tinha passado, inclusive o do Fernebahçe, não me deram uma opinião direta dizendo ‘você não vai mais jogar’. Entretanto eles diziam ‘pensa na sua vida, na sua família e repensa essa vontade de jogar’. O médico do Fernebahçe disse isso e alguns do Brasil também, mas eles não tinham feito os exames que na época, meu atual cardiologista, acabou fazendo posteriormente. Naquela oportunidade ele me falou que eu tinha condição de viver uma vida normal, porém não tinha para ser atleta de alto rendimento”, relembrou o ex-jogador em entrevista exclusiva à Sagres 730.
“Eu teria que colocar o stent, que foi o que eu fiz. Além de fazer todo o processo de recuperação no Athletico Paranaense para depois, no final do ano, realizar todos os exames novamente. Foi a partir daí que ele me liberou. Ele viu todo o processo, me conheceu bem nestes seis meses e depois desses exames disse que eu tinha condição de voltar a jogar”, completou.
Em 2004, além de voltar a jogar, entrou para o Guiness Book, o livro dos recordes, como o jogador que marcou mais vezes balançou as redes em uma única edição do Campeonato Brasileiro. Foram 34 gols no total. Depois que deixou o Athletico-PR ao final da temporada, passou dois anos no Japão até retornar ao Brasil para defender o Fluminense. Após vestir a camisa do São Paulo em 2009 e 2010, encerrou a carreira no tricolor carioca em 2011.
Apesar dos problemas de saúde e de ter visto a carreira desacreditada por muitos, Washington deu a volta por cima e conquistou prêmios coletivos e individuais. Mas para que voltasse a ter sucesso, Washington precisou se dedicar muito. A receita deve ser a mesma para que Walter siga seu caminho.
“Pode dar certo. Eu até conheço o Walter, ele é um ser humano ímpar e uma grande pessoa. Acho que pode dar certo, mas muito vai depender dele, somente dele. O Athletico tem todas as condições e falando em estrutura, é ainda melhor do que a que tinha em 2004 que já era uma das melhores. O Walter vai receber todas as condições possíveis, então vai depender muito dele querer”, analisou.
“Eu, na minha época, abdiquei de muitas coisas para ter a condição de voltar a ser um atleta profissional. Graças a Deus eu consegui. Não foi fácil, mas abri mão de muitas coisas. Ele também tem que pensar ‘poxa, estou tendo uma grande oportunidade, tenho que ser muito profissional e abdicar de muitas coisas para voltar a ser um jogar de alto nível. O Walter, tecnicamente, tem muita qualidade. Só que depende muito da forma física dele e de se colocar para atingir essa melhor performance possível”, afirmou.
Washington em entrevista para a repórter Nathália Freitas
Atualidade
Mesmo sem ter tido muitas oportunidades na Seleção Brasileira, é considerado um dos importantes atacantes do futebol brasileiro. Ao analisar o cenário atual da posição no país, deixou com um jogador do Flamengo o posto de melhor camisa 9 do futebol nacional.
“É o Gabigol. Hoje, brasileiro, é ele. O Gabriel Jesus também é um atacante que não é um 9 com as minhas características, do Adriano e do Ronaldo, mas o Gabigol se aproxima. O Pedro que estava no Fluminense e hoje está no Flamengo também tem um pouco mais as minhas características”, destacou.
Grande destaque do melhor time do Brasil, Gabriel Barbosa, o Gabigol, não teve muito sucesso na Europa. Promessa das categorias de base do Santos, foi vendido à Internazionale e emprestado ao rubro-negro carioca após não deslanchar pelo time italiano. Caminho parecido com o de Pedro, atacante revelado pelo Fluminense, negociado com a Fiorentina e que retornou ao Brasil também para defender o Flamengo.
Para muitos, o destaque no Brasil e o insucesso na Europa representa a diferença de qualidade entre os campeonatos. Todavia para Washington a situação é resultado de uma precipitação na hora de vender os atletas.
“Não vejo discrepância (de qualidade), vejo talvez pulando um pouco o degrau, pulando a fase. Acredito que o Gabigol foi isso no início, o Pedro também. Talvez eles não estivessem maduros o suficiente para enfrentarem uma Europa. Qualidade eles têm, isso é indiscutível, mas existem fases e momentos para ir. Eu, por exemplo, tive a oportunidade de ir para o Fernebahce com 27 anos. Tive que ser artilheiro do Campeonato Brasil uma vez, da Copa do Brasil uma vez e do Paulistão uma vez para poder ir. Eles foram sem ser artilheiros dos campeonatos na época. Hoje o Gabigol está mais maduro e se ele for para a Europa, ele vai diferente. Esse amadurecimento precoce talvez atrapalhe”, pontuou o ex-atacante.
Futebol Goiano
Apesar de não ter jogado por nenhuma equipe goiana, durante a entrevista Washington relembrou alguns atacantes que se destacaram no futebol nacional e passaram no estado de Goiás. Principalmente Dimba, que com a camisa esmeraldina, fez 31 gols no Brasileirão em 2003.
“Eu lembro muito do futebol goiano porque é perto da minha cidade, eu sou brasiliense. O Túlio é um dos grandes centroavantes da história do Brasil e marcou época; o Dimba, que eu acabei batendo o recorde que ele tinha feito pelo Goiás. Ele marcou 31 gols e eu 34, mas olha os números que ele alcançou no Goiás; o Araújo nós disputamos artilharia no Japão e com certeza foi um grande atacante também. Então o futebol goiano sempre teve jogadores de qualidade e centroavantes que marcaram história”, disse.
Treinador, político e gestor
Após pendurar as chuteiras, o ex-jogador teve experiências em diversas áreas, ligadas ou não ao futebol. Foi treinador no Vitória da Conquista em 2017 e do Itabaiana em 2018. Além disso, foi deputado federal eleito pelo Rio Grande do Sul, foi exonerado do cargo de secretário Nacional de Esportes, Educação, Lazer e Inclusão Social do governo de Jair Bolsonaro e diretor de Desenvolvimento do Futebol Brasileiro na CBF. Experiências que o fazem ficar em dúvida quanto ao futuro.
“Todas elas eu gostei e foram importantes para mim, me proporcionaram um crescimento. Talvez tenha dado mais certo o lado da gestão. Mas também a minha experiência como técnico foi muito rápida, e poderia ter dado certo. Eu tenho facilidade para assimilar essas situações e primeira oportunidade que aparecer eu estou preparado”, explicou Washington.
Futebol na pandemia
Sem cargo dentro do futebol atualmente, Washington analisou o momento do esporte em meio à pandemia do coronavírus. Ainda que ache possível voltar os treinamentos com protocolos de segurança, ele acha precipitado o retorno das competições.
“É possível voltar de forma segura e as pessoas, de certa forma, estão até pressionando para que volte o futebol agora. Mas agora as pessoas estão fazendo os exames e o número está aumentando. Acredito que se o futebol voltar agora vai ser um pouco precipitado. Se a curva começar a diminuir, talvez seja mais fácil liberar o futebol. E acho que hoje até os jogadores estão defendendo isso, eles estão se preservando”, analisou.
“Alguns clubes que estão querendo voltar estão fazendo exames e detectando atletas com coronavírus, funcionários que estão com a doença e isso pode se agravar. Tem que ter muita cautela. Como estamos no pico, acho que tem que controlar essa questão de voltar as atividades agora”, comentou o ex-atacante.
Ouça na íntegra a entrevista exclusiva de Washington à repórter Nathália Freitas da Sagres 730: