A maior vergonha da história do futebol brasileiro está intimamente ligada com os números. Para ser mais preciso, com dois deles: o 7 e o 1. Poderiam ter sido outros, mas os alemães acabaram demonstrando compaixão com o país que tão bem os acolheram e com o povo que os encantou. Foi uma derrota fatídica, vergonha, dolorosa e tudo aquilo que o pior adjetivo imaginável puder expressar. Na nossa casa e em uma semifinal de Copa do Mundo para piorar.
Isso não quer dizer que a salvação do nosso futebol e da nossa Seleção também tenha que estar ligada aos números. Aliás, pelo contrário. Devem se afastar da frieza deles e procurar caminhos mais satisfatórios. Mas não é isso que vem acontecendo. O primeiro passo dado pelos nossos genais cartolas para fugir disso foi o retorno de Dunga ao comando técnico do Brasil. Um jogador exemplar e com cara de Brasil, mas um treinador bastante comum e muito aquém da nossa atual necessidade.
O que joga à favor de Dunga é o ótimo retrospecto que tem nas estatísticas como treinador da Seleção. Os números são bons, muito bons e dignos de elogio. Na sua primeira passagem, Dunga somou 60 jogos, com 42 vitórias, 12 empates e apenas seis derrotas, aproveitamento de 76,6%. Agora, ele está ainda melhor. Imbatível, dizem os números: oito vitórias em oito jogos disputados e apenas dois gols sofridos, enquanto o outro gaúcho levou sete em apenas um jogo. Tem como ir contra um treinador com números tão bons assim? Tem.
A nossa Seleção precisa mais do que vencer jogos. Lógico que isso ajuda e muito, traz confiança e faz o Brasil não ser tão mal visto novamente. Mas o que vai fazer o nosso time se reestabelecer entre as grandes potências do mundo e ser novamente a tão temida camisa amarela é a evolução tática. Não podemos tampar o sol com a peneira e continuar negando que perdemos a qualidade individual que nos levaram ao topo outrora.
Exceto Neymar, não há mais jogadores tão diferenciados tecnicamente para desequilibrar do nosso lado. Não tem mais o Garrincha para abrir espaço entre aquelas numerosas e gigantes defesas montadas contra o Brasil. Não tem mais um Ronaldinho Gaúcho para colocar a bola onde quer, um Romário ou um Ronaldo para em um chute decidir o jogo. Não há mais um Pelé para mostrar ao mundo que o futebol pode ser mágico e encantador.
A única saída é evoluir taticamente. Montar equipes competitivas para o jogo em si, que tenham qualidade individual em cada atleta, mas que acima de tudo sejam capazes de transformar a teoria em prática de uma maneira eficiente e não sejam engolidas novamente pelo chamado “futebol moderno”. Os tempos são outros. O futebol evoluiu cientificamente, é estudado, testado e acima de tudo planejado. Temos que aprender isso e aquele triste fim de Copa do Mundo era o momento perfeito para abaixarmos a cabeça e com toda humildade reconhecer que precisamos de ajuda. O quanto não agregaria um trabalho de José Mourinho, Pep Guardiola, Jürgen Klinsmann? Este último aliás que levou o “Soccer” norte-americano a um patamar jamais visto na parte de cima da América.
Nesse ponto, Dunga não é capaz de dar à Seleção o que ela precisa. E não preciso nem de argumentos para sustentar essa ideia. Os jogos e atuações do Brasil demonstram isso por si só. Não é a nacionalidade de alguém que mete sua competência e sua sabedoria. Se não tivéssemos que, mais uma vez, aceitar a arrogância burra dos dirigentes da CBF, hoje poderíamos estar trilhando um caminho melhor. Os números poderiam até não ser tão bons como os atuais (acredito eu que certamente não seriam), mas as consequências em longo prazo nos traria muito mais do que mais uma estrela para a camisa canarinho.