Francisco Tavares (Foto: Cileide Alves/ Sagres on)

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A utilização de resultados eleitorais recentes como farol para iluminar o caminho que o eleitorado tende a seguir na eleição de 2018 não é mais eficaz para fazer prognósticos. A opinião é do cientista político Francisco Tavares, professor da UFG, ao analisar os dados de seu colega cientista política, Alberto Carlos Almeida, no livro O Voto do Brasileiro (Record).

Em entrevista à Rádio Sagres em 27 de junho, quando veio a Goiânia para lançar seu livro, Alberto Carlos Almeida informou que seu livro analisou os resultados das eleições de 2006 a 2014 e o cruzamento desses números com indicadores econômicos e que concluiu que o mapa político brasileiro está colorido pelas cores vermelha e azul, ou seja, que a eleição presidencial será decidida entre PT e PSDB, como aconteceu no período estudado em seu livro.

“Costumo dizer que os dados levantados por Alberto são muito bons, mas acho que eles explicam o que aconteceu. Com diz o poeta Pedro Nava, são ‘um farol de milha voltado para trás’. Não são elementos para prognosticar o futuro”, afirmou Francisco Tavares. Para ele, as crises política e econômica que persistem desde as marchas populares de 2013 e da recessão a partir de 2015, respectivamente, criaram um clima que indica que a eleição de 2018 será única. “Será uma eleição atípica e, como diz um professor da UFMG, a única certeza que temos é a instabilidade e a incerteza”, disse.

O poder das alianças

Tavares admite que na forma não haverá mudança na eleição deste ano. Para ganhar as eleições, os partidos ainda precisarão dos mesmos instrumentos que usaram para vencer os pleitos passados, ou seja, alianças regionais fortes, recursos financeiros, tempo para propaganda no rádio e na televisão e estrutura partidária. No entanto, ele diz que a mudança ocorrerá no conteúdo.

“Antes o eleitor de centro-esquerda se conformava em se alinhar aos candidatos que defendiam propostas desse campo ideológico. O mesmo se dava com o eleitorado da centro-direita. Agora a gente vê o Centrão se negando a apoiar Geraldo Alckmin (PSDB), do qual é mais próximo ideologicamente, e se aproximar do Ciro Gomes (PDT), que é de outro campo ideológico”, disse.

Para Francisco Tavares, a realidade do Brasil está mais próxima do que aconteceu na Espanha e na Grécia, países em que houve mudanças profundas no quadro político provocadas pelas crises econômicas. O professor admite, contudo, que os atores políticos no Brasil fortaleceram as estruturas partidárias para se blindar contra a insatisfação popular. Com o financiamento público das campanhas os líderes partidários ficaram com mais força para escolher quem receberá dinheiro na eleição e, consequentemente, controlar a máquina eleitoral.

“As elites política e econômica se distanciam da população para se blindar e isso pode até dar resultado no curto prazo, mas vai agudizar a crise no longo prazo”, afirmou. Quando a população está insatisfeita ela tende a optar por caminhos extremos, observa. A apatia é uma delas, que se manifesta pela abstenção na eleição. Tavares acredita que haverá aumento do não voto (soma da abstenção com votos nulo e branco).

O segundo caminho que o eleitor costuma seguir em momentos de insatisfação são os protestos e por último, a votação de políticos extremistas, como Donald Trump nos Estados Unidos, observa o professor. Com base nessa análise é que o professor acredita que a eleição de 2018 vai fugir dos padrões já estudados pela ciência política.