Nas últimas semanas pensei bastante em um tema envolvendo o esporte: O comportamento do torcedor, principalmente das torcidas organizadas (T.O.) que a cada dia ganham espaço na mídia por ações ultraviolentas e perdem a “liberdade criativa” nas arquibancadas. Exemplo são inúmeros. Diante deste tema, uma frase martelou em minha mente, frase esta do prof. Lisandro Nogueira durante as aulas de cinema: “Amor e ódio são sentimentos que caminham lado a lado”. E como essa expressão faz sentido para descrever e nortear as ações das TO´s.

Em nosso estado, nas últimas semanas, essa discussão mais uma vez tomou destaque com o assassinato do líder da Sangue Colorado (uma das facções do Vila Nova). No entanto, no dia a dia na cobertura colorada, ouvi histórias lamentáveis como um garoto que estava com a camisa da “Sangue” na fila para trocar ingressos e foi agredido por membros da Esquadrão Vilanovense (outra organização ligada ao Vila), pais de alunos da escolhinha do clube reclamaram para diretoria que alguns integrantes destas TO´s consumiam drogas nas arquibancadas do OBA e amedrontavam as crianças, um torcedor que murchou os quatro pneus do carro de um funcionário da FGF durante a troca dos ingressos da promoção “Nota Show de Bola”.

Este não é um problema que pertence exclusivamente ao futebol goiano. Em São Paulo, A Federação Paulista de Futebol anuncia medidas mais enérgicas e restritivas do acesso dos torcedores que já estão “fichados” por confusões nos estádios. Numa ação conjunta entre o Ministério Público e diretorias da TO´s, eles prometem combater com maior rigor. No Ceará, as torcidas estão suspensas e tem 30 dias para apresentar uma proposta de conciliação para evitar a extinção. A revista Placar deste mês de setembro trouxe uma reportagem sobre os bastidores da luta (legal e ilegal) entre duas organizadas para manter o controle da “La 12” – a torcida do Boca Juniors da Argentina.

O estádio sem torcida perde todo o tom sagrado do local. Sem bateria, sem bandeiras, balões, mosaicos, sem paródias cômicas ou não, a arquibancada, mesmo que seja padrão Fifa, não tem a mesma graça. Como é emocionante ver a luta entre duas cores, milhares de vozes para incentivar a equipe. Já arrepiei quando vi a festa da torcida do Vila Nova em 2007 quando conquistou o acesso, com a do Goiás no duelo contra o Estudiantes-ARG na Libertadores 2006, do Vitória-BA e do Santa Cruz em uma edição da Copa do Brasil e outros tantos exemplos…

Precisamos voltar a alegria dentro dos estádios goianos, incentivar a criatividade da festa. Mas para tal, precisamos de medidas implacáveis no combate a violência e evitar a presença daqueles que querem infiltrar nestes grupos para ganhar coragem para fazer algo que não tem quando está sozinho ou que desvirtue o espírito esportivo/social destas entidades.

Este não é um problema exclusivo do esporte. É algo em que todas as esferas administrativas precisam estar presentes para encontrar uma saída: dirigentes esportivos, Federações, segurança pública, Ministério Público e etc. A Inglaterra se tornou exemplo ao combater os hooligans com a implantação de câmeras de vigilância e punições severas, chegando ao banimento perpétuo. Na Espanha, existe o pagamento de multas de até 650 mil euros. É preferível afastar das praças esportivas a prender por pouco tempo, a prisão pode se tornar um prêmio para alguns vândalos.

O estádio Serra Dourada recebeu investimentos em câmeras de segurança de última geração que estão sendo implantadas. Estas vão identificar logo na entrada as pessoas impedidas de acesso. Além disso, R$ 1,8 milhão vindos do governo federal serão gastos no processo de setorização do estádio que vai evitar o livre acesso no anel interno do estádio e vai determinar um ponto exclusivas para as organizadas.

Cabe a FGF, Ministério Público e segurança pública elaborar planos de ataque e identificação dos violentos e no treinamento de agentes para saber agir nestes locais, sem truculência (pode-se conseguir respeito sem precisar patrolar todas as pessoas para atacar poucos). Precisamos afastar a violência e os fundamentalistas dos estádios, não a alegria e a criatividade. A rivalidade é imprescindível de exister, faz parte do esporte. A diferença faz parte do processo de reconhecimento de si como indivíduo e do outro como diferente. A intolerância ao estilo Talibã nunca pertenceu e jamais pertencerá ao esporte.