Nessa quinta-feira, 22, o Debates Esportivos, da Rádio 730, recebeu o atacante Pedro Júnior, ex-jogador do Vila Nova e que atualmente está no futebol japonês, no clube Vissel Cobe.     

Pedro é natural de Santana do Araguaia, no Pará e veio para a base do Tigrão em 2005, quando se destacou na Copa São Paulo de Futebol Júnior daquele ano. Logo após teve o devido reconhecimento e subiu para o time principal, onde ajudou o time a conquistar o Campeonato Goiano. O jogador não esconde que seu coração é colorado e afirmou que o motivo pelo qual o Vila Nova não consegue chegar à elite do futebol brasileiro, é por conta da diretoria.

“O Vila Nova, pelo menos enquanto eu estava lá, a diretoria é complicada. Sempre falei isso, nunca fiquei em cima do muro, acho que ali tem uma vaidade muito grande e isso atrapalha demais. Quando a diretoria não entrosa com o grupo, acaba atrapalhando. O Vila Nova sempre teve esses problemas, quando o time começa a ir, acontece alguma coisa fora de campo. Então, acredito que é isso que acaba atrapalhando o Vila”, declarou.

Para ele, o que falta para o Tigrão subir de vez é uma nova diretoria, novos conselheiros, que deixem a vaidade de lado e priorizem somente o que for bom e importante para o clube.

“Acabar com aquele conselho lá, acho que aquele conselho é uma bagunça. Uma diretoria nova, com pensamentos diferentes, coisas novas, pensar em mudanças. Se acontecer isso, tenho certeza que o Vila Nova vai crescer, com a torcida que tem o Vila Nova já teria que ter disputado uma Série A. A vaidade atrapalha, porque muita gente fala, mas na hora de colocar o dinheiro, ninguém coloca”, afirma.

Assim que se destacou pelo Vila, Pedro Júnior foi emprestado para o Grêmio, onde teve um dos momentos mais marcantes de sua carreira: marcou o gol do título do Campeonato Gaúcho em cima do Internacional, no Beira Rio, casa do rival. Sobre sua passagem por lá, ele afirmou que foi algo muito surpreendente, pela expectativa que colocaram em cima dele, e que isso, juntamente com as lesões sofridas, atrapalharam seu rendimento no clube, que foi bastante apagado.

“Foi uma surpresa bem grande, porque cheguei lá como ”salvador da pátria” e foi um baque, estava acostumado aqui em Goiânia, morava no alojamento do Vila. Lá, tinha toda aquela imprensa, o reconhecimento do torcedor do Grêmio, então, foi uma surpresa enorme. E isso atrapalhou no começo, se eu tivesse a cabeça de hoje, teria feito uma história muito bonita no Grêmio, porque é um clube sensacional”, disse.

Depois disso teve passagens, também sem muito destaque, por Cruzeiro e São Caetano, até que foi para o futebol japonês, voltou, ainda atuou pela Vila Nova, quando fez o importante gol da vitória colorada diante do Corinthians, em 2008, dando a vitória sobre o líder da Série B na época. Em 2014 retornou para o futebol japonês, onde está até hoje. Questionado sobre sua vontade de voltar a jogar no Brasil, Pedro foi bem direto ao dizer que isto não está em seus planos.

“Não penso em voltar a jogar aqui não, penso em me aposentar por lá. Nesse último ano, se eu tive propostas de clubes brasileiros, eu nem sei. Já falo para o meu empresário nem me passar, porque o meu pensamento é só no futebol de lá”, ressaltou.

Confira abaixo a entrevista completa.

O que o conselho atrapalhava os jogadores dentro de campo no Vila Nova?

Diretor com presidente as vezes batem de frente com o conselho e acaba afetando o treinador, que querendo ou não, acaba chegando nos jogadores. Acredito que a parte dos Conselheiros é muito complicada, o entrosamento deles, a vaidade. Uma solução também seria todos se juntarem e pensarem somente no Vila Nova, colocar o time na Série A e melhorar.

Porque o Vila tem dificuldades em fazer bons negócios e de dar oportunidade para os garotos ?

Nos últimos anos tem faltado isso, o Vila não tem revelado praticamente ninguém, mas acho que está faltando pessoas ali dentro, que possam dar mais oportunidades, que entendam de futebol, que gostem do Vila Nova para que possa surgir mais revelações.

No Japão as pessoas já voltaram a enxergar o futebol brasileiro como o melhor do mundo ou ainda não?

Depois dessa última Copa do Mundo, perdeu um pouco a credibilidade. Até em termos de campo, eles usam mais a filosofia, mentalidade do futebol europeu. Essas últimas derrotas da Seleção Brasileira tem afetado, até em números de estrangeiros, tem diminuído muito o número de jogadores brasileiros lá no Japão. Eles estão preferindo mais os jogadores europeus .

Como é a reputação do Oswaldo de Oliveira lá no futebol japonês?

– O Oswaldo é um Deus lá, principalmente pro Kashima Antlers. Ele foi tricampeão japonês, ganhou quase todas as Copas lá, só não ganhou a Ligas do Campeões da Ásia no Kashima. Então é um cara que tem um respeito muito grande, não só pelo povo de Kashima, mas por todo o país.

Houve conversa para você se naturalizar japonês?

Da minha parte sim, eu pensava, eu sonhava em jogar pela seleção japonesa, até por tudo que fizeram por mim lá e ajudar de alguma forma, e a maneira seria jogando futebol. Mas não teve nada oficial, não recebi nenhuma proposta da Federação, foi mais a minha parte mesmo que o dono do meu clube, um cara muito forte lá no Japão em termos de politica. Então, houve assim, em conversas com a diretoria, manifestar meu interesse, mas a diretoria mesmo não houve nada. E é muito difícil, porque você precisar ter o terceiro ano de escolaridade lá.

Sua ida para o Kashima já está certa?

Já sim, já assinei o pré-contrato, era pra eu ter ido no meio do ano, mas como eu ainda tinha vínculo com o outro clube, eles não quiseram me liberar, mas já está certo, assinei o pré-contrato. Dois anos de contrato.

Qual foi o melhor treinador que você teve?

Sem dúvida foi o Nelsinho Batista, nesses últimos dois anos.

Investimento no futebol chinês cresceu muito, você acha que os jogadores estão olhando com bons olhos agora?

– Acho que todo jogador pensa assim, sonha em ir pra China. O mercado chinês influencia muito, estão pagando muito dinheiro, todos os jogadores que converso, até os que estão aqui no Brasil mesmo, fala de ir para lá.

Qual a situação do futebol japonês na questão financeira?

– Antigamente, eles pagavam mais, aquela época do Zico, Alcino, Bismarque eles ganharam muito dinheiro lá. Eles ainda pagam bem, hoje está atrás da China e de alguns clubes do mundo árabe.

E a questão de torcida, como é? Estádio é lotado sempre?

– Sim, em todos os jogos. Lá tem o Campeonato Japonês, tem as Copas e sempre é casa cheia. Nosso estádio, todo jogo era 25, 30 mil pessoas no estádio.

Você se adaptou à cultura lá com facilidade?

– Adaptei sim. Quando comecei a viver no Japão, me adaptei à cultura deles. Você chega com a mentalidade brasileira e é complicado. Mas consegui me adaptar bem.

Como é o dia a dia nos times do Japão? A diferença é grande nos treinos para o futebol daqui?

– Quando você fala de mundo árabe, tem sim uma diferença muito grande, nunca joguei, mas tenho alguns companheiros que jogaram lá e eles falam que treinam pouco. No Japão já mudou muito isso. A gente faz um período só de treinamento por dia, mas é um período que você realmente não consegue treinar à tarde. Eu falo principalmente, nos últimos dois anos o Batista é o nosso treinador, foi o meu técnico lá no Japão e os treinos dele são realmente muito puxados.