Em celebração ao Dia Internacional do Jovem Trabalhador, a edição desta quinta-feira, 24, do programa Arena Repense do Sistema Sagres trouxe uma reflexão profunda sobre os desafios e oportunidades enfrentados pelos jovens no atual cenário do mercado de trabalho. Transmitido ao vivo do auditório da RENAPSI, Unidade Goiás, o programa foi marcado por um clima de troca de experiências e muita inspiração.
A edição teve como tema central as mudanças provocadas pelas novas tecnologias e a ascensão da inteligência artificial no mundo do trabalho. Além disso, o programa contou com o depoimento de Eduarda Lohrany, ex-jovem aprendiz que hoje atua como instrutora de aprendizagem na própria RENAPSI.
“Para mim, essa data é duplamente especial. Além do Dia do Jovem Trabalhador, hoje também celebramos o Dia Nacional da Libras, que tem tudo a ver com a minha trajetória”, iniciou Eduarda, que cursou Letras-Libras e iniciou sua trajetória profissional em 2019 como jovem aprendiz na instituição.
Eduarda compartilhou como venceu a timidez, superou obstáculos e aproveitou as oportunidades que surgiram em seu caminho. “Eu precisava pagar as apostilas da faculdade e vi alguns jovens uniformizados no ônibus. Fiquei curiosa e fui atrás. Acabei encontrando a RENAPSI. Nem sabia o que era rescisão quando fui chamada para a entrevista, mas agarrei a oportunidade”, contou.
Experiência profissional
Ela destacou que, além da experiência profissional, o programa de aprendizagem também foi crucial para seu crescimento pessoal. “Eu era muito tímida e o atendimento ao público me ajudou a desenvolver a comunicação. Os feedbacks e os desafios moldaram quem eu sou hoje”, disse, com brilho nos olhos.
O programa também revelou um marco na trajetória de Eduarda: sua participação em um concurso que lhe rendeu uma vaga em um intercâmbio internacional. “Fui a única brasileira selecionada. Era 2020, veio a pandemia e achei que tinha perdido tudo. Mas no ano passado consegui realizar essa viagem. A RENAPSI me proporcionou uma experiência incrível na França e na Suíça. Foi um divisor de águas na minha vida”, contou.
“Jamais imaginei, no ensino médio, que um dia estaria do outro lado da cadeira. Hoje, sou apaixonada pelo que faço e muito grata por cada passo dessa jornada”, continuou Eduarda.
“A capacidade de pensar e se adaptar será o diferencial”, diz professor da UFG
Outro destaque da edição foi a participação do professor Tiago Marques, da Universidade Federal de Goiás (UFG), especialista em inteligência artificial (IA), que trouxe reflexões profundas e práticas sobre o tema. Ele destacou que a IA está provocando uma verdadeira revolução nas profissões ao automatizar tarefas repetitivas e operacionais.
“Antes, muitas profissões exigiam força física e atividades previsíveis. Hoje, essas tarefas estão sendo realizadas por máquinas.” Apesar disso, Marques fez questão de reforçar que novas oportunidades estão surgindo: “Quando você gera valor, gera resultado, você tem a possibilidade de ampliar os negócios, levando mais emprego e renda para a sociedade.”
Entre os exemplos de aplicação cotidiana da inteligência artificial, ele citou desde os algoritmos que recomendam vídeos nas redes sociais e filmes no streaming, até os assistentes virtuais como Siri e Alexa. “A IA já faz parte do nosso dia a dia. Quando você usa o GPS para traçar uma rota, é a inteligência artificial que está por trás.”
A fala do professor ganhou ainda mais relevância ao tratar das competências que os jovens precisam desenvolver. Segundo ele, mais do que dominar ferramentas tecnológicas, o essencial é cultivar habilidades humanas. “O que mais vai diferenciar os jovens no mercado de trabalho não é ser um gênio da computação. O diferencial está nas habilidades humanas — saber se comunicar, liderar, ter empatia e pensamento crítico”, afirmou.
Aprendizagem contínua
Marques também abordou a importância da aprendizagem contínua em um mundo em constante transformação. “Não adianta só ter a informação. É preciso entender o que ela significa e como ela pode ser aplicada para tomar melhores decisões”, explicou. E completou: “A disciplina de buscar conhecimento é fundamental. Hoje temos cursos gratuitos de universidades renomadas disponíveis online. Basta ter um celular com acesso à internet.”
O professor passou ainda uma mensagem direta aos jovens aprendizes da RENAPSI presentes no auditório e aos que assistiam ao programa: “Se você busca entender, aplicar e inovar com as ferramentas que tem à disposição, certamente será percebido por seus líderes. Você será aquele jovem que agrega valor e se destaca.”
Foco na juventude
O professor Tiago ainda respondeu a perguntas sobre o futuro do mercado de trabalho na área de inteligência artificial. Ele explicou que a tecnologia, hoje, é uma ciência transversal. “Você pode estar atuando em várias empresas, porque tudo precisa de tecnologia. Desde cirurgias com robôs até pequenas lojas, todas demandam soluções automatizadas.”
Tiago destacou ainda que a UFG abriga o primeiro curso de bacharelado em inteligência artificial do país, e que a procura por esses profissionais tem crescido vertiginosamente. “O curso hoje tem a maior nota de corte do Enem, superando inclusive Medicina e Direito”, afirmou. Segundo ele, a alta demanda já faz com que estudantes sejam recrutados ainda durante a graduação. “Tem aluno que nem concluiu o curso e já está trabalhando em empresas, recebendo bolsas de até três mil reais, isentas de imposto.”
Sobre salários, o professor não poupou dados. “Hoje temos profissionais ganhando de 10 a 20 mil reais aqui no Brasil, e muitos trabalhando remotamente para empresas no exterior, com salários de 5 a 6 mil dólares”, pontuou. No entanto, ele também fez um alerta: “O fato de trabalhar em casa não significa trabalhar pouco. É preciso dedicação e preparo técnico.”
Dado preocupante
Ele também apontou um dado preocupante: o déficit de mão de obra na área. “Hoje há um déficit de mais de 500 mil vagas na tecnologia no Brasil. A demanda do mercado cresce muito mais rápido do que a nossa capacidade de formar pessoas.”
No último bloco do programa, o público pôde interagir diretamente com os convidados. A jovem Maria Júlia, presente no auditório, fez uma pergunta à Eduarda. Ela quis saber como ela escolheu sua profissão e o que a motivou a continuar.
Eduarda compartilhou sua trajetória com base na empatia. “Quando eu estava no ensino médio, já tinha contato com a comunidade surda. Tinha uma colega que não conseguia se comunicar com ninguém, e comecei a aprender libras para me conectar com ela”, contou. “Percebi que gostava de ouvir, de acolher as pessoas, e decidi fazer psicologia para me tornar uma psicóloga acessível.”
Segundo ela, a decisão foi tomada aos 17 anos. “Fiz o Enem com a psicologia como primeira opção, e letras-libras como segunda. Eu queria fazer a diferença para pessoas que, muitas vezes, não são ouvidas – literalmente”, concluiu.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade
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