LUÍS CURRO, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma das preocupações relacionadas à Copa do Mundo do Qatar, desde que o país foi eleito para sediar a competição, em 2010, são as altas temperaturas no Oriente Médio.

Tanto que, em medida tomada para tentar contornar a situação, a Fifa decidiu realizar a competição no final do ano, e não na metade, como é praxe.

O motivo: fugir do calor escaldante do verão qatariano, no qual os termômetros ultrapassam facilmente os 40° C, tornando inadequada a prática do futebol.

Com o Mundial em novembro e dezembro, as temperaturas caem, mas permanecem elevadas. Nesta semana, a máxima prevista é de 32° C, e no domingo (20), dia do jogo de abertura (Qatar x Equador), pode chegar a 29° C.

Quem se preocupa com jogadores exaustos em campo, suplicando por água e sem condição física para atuar até o final das partidas -várias vezes isso se viu no Aberto da Austrália de tênis -, pode, contudo, relaxar.

Pouco se comentou nos noticiários, e por isso muita gente não sabe, que sete dos oito estádios que receberão jogos na Copa do Qatar são climatizados.

Assim, calor mesmo só fora deles. As seleções podem sofrer com o clima nos treinamentos, e os torcedores, nas ruas. Nas arenas, não.
Estádios do Mundial possuem sistema de ar condicionado que amenizará o calor sentido não só pelos atletas como pelos fãs que estarão acompanhando presencialmente os jogos.

Isso graças ao trabalho na área desenvolvido por um docente da Universidade do Qatar, o engenheiro sudanês Saud Abdul Ghani, que passou a ser conhecido como Dr. Cool (Doutor Refresco).

Texto no site da Fifa aborda o sistema de climatização dos estádios, destacando os tópicos inovação e sustentabilidade, e enaltece a atuação de Abdul Ghani, que desenvolveu a tecnologia de resfriamento.

De acordo com a organizadora da Copa, “usando energia solar, o ar externo é resfriado e distribuído por meio de painéis nas arquibancadas e grandes bocais nas laterais do campo. Os sistemas usam isolamento e resfriamento pontual para torná-los o mais ecológico possível”.

O Dr. Refresco conta no artigo como chegou ao resultado final de seu projeto de ventilação: “Meu estudo de doutorado concentrou-se no ar condicionado de um carro, e aplicamos a mesma teoria aos estádios da Copa do Mundo, mas obviamente em uma escala muito maior”.

Ele prossegue: “Nossa técnica de circulação de ar o esfria, filtra-o e o empurra para os jogadores e torcedores. Cada estádio é refrigerado a uma temperatura confortável de cerca de 20 graus, com resfriamento local que reforça nosso compromisso com a sustentabilidade e o meio ambiente”.

O sistema não é patenteado, o que significa que qualquer um, seja ente público ou privado, de qualquer lugar do mundo, pode utilizá-lo.

“Essa tecnologia é um divisor de águas em potencial para países com climas quentes. É por isso que me assegurei de que qualquer pessoa possa usá-lo”, afirma Abdul Ghani.

Um dos resultados práticos, diz o pesquisador, pode ser visto em fazendas, nas quais a tecnologia permite o cultivo de alimentos de forma eficiente mesmo nos meses mais quentes do ano.

“Tenho muito orgulho de que essa tecnologia, originária do Qatar, possa ser adaptada por outros países e empresas. É um dos muitos presentes do Qatar para o mundo, resultante da realização da Copa do Mundo”, conclui o Dr. Refresco.

A única arena da Copa do Qatar a não fazer uso do ar condicionado é a 974, em Doha, cuja ventilação é natural.

Construído a partir de contêineres e de aço modular, o estádio 974 é desmontável. É também o local do segundo jogo da seleção brasileira, no dia 28, contra a Suíça.