A cidade novamente amanheceu sobre o império da massa polar. O fato preponderante, porém, é que a solução ao CityBus continua envolta nas brumas do desrespeitos há cerca de três semanas.
Os empresários anunciaram que o serviço seria tirado de circulação. A Câmara Deliberativa do sistema chiou e ameaçou mexer no bolso das quatro empresas concessionárias do serviço de transporte coletivo. No meio do tiroteio, a empresa reguladora, a CMTC, que deveria cuidar do sistema em todos os seus aspectos está acéfala, pois o seu presidente Ubirajara Alves está de férias, em Cancún, um centro turístico mexicano.
Tudo que permeia a questão do transporte coletivo urbano em Goiás é sui generis. Quando a estrutura desse atual modelo começou a ser desenhada no final dos anos de 1970, por Hailé Pinheiro e Odilon Santos, sob as bênçãos de Irapuan Costa Júnior, então governador goiano, ninguém tinha tempo sequer para se alimentar.
O país estava prestes a ingressar no processo de redemocratização e as oportunidades econômicas saltavam aos olhos. HP Transporte e Rápido Araguaia não queriam empresas de fora atuando em Goiânia e cidades circunvizinhas. Juntas, convenceram outros sete empresários a ingressarem no ramo. Não fazia frio. Não havia nenhuma massa de ar polar. Não havia Cancún. Era época de semear.
Passadas três décadas, os negócios estão nas mãos de outra geração, mas tudo em família. O mercado é ainda mais pujante, mas já não se enquadra mais com tanta facilidade às confabulações de bastidores. Achou-se, então, que a ameaça em suspender o CityBus seria suficiente para tremer as bases do poder público.
O tiro saiu pela culatra, pois a cobrança, agora, é mais do que a permanência em operação do CityBus. As praças, assim como setores do poder que não estão em final de carreira, querem conhecer as entranhas do sistema. Mais precisamente, as planilhas de custos. E agora Edmundo Pinheiro?
O sistema na capital goiana tem uma carteira com 19 milhões de usuários ao mês, o que gera uma lucratividade bruta em torno de 51 milhões de reais ao mês. Os empresários, comandados pelo Setransp, que é dirigido por Edmundo Pinheiro, garantem que estão quebrados, mas não parecem prontos a entregar o serviço.
Para tentar equacionar uma solução ao impasse, o comandante da CMTC, então, está meditando sobre o sol mexicano. Quem sabe ele não consegue uma resposta que fuja aos resultados tradicionais na esfera do poder econômico. Ou seja, a maioria obedece a minoria endinheirada. O tempo, com certeza vai esquentar, mas o clima continuará seco e escasso de qualidade para a população.