O que têm em comum Marco Silva, Leonardo Jardim, Bruno Lage, Marcelo Gallardo e Miguel Ángel Ramírez, nomes apresentados pelo Flamengo como preferidos para substituir Jorge Jesus? Todos são estrangeiros. Os três primeiros são portugueses, Marcelo Gallardo é argentino e Miguel Ángel Ramírez é espanhol.

O clube da Gávea não encontrou um nome entre os técnicos brasileiros com capacidade para dirigir seu elenco, e o Flamengo está certo. A safra de técnicos brasileiros não é boa e não vem sendo há alguns anos. Tivemos uma boa passagem de Luiz Felipe Scolari pela Seleção Portuguesa, mas não tivemos nenhum nome brasileiro que tenha se consagrado no mercado internacional em um grande clube, como técnico.

Houve acomodação dos mais velhos em quem os mais jovens se espelham e tudo ficou repetitivo. Das novidades, há notória visibilidade de Renato Gaúcho que considero justa, pois o tenho na condição de melhor técnico brasileiro da atualidade. Ainda é o que tenta inovar, sem querer transformar o jogador brasileiro em jogador europeu. Os demais assistem os jogos de lá e querem seus times jogando semelhante e se esquecem que o futebol brasileiro tem como características principais a técnica apurada, a habilidade nata e capacidade individual.

Os esquemas táticos do Renato Gaúcho são rígidos, mas não tiram dos jogadores este perfil nacional. Mas mesmo ele ainda deve muito aos estrangeiros, que estão lá na frente na forma de qualificar o time. Jorge Jesus, o português que ganhou tudo o que disputou com Flamengo, respeitou o perfil dos jogadores brasileiros e implementou leituras circunstanciadas nos jogos. O último exemplo foi a praticada na decisão do Campeonato Carioca, quando notou que o lateral esquerdo Egídio, do Fluminense, havia chegado no limite da estafa física e com isto se limitava a ficar pelo lado esquerdo da zaga dando chutões para frente, só que seus chutes não estavam cruzando o meio-campo.

Neste momento Jesus perdeu o lateral direito Rafinha, contundido, e ao invés de colocar no jogo um outro lateral direito destro, ele colocou um atacante canhoto. Naturalmente para aparar a bola estourada pelo Egídio carregar entre ele e a zaga, fechando em diagonal e finalizando para o gol. Quem entrou foi Vitinho, e foi ele o autor do gol da vitória flamenguista exatamente na jogada antevista pelo treinador.

Esta evolução de análise circunstanciada do adversário dentro do jogo, que Jorge Jesus fez várias vezes no Flamengo é algo que veio pra ficar, mas os nossos técnicos ainda estão na sopa de letrinhas táticas: 4-3-2-1, 3-5-2, 4-2-4, 4-3-3, e isto já está completamente ultrapassado.

Com Jorge Jesus no Flamengo a nova safra de treinadores brasileiros teria um espelho para crescer em conhecimento. Sem ele um vai se espelhando um no outro e todos vão assistindo os jogos internacionais e querendo aplicar aqui o que os europeus fazem por lá com elencos excepcionais, condição de capacitação de última geração e clima completamente diferente.

Ou seja, deveremos continuar com técnicos medianos por mais um período. Isto pode mudar se o Flamengo acertar com um dos estrangeiros, e se este tiver a competência que o Jorge Jesus provou ter enquanto dirigiu o clube.

Se vier um treinador à altura do português, será bom para o futebol brasileiro, que terá outra vez um espelho para os nossos técnicos, que estão chegando no mercado agora, crescerem. A outra turma já envelheceu, ficou milionária, não acompanhou a evolução do futebol e para ela não acredito que tenha salvação.