Bolsonaro durante procnunciamento na tarde desta sexta-feira (24), horas depois do pedido de demissão de Moro (Foto: TV Brasil/Reprodução)

Acompanhado pelos ministros e por um dos filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro, o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) fez um amplo pronunciamento na tarde desta sexta-feira (24), horas depois do anúncio de demissão feito por Sergio Moro, que deixou a pasta da Justiça e Segurança Pública. “O senhor [Moro] disse na sua coletiva, por três vezes, o senhor disse que tinha uma biografia a zelar. Eu digo à vossa senhoria que eu tenho um Brasil a zelar”, disse Bolsonaro. 

Sergio Moro deixou o Ministério depois que Bolsonaro exonerou o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, indicado pelo ex-ministro. De acordo com o presidente, Moro teria exigido que a troca ocorresse no final do ano, depois que fosse indicado para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). 

“Você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal. Me desculpe, mas não é por aí. Reconheço as duas qualidades em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho, mas eu não troco. E outra coisa, é desmoralizante para um presidente ouvir isso”, relatou Bolsonaro no pronunciamento. 

Nas redes sociais, quase durante o pronunciamento, Moro foi às redes sociais rechaçar a declaração do presidente. “A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF”, publicou.  

{source}
<blockquote class=”twitter-tweet”><p lang=”pt” dir=”ltr”>A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF.</p>&mdash; Sergio Moro (@SF_Moro) <a href=”https://twitter.com/SF_Moro/status/1253793469627326464?ref_src=twsrc%5Etfw”>April 24, 2020</a></blockquote> <script async src=”https://platform.twitter.com/widgets.js” charset=”utf-8″></script>
{/source}

Bolsonaro relatou que, em reunião com Sergio Moro nesta semana, sugeriu a troca no comando da PF por reconhecer que Valeixo estaria cansado. “Está na hora de botar um ponto final nisso. Ele está cansado, está fazendo como pode o seu trabalho. Pessoalmente não tenho nada contra ele, conversei poucas vezes com ele durante 1 ano e quatro meses, e a maioria das vezes estava o Sergio Moro do lado”, disse. “Era intenção dele, como ele [Valeixo] declarou ontem, que desde janeiro queria sair. Nós cansamos, não somos máquinas. No dia de ontem conversei com o senhor Sergio Moro, só eu e ele. Eu sempre abri o coração para ele. Eu já duvido se ele sempre abriu o coração para mim. Eu sempre disse aos meus ministros: ‘a confiança tem de ter dupla mão’”, complementou. 

Também nas redes sociais, depois do pronunciamento, Moro respondeu sobre a declaração de Bolsonaro em relação ao ex-diretor-geral da PF. “De fato, o Diretor da PF Maurício Valeixo estava cansado de ser assediado desde agosto do ano passado pelo Presidente para ser substituído. Mas, ontem, não houve qualquer pedido de demissão, nem o decreto de exoneração passou por mim ou me foi informado”, tuitou o ex-ministro. 

{source}
<blockquote class=”twitter-tweet”><p lang=”pt” dir=”ltr”>De fato,o Diretor da PF Maurício Valeixo estava cansado de ser assediado desde agosto do ano passado pelo Presidente para ser substituído.Mas,ontem,não houve qualquer pedido <br> de demissão,nem o decreto de exoneração passou por mim ou me foi informado.<a href=”https://t.co/zadUXo3J4P”>https://t.co/zadUXo3J4P</a></p>&mdash; Sergio Moro (@SF_Moro) <a href=”https://twitter.com/SF_Moro/status/1253799660751409153?ref_src=twsrc%5Etfw”>April 24, 2020</a></blockquote> <script async src=”https://platform.twitter.com/widgets.js” charset=”utf-8″></script>
{/source}

No início e no final do pronunciamento nesta tarde, Bolsonaro disse que chegou a comentar com deputados em um café da manhã nesta sexta-feira (24) que Moro o colocaria contra o povo, ao tomar a atitude de deixar o Ministério da Justiça, no fim da manhã. 

“Sabia que não seria fácil. Uma coisa é admirar uma pessoa, a outra é conviver com ela, trabalhar com ela. Hoje pela manhã, tomando café com alguns parlamentares, eu lhes disse: ‘hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo próprio, com seu ego, e não com o Brasil’. O que tenho ao meu lado e sempre tive foi o povo o brasileiro. Hoje essa pessoa vai buscar uma maneira de botar uma cunha entre eu e o povo brasileiro. Isso aconteceu há poucas horas”, afirmou. 

Em pronunciamento para anunciar a própria demissão, Moro revelou que o presidente da República teria interesse em colocar no comando da PF alguém com quem pudesse manter contato sobre as investigações feitas pela corporação. Bolsonaro rechaçou o ex-ministro. “Nunca pedi a ele [Moro] o andamento de qualquer processo, até porque a Inteligência com ele perdeu espaço na Justiça, quase que implorando informações”, disse. 

O ex-juiz e agora também ex-ministro Sergio Moro, precursor das investigações na Operação Lava Jato, permaneceu à frente da pasta da Justiça e Segurança Pública por um ano e quatro meses. 

“Não tenho mágoas do senhor Sergio Moro. Hoje pela manhã, acredito que 7 ou 8 deputados, ou meia dúzia, tomaram café comigo. E eles estão à vontade se quiserem falar ou não. Hoje vocês vão conhecer quem realmente não me quer na cadeira presidencial. Esse alguém não está no Poder Judiciário, nem está no parlamento brasileiro. Não lhes disse o nome. Falei ‘vocês vão conhecê-lo às 11h da manhã’”, ressaltou. 

O início da relação Bolsonaro-Moro 

Assim que iniciou o pronunciamento, Bolsonaro relembrou como conheceu o ex-ministro, quando Moro ainda era juiz federal, em março de 2017, segundo ele por coincidência, no aeroporto de Brasília. “Ele praticamente me ignorou. A imprensa toda noticiou isso, dando descrédito à minha pessoa. Confesso que fiquei triste porque ele era um ídolo para mim. Eu era apenas um deputado, humilde deputado como são a maioria dos que estão no parlamento brasileiro. Não vou dizer que chorei porque estaria mentindo, mas fiquei muito triste”, relembrou o presidente. 

Bolsonaro, que reiterou que Moro não participou de sua campanha à Presidência em 2018, disse que foi cauteloso no contato com o então juiz federal. “Eu evitei conversar com ele naquele momento, entre o primeiro e o segundo turno, porque com toda certeza essa visita se tornaria pública e eu não queria aproveitar do prestígio dele para conseguir a vitória no segundo turno”, relatou. 

Após o resultado das eleições, Bolsonaro receberia Moro em sua casa na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde oficializaria o convite para o Ministério da Justiça. Bolsonaro falou sobre a indicação do nome de Maurício Valeixo para a diretoria-geral da PF, e que ficou surpreso com a equipe que o ex-ministro traria para Brasília, todos de Curitiba, capital do Paraná, onde Moro atuava como juiz federal. 

“Autonomia não é sinal de soberania. A todos os ministros, e a ele [Moro] também, falei do meu poder de veto. Os cargos-chaves (sic) teriam que passar pelas minhas mãos e eu daria o sinal verde ou não. Para todos os ministros foi feito dessa maneira. Mais de 90% desses cargos que passaram pelas minhas mãos eu dei o sinal verde. Assim foi também com o senhor Valeixo, até ontem (23) diretor-geral da nossa honrada e gloriosa Polícia Federal. A indicação foi do senhor Sergio Moro, apesar de a lei de 2014 dizer que a indicação para esse cargo e a nomeação é exclusiva do senhor Presidente da República. Abri mão disso porque confiava no senhor Sergio Moro. Ele trouxe a sua equipe aqui para Brasília. Todos os cargos-chaves (sic) são de Curitiba, inclusive a Polícia Rodoviária Federal. Lógico, me surpreendeu. Será que os melhores quadros da PF todos estavam em Curitiba? Mas, vamos confiar, vamos dar um crédito. E assim nós começamos a trabalhar”, afirmou. 

Casos Marielle e Adélio 

Durante o pronunciamento, Bolsonaro disse que esperava que a Polícia Federal investigasse o caso Adélio Bispo de Oliveira, autor da faca contra o então candidato a presidente da República em setembro de 2018, a cerca de um mês das eleições, e questionou a importância que a PF teria dado ao caso do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrido em março daquele ano. 

“Falava-se em interferência minha na Polícia Federal. Oras (sic) bolas, se eu posso trocar o ministro, por que não posso, de acordo com a lei, trocar o direitor da Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para trocar o diretor ou qualquer outro que esteja na pirâmide hierárquica do Poder Executivo. Será que é inteferir na Polícia Federal, quase que exigir e implorar Sergio Moro que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com o seu chefe supremo. Cobrei muito deles isso daí. Não interferi. Eu acho que todas as pessoas de bem no Brasil querem saber. Entendo, e desculpe-me senhor ex-ministro, entre o meu caso e o da Marielle, está muito menos difícil de solucionar. Afinal de contas, o autor [Adélio] foi preso em flagrante delito, mais pessoas testemunharam, telefones foram apreendidos. Três renomados advogados, em menos de 24 horas, estavam lá para defender o assassino. Isso é interferir na Polícia Federal?”, afirma. 

As investigações chegaram a apontar uma suposta relação de Bolsonaro com Ronnie Lessa, possível mandante do crime contra a vereadora, e que morava no mesmo condomínio do presidente, o Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro. O porteiro do condomínio também foi interrogado pela PF. 

“Será que é interferir na Polícia Federal exigir uma investigação sobre esse porteiro? O que aconteceu com ele? Ele foi subornado? Ele foi ameaçado? Ele sofre das faculdades mentais? O que aconteceu para ele falar com tanta propriedade um fato que, segundo ele, existiu há praticamente um ano atrás?”, indagou. “Nunca pedi para ele (Moro) que a PF me blindasse, onde quer que fosse”, disse.

Assista ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro

{source}
<iframe src=”https://www.facebook.com/plugins/video.php?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Ftvbrasilgov%2Fvideos%2F557747058236523%2F&show_text=0&width=560″ width=”560″ height=”315″ style=”border:none;overflow:hidden” scrolling=”no” frameborder=”0″ allowTransparency=”true” allowFullScreen=”true”></iframe>
{/source}

Quer saber mais sobre o coronavírus? Clique aqui e acompanhe todas as notícias, tire as suas dúvidas e confira como se proteger da doença