Ontem e hoje (4) a TV Anhanguera veiculou vídeos em que Anniela Braga, filha do secretária da Fazenda de Goiás, Jorcelino Braga, aparece recebendo dinheiro para, supostamente, facilitar liberação de recursos do Estado para uma entidade de amparo a crianças.

OUÇA A ENTREVISTA COM JORCELINO BRAGA

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Com exclusividade e ao vivo, Braga disse ao programa Opinião Livre, da Rádio 730, que procurou o Ministério Público assim que tomou conhecimento do assunto e que já há pistas de como tudo aconteceu. O assunto está sendo investigado pela polícia goiana. Confira a entrevista com o secretário.

O que há de verdade nessa denúncia?

Jorcelino Braga: Quando eu tomei conhecimento disso, dia 22 de janeiro, fui ao Ministério Público e pedi apuração. Estava em Brasília, recebi a ligação de uma pessoa dizendo que estava havendo um problema com minha filha. Eu perguntei: “Qual filha? Porque tenho várias”. Me falaram que era a Anniela, uma que eu tive no meu primeiro relacionamento. Não é um convívio diário que tenho, mas é minha filha. Se cometeu erro, vai pagar. Com relação a minha interferência para liberação de recurso, eu acho um absurdo esse tipo de coisa. Até porque, quem solicita o valor e quem vai pagar é o órgão, não sou eu que recebo. Evidentemente que, como secretário da fazenda, se eu quisesse para algum secretário da saúde para liberar alguma coisa, com certeza, poderia me ajudar. Mas eu não fiz isso. Meu sigilo bancário, telefônico, está todo aberto para quem quiser.

JOSÉ LUIZ DATENA COMENTOU O FATO, OUÇA:

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O sr. chegou a conversar com a sua filha depois da denúncia?

Jorcelino Braga: Não. Eu não conversei. Pedi a meu filho que fosse lá conversar com ela para saber o que era isso. O que tinha de verdade nisso. O que ela disse para a mãe dela e para meu filho é que ela trabalhava nessa instituição e não recebeu o dinheiro. Foi lá para receber um valor por ter trabalhado não sei quantos meses lá. E disse que tem testemunha na igreja dela. Mas eu não vou entrar nesse detalhe. Tem que ser apurado pela justiça.

O que o sr. relatou no MP?

Jorcelino Braga: Disse que no dia 22 de janeiro eu estava em Brasília, recebi a ligação de uma pessoa dizendo que confiava em mim, que gostava de mim e para que tomasse cuidado porque tinha um filha usando meu nome em alguma entidade para ganhar dinheiro. Eu liguei de lá, para o Dr. Carlos Alberto e ele me disse para que quando eu chegasse fosse ao MP. Eu fui e pedi o processo de apuração.

»Clique aqui e veja a 1ª parte do pedido de apuração feito ao MP

»Cique aqui e veja a 2ª parte do documento 

Conversou com o governador sobre o assunto?

Jorcelino Braga: Conversei. É um assunto muito sério. A gente já viu casos de pai com problema com o filho, mas é pai, né? Então eu fui ao governador e falei: ‘olha, vai ter um problema. Aconteceu isso…’ Coloquei meu cargo a disposição dele, porque é um caso que vai ter que ser apurado. É um assunto chato Ele disse: ‘eu não aceito seu pedido, confio em você. Continue trabalhando’.

O que o MP fez após sua solicitação?

Jorcelino Braga: Olha, eu não sei. Eu fiz essa solicitação e depois fui a polícia, pedir ao secretário Ernesto Roller que apurasse isso. Me parece que quem está cuidando disso é a Dr. Renata Chein.

Sendo possível candidato da Nova Frente, qual seu ponto de vista sobre esse cenário, diante da denúncia?

Jorcelino Braga: Eu tenho recebido, desde o final do ano passado, amigos dizendo que a partir de janeiro o pessoal ia tentar desmoralizar minha imagem e, com isso, destruir  a imagem do governo. É um jogo sórdido, sujo… Mas, do ponto de vista prático, nas investigações, já começaram a aparecer que alguém teve interesse nesse assunto, que alguém pagou para que isso seja feito. O que eu estou esperando é que a polícia e o MP, apure e depois toda a população venha saber. O ato de moça levar vantagem, ela tem que pagar por isso. Ela disse que era emprega e foi lá receber. Eu não vou prejulgar se ela é culpada ou inocente. Quem vai decidir isso é a justiça. O que eu pedi foi o seguinte: que a investigação começasse primeiro pela minha filha. Agora, evidentemente, que vão investigar ela, quem fez o filme, quem está envolvido nesse processo… E elas já caminham para mostrar que, realmente, tem um especialista em vender, comprar e armar coisas para os outros. Se Deus quiser, a gente vai poder divulgar quem pagou para poder fazer isso e o valor que está aparecendo é muito significativo.

Qual a consequência política que o sr. acha que pode ter?

Jorcelino Braga: Essa condição de política eu nunca quis. Estou na vida pública por obra do destino. Nunca quis mexer com isso. E não quero. Na verdade, esse assunto de candidatura é que foi pedido para eu me filiar – e é lógico que ninguém se filia se não tiver um objetivo que não seja político. Disse para o meu governador: “Se o senhor quer eu seja uma das peças para estar dentro baralho político para discutir uma nova alternativa, estou pronto…”. Eu tenho lealdade e confio nesse governo. Acho que o Alcides é um homem sério, trabalha muito e vai ficar na história pela seriedade que fez as coisas. Está corrigindo todo tipo de bandalheira que existia no passado. E eu entendo isso como uma bandalheira política. Se Deus quiser eu vou conseguir provar isso, quanto pagou para isso e quem são os envolvidos. Temos pistas segurar de que, realmente, o assunto vai desatar em assunto político. Evidentemente que pegaram uma fraqueza da Anniela, mas, disso aí, para tentar desmoralizar a mim e ao governo. Mas a gente vai apurar e não vou prejulgar ninguém. Quando tivermos os fatos concretos vamos mostrar para a imprensa.

Chegou a repensar sobre seu posicionamento político de ser o candidato da Nova Frente?

Jorcelino Braga: A minha disposição, agora, dobra. É o contrário. Acho que a partir do momento que o jogo passa a ser da forma com que está sendo feito minha vontade é redobrada. Mas continuo desde o primeiro momento com o mesmo discurso. Se amanhã o meu governador achar que eu deva ser útil e deva ir para isso e as pessoas que estão envolvidas nesse processo, que o Sandro Mabel, Ronaldo Caiado, Ademir Menezes, o presidente do meu partido, que o Sérgio Caiado, o Vanderlan – que é um sujeito que tem um bom perfil para ser candidato, o Ernesto Roller que é uma pessoa que tem feito um bom trabalho.  São pessoas de bem e que estão indignados com essa coisa toda. Todos eles já me ligaram e se solidarializando comigo. Me perguntaram como é que eu me sentia e eu disse que estava em uma condição de paz. Impotente. Quando eu vi o assunto do Pelé com o filho dele, hoje eu fico olhando o que ele passou. Como é que ele conseguiu passar por cima disso e ter a serenidade e sobriedade, na época.

Como o sr. avalia a conduta a Organização Jaime Câmara?

Jorcelino Braga: Do jeitinho que eu estou lhe dizendo, eu passei para a Organização Jaime Câmara a cópia do meu depoimento no Ministério Público e eles não colocaram na matéria. Eu acho que é de importância. Eu acho que a partir do momento que o secretário é a primeira pessoa a pedir investigação e eles não colocam, eu acho que eles erraram. Não sei qual o motivo. O vídeo, evidentemente, vai precisar de perícia, para ver se não houve montagem. Porque no primeiro momento a gente fica triste, mas a gente tem que dar, às pessoas, a chance de se defender. A conversa foi muito curta. Você vê que a pessoa é induzida a falar. Ela fala só a figura “meu pai”. Em um momento só, no assunto. A gente precisa ver esse vídeo, a montagem que foi feita nele, vocês sabem que isso pode ser feito. Agora, também, nada exime que isso possa ser apurável. E que as pessoas culpadas, que paguem a conta.

O sr. foi procurado pela Rede Globo?

Jorcelino Braga: Não. Fui procurado pela TV Anhanguera. O único veículo que me procurou foi a TV e o Jornal O Popular.

No contexto da política, o sr. disse que irá manter o interesse em uma candidatura, a partir disso, a desincompatibilização já estaria definida com o governo?

Jorcelino Braga: Eu não conversei com o governador sobre isso. Eu já disse a você que eu vou tratar com ele. Se o governador achar que eu tenha que me desincompatibilizar em 31 de março, eu vou. Não conversei isso com ele nem com a Nova Frente, que tem nomes há muito tempo na estrada. Você ‘pega’ o Ronaldo Caiado, um sujeito que há muitos anos presta um grande serviço e sonha governar Goiás. O Ademir Menezes, da mesma forma o Ernesto Roller já é deputado estadual, está na frente. Eu costumo dizer que eu sou o último do banco de reservas.

Seria o sr. o último sonhador?

Jorcelino Braga: Na verdade, nesse assunto, a gente tem que ter bom senso. As pessoas que estão batalhando há mais tempo eu acho que elas tem, por direito, a chance de tentar viabilizar os nomes. Se não conseguir, eu já disse, eu estou lá no banco de reservas e vou jogar. E eu sei jogar. Quando for, vou jogar duro.

Para quando deve ser definido esse nome e fechada a estratégia da Nova Frente?

Jorcelino Braga: A partir do momento que tiver a desincompatibilização. Se o secretário da Fazenda sair do Governo, é claro que ele está saindo para um vôo de candidatura. Eu não pretendo me candidatar a nenhum cargo. Agora, a missão que o governador Alcides me der… Você representar pessoas do quilate do Demóstenes [Torres] do Ronaldo [Caiado], desse pessoal todo, é uma responsabilidade muito grande. Então, esse governo cair nas mãos erradas. Ele não pode voltar a ter uma irresponsabilidade que teve no passado. Ele precisa seguir o caminho natural dele, que é o da responsabilidade.

O sr. já participou de campanhas. Está muito cedo para esse debate esquentado, ou é natural?

Jorcelino Braga: Na verdade, eu nunca vi uma campanha começar com tamanha sordidez.  A gente vê as pessoas, primeiro questionar números do governo, que já foram aprovados na Assembleia Legislativa. O controle interno vai lá, mostra o déficit em reuniões técnicas lá dentro da Assembleia. E depois chega a dizer que querem uma CPI com o objetivo de tentar tumultuar, tentar trazer uma discussão que já está morta para confundir o eleitor.
Essas coisas, as pessoas precisam ter responsabilidade. Se não estão satisfeitos com os números do governo, peçam técnicos da Receita Federal, do Polícia Federal, da Secretaria do tesouro nacional, (STN) para avaliar o que foi feito, se tem déficit ou não. Quem quer resolver a questão não fica fazendo efervescência política.

Secretário, o termo de declarações do Ministério Público relata, que, em um dado momento, a senhora Ivone, da Associação Renascer, citada na matéria, teria solicitado uma ajuda para quitar o aluguel da Creche Renascer.

Jorcelino Braga: Ela foi lá Sefaz com a Aniella e minha secretária me disse que elas precisavam de uma ajuda para que as crianças da creche não fossem despejadas.  Eu fiz um cheque pessoal e com a ajuda de outros colegas nós juntamos esse dinheiro e doamos a essa senhora para ela quitar o aluguel. Foi a última conversa que eu tive com essa senhora. Depois fiquei sabendo que ela até tentou falar comigo.

Em outros momentos a senhora Ivone procurou a ajuda do senhor?

Jorcelino Braga: O Sandes Júnior me disse ontem que ela procurou ele e ele doou um valor para ela. Ela fez um convênio com a saúde, mas me parece que isso levou uns sete meses para ser liberado, o que é o trâmite normal. A justiça pode pegar o processo desde o começo e conferir todos os trâmites.

O senhor não tem um relacionamento harmônico com a Aniella. O que significa isso?

Jorcelino Braga: É uma filha do meu primeiro relacionamento, eu tinha uns 22 anos. Foi uma relação conflituosa e isso acaba atrapalhando. Eu não tenho uma convivência diária com ela, mas é minha filha, é registrada.

Essa questão não seria receio ou medo do senhor entrar na disputa? Ser candidato e levar a público algumas denúncias que tem movimentado esse debate político?

Jorcelino Braga: Eu não trabalho com isso tipo de coisa. Se eu quisesse fazer denúncia, já teria complicado a vida de muita gente. A pessoa que trabalha com denúncia e que tenta principalmente atingir família dos outros é crápula.