Caiado durante entrevista coletiva nesta quarta-feira (25) (Foto: Júnior Guimarães/Governo de Goiás)

O governador Ronaldo Caiado não pronunciou o nome do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a entrevista coletiva que concedeu na manhã desta quarta-feira (25) para anunciar que manteria seu decreto de isolamento social e seu rompimento político com o Palácio do Planalto. Nas vezes em que se referiu diretamente a Bolsonaro o fez sem citar seu nome. Mas não o poupou de críticas.

O governador iniciou a entrevista dizendo que precisava dar uma satisfação ao povo goiano depois do pronunciamento de Bolsonaro, na noite de terça-feira (24), quando ele condenou a paralisação das atividades econômicas como método para evitar a proliferação do contágio do coronavírus e adotada em vários Estados, incluindo Goiás. Caiado afirmou que sua noite tinha sido longa.

“Refleti muito buscando tudo que já li na minha vida médica, na vida política, como pai de família, como governador agora”. E na sequência declarou: “O decreto assinado por mim como governador vai prevalecer no Estado de Goiás. No Estado de Goiás, cabe a mim, como governador, cuidar da vida dos cidadãos e sei modular, sei calibrar as decisões que terei de tomar, disse referindo-se ao decreto que baixou dia 17, depois reformulado no dia 21

Dessa forma ele declarou o que denominou de “autonomia do Estado” em relação às decisões da Presidência da República sobre as formas de enfrentamento do coronavírus, e, indiretamente, seu rompimento com o presidente. “Se decisões precisarem ser tomadas junto ao governo federal, eu as tomarei junto ao Supremo [STF] e ao Congresso Nacional”, afirmou.

Caiado foi um dos governadores mais leais a Bolsonaro. Ele venceu a eleição no primeiro turno, com 59% dos votos sem fazer campanha para Geraldo Alckmin, candidato a presidente pelo PSDB em aliança com o DEM, nem declarar apoio a um dos demais candidatos. Só depois de eleito, em 10 de outubro, Caiado declarou apoio a Bolsonaro. Empossado, fez questão de estar sempre ao lado do presidente.

Apesar disso, o governador não conseguiu nestes 14 meses de governo ajuda da União a seu principal pleito, adesão de Goiás à recuperação fiscal, mas ainda assim evitou criticar o governo federal. O maior atrito público entre eles, entretanto, ocorreu em 15 de março. Bolsonaro quebrou a quarentena e participou de manifestação contra o Congresso Nacional e o STF, contrariando orientações sanitárias para evitar aglomerações de pessoas e o contágio do coronavírus. Já Caiado foi à Praça Cívica pedir o fim do protesto e foi vaiado. No entanto, o pronunciamento do presidente nesta terça-feira (24) entornou o caldo. 

“Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte, fechamento de comércio e confinamento em massa”, disse o presidente da República em cadeia de rádio e TV. Na entrevista de hoje (25), o governador lembrou que conversou com Bolsonaro durante a videoconferência com os governadores do Centro-Oeste, realizada na manhã de terça-feira (24), e que não foi avisado do pronunciamento.

“Nada disso foi tratado. Como governador de sua base, como governador aliado, receber uma matéria que diz respeito também a mim, como governador aliado, como médico, pela imprensa?”, questionou para completar que agora ele vai se comunicar com o presidente “também por comunicados oficiais.”
Caiado afirmou que não pode concordar com um presidente, que vem a público, sem ter consideração com sua base política. “Fui aliado de primeira hora, durante todo o tempo, mas não posso admitir que vem agora um Presidente da República lavar as mãos e responsabilizar outras pessoas por um colapso econômico, ou uma falência de empresa amanhã, caso venha acontecer.”

Para ele, “um estadista tem de ter coragem de assumir as dificuldades pelo momento que passa, sem terceirizar responsabilidades. “Se existem falhas na economia não tente responsabilizar a outras pessoas. Assuma sua parcela de responsabilidade”. O governador reclamou da ganância de quem coloca na balança apenas os números e defende a tese de “colapso econômico de grandes proporções.”

“O que é mais importante, a vida ou a sobrevivência da economia?”, perguntar para responder: “Pode fazer as duas coisas. Cabe ao líder [criar] as condições de liderar seu povo. Criar condições de minorar as dificuldades.” Ele afirmou que admite que haverá dificuldades econômicas em razão da crise da proporção do coronavírus, mas afirmou discordar da tentativa de Bolsonaro de jogar responsabilidades sobre governadores.

Caiado recorreu a sua “autoridade de governador” e a seu “juramento de médico” para dizer que não abrirá mão do seu decreto e que a decisão do presidente no que diz respeito ao coronavírus não alcança Goiás. “As decisões de Goiás serão tomadas por mim e por decisões lavradas pela Organização Mundial de Saúde e pelo corpo técnico do ministério da saúde.”

Caiado minimizou a possibilidade de represália política por parte do governo federal em relação a seu esforço, iniciado desde que tomou posse, para o Estado aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Sem resposta do Ministério da Economia, em junho do ano passado ele recorreu ao STF e conseguiu uma liminar, suspendendo o pagamento das dívidas de Goiás com a União e determinando a inclusão do Estado no RRF. Passados mais de seis meses, o processo de adesão continua tramitando na Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

“Há 14 meses busco essa saída para Goiás. Fizemos todas as exigências que o Tesouro Nacional nos impôs. Qual a solução foi dada a nós. Por que estamos sobrevivendo até o momento? Por decisões do Supremo, nenhuma decisão foi dada a Goiás depois de cumprir todas as etapas para buscar a renegociação das dívidas”, disse.

Segundo o governador, o estrangulamento fiscal do Estado no momento não é diferente de quando ele tomou posse. “Saberei recorrer ao Supremo e ao Congresso Nacional para avançarmos naquilo que os Estados precisam, cumprindo suas responsabilidades, e ter o direito de ter respostas e empréstimo para viabilizar seu setor econômico e social, que poucas pessoas enxergam nesse momento.”

Caiado se mostrou indignado com as declarações do presidente desdenhando do coronavírus e da covid-19. “Dizer que é um resfriadinho, uma gripezinha? Respeito!” Ele ainda criticou o presidente por incentivar o uso do hidroxicloroquina, medicamento indicado para malária e lúpus e em teste para tratamento da covid-19. “Quem cabe decidir isso não é o presidente da República, muito menos prescrevendo cloroquina na porta do palácio. Isso é decisão médica. Nós é que sabemos prescrever.”

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