A cidade está de novo tomada por camelôs e o fato é ignorado pela administração municipal. Ordenar uma cidade não é fácil; significa conciliar tantos interesses quanto o número de habitantes.  Nesse processo, o respeito aos espaços públicos deveria ser priorizado na mesma proporção que o respeito à propriedade privada. Mas não é isso que acontece. Para não provocar desgastes políticos – com eventuais consequências eleitorais – os administradores permitem o uso privado dos espaços públicos, que deixam de ser de todos para pertencer a alguns.

É o caso dos camelôs, que estão de volta ao centro de Goiânia depois de dez anos da retirada deles. Em 2003, em um esforço estremo de conciliação, o então prefeito Pedro Wilson conseguiu remover os cerca de 2 mil ambulantes que se espalhavam por todas as ruas centrais da cidade para recém-construído Mercado Aberto, na Avenida Paranaíba.

Mas todo o empenho do passado está comprometido. Aos poucos os camelôs estão voltando aos espaços de origem e já podem ser vistos aqui e ali nas principais avenidas do centro da cidade, obstruindo a passagem dos pedestres, prejudicando o comércio formal e degradando o Centro Histórico de Goiânia. Vendem de tudo um pouco: DVD’s, relógios, óculos, sapatos, roupas, churrasquinho e frutas em carrinhos que substituíram as antigas barraquinhas fixas. Não pagam tributos nem encargos e não têm compromisso com o espaço que ocupam. Deixam sempre para trás um rastro de lixo e sujeira.
 
Os camelôs estão voltando porque não nada que os proíba de voltar e, no ritmo acelerado que vêm tomando as ruas, em pouco tempo serão mais que os que ocupavam o Centro na década de 90. A prefeitura garante que fiscaliza o comércio irregular e que vai reestruturar o mercado da Paranaíba para aumentar o número de vagas. Mas ignora que muito dos ambulantes que hoje estão nas ruas são braços dos comerciantes que mantém barracas regulares no Mercado Aberto.

Para impedir que o Centro de Goiânia se transforme novamente em uma grande feira livre a prefeitura precisa intensificar a fiscalização e identificar os verdadeiros donos das barracas que estão sendo armadas nas ruas centrais. Mas isso requer empenho, vontade política e, acima de tudo, coragem para enfrentar os desgastes decorrentes da boa administração.