HAVOLENE VALINHOS E LEONARDO VIECELI RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ONG Ação da Cidadania lança neste domingo (16), no Rio de Janeiro, a campanha Natal sem Fome. A iniciativa busca doações para brasileiros em situação de insegurança alimentar, um problema que cresceu na pandemia.

O evento deste domingo, Dia Mundial da Alimentação, ocorre na praia de Copacabana, em frente à avenida Princesa Isabel, zona sul do Rio.

Em uma tentativa de chamar atenção para o avanço da fome, a Ação da Cidadania montou no local de uma árvore de Natal com alimentos cenográficos simbolizando carcaças e comida estragada ao lado de pratos vazios. A escolha remete a cenas que se multiplicaram durante a crise econômica e sanitária.

Diferentes cidades registraram filas de famintos em busca de doações de sobras e ossos de boi. A ONG destaca que a fome atingiu 33 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados de uma pesquisa recente.

No evento em Copacabana também foram instalados equipamentos que simulam as compras de famílias que recebem até R$ 303, renda mensal de 18% da população, segundo a entidade.

“A escolha entre o que comprar e o que deixar no carrinho nunca é fácil para ninguém. E quem passa por isso sabe que é impossível sobreviver com tão pouco por mês e ainda pagar todas as contas. É sobre isso que queremos chamar atenção esse ano”, afirma Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania.

Conforme a ONG, as doações para o Natal Sem Fome devem ser realizadas pela internet até o final de dezembro, na página oficial (www.natalsemfome.org.br) ou por meio do Pix ([email protected]). É possível se candidatar ao voluntariado também pelo site da instituição.

Durante o lançamento no Rio, também há possibilidade de doar alimentos em um ponto de coleta.

“Não podemos passar mais um ano vendo a população se alimentando com restos, carcaças, peles, e correndo atrás de caminhões de lixo. Se isso não é desumano, não sei mais o que é”, aponta Afonso.

A Ação da Cidadania foi fundada em 1993 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. O objetivo era combater a fome e a desigualdade socioeconômica, em um contexto de mais de
32 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza.

Para o filho de Betinho, Daniel Souza, que preside o Conselho da Ação da Cidadania, há um certo sentimento de frustração quando se fala no combate à fome no país. “Em 2014, saímos do mapa da fome, pois houve um investimento pesado, mas, em 2016, 2017, essa estrutura começou a perder força, com menos recursos. Em 2018, houve um desmonte das políticas públicas para o combate à fome e à pobreza.”

Ele conta que, entre 2007 e 2017, a entidade não precisou fazer arrecadações para o Natal e estavam trabalhando em projetos nas áreas de educação e de inovação, mas foram surpreendidos com a demanda urgente dos comitês estaduais que atendem a 3 mil instituições sociais distribuídas por diversos estados. “Os comitês começaram a pedir a volta do Natal Sem

Fome porque as famílias estavam precisando e, desde março de 2020, a gente não parou de distribuir cesta básica sequer por mês.”

Souza afirma que a pandemia apenas agravou uma situação que já vinha acontecendo. “Quem pode erradicar a fome é o poder público, mas, em vez disso tem negado que ela existe, negligenciado essa situação.”

A Ação Cidadania não recebe doação de nenhum governo, apenas de pessoas físicas e empresas. “Não é nossa função dar comida ao povo brasileiro, mas do poder público. Porém, vamos continuar nosso trabalho até o Brasil sair do mapa da fome.”