A regulamentação sobre o uso de dispositivos móveis nas escolas tem provocado debates e reflexões sobre o papel da tecnologia na educação. Longe de proibir o uso de celulares, a medida propõe restrições para evitar o uso indiscriminado dos aparelhos e garantir que eles sejam utilizados com fins pedagógicos.
No programa Tom Maior, a educadora e especialista em inovação educacional, Talita Fagundes, destacou a importância de compreender o novo cenário como uma oportunidade de aprimorar o ensino, e não como um retrocesso. “Quando chegou a lei de proibição do uso do celular dentro das escolas, boa parte dos educadores ficou preocupada com o termo ‘proibição’. Mas o que temos, de fato, é uma restrição ao uso indiscriminado, e não a exclusão dos dispositivos”, explicou.
Talita ressaltou que a legislação tem como foco regulamentar práticas que não eram educacionais, como o uso de celulares para acessar redes sociais durante as aulas. O objetivo é manter a atenção dos alunos, melhorar o desempenho e promover o uso responsável da tecnologia.
“A gente não pode interpretar essa legislação como um convite à escola analógica. Muito pelo contrário. A tecnologia e a inteligência artificial são aliadas da educação, e continuam sendo ferramentas essenciais”, afirmou.
Além das limitações ao uso recreativo dos dispositivos, a regulamentação estabelece a obrigatoriedade de trabalhar a educação midiática no currículo escolar. Segundo Talita, essa diretriz tem papel fundamental na formação de jovens mais críticos e preparados para lidar com o mundo digital.
“É nosso dever formar alunos que saibam lidar com a hiperconectividade, identificar fake news e usar essas tecnologias de forma ética e consciente. Isso é parte da formação para a cidadania digital e para o mercado de trabalho.”
Durante a entrevista, a especialista apresentou cinco formas eficazes de incorporar a tecnologia no ambiente escolar, respeitando os limites da nova legislação e ampliando as possibilidades pedagógicas:
- Gamificação do ensino: Plataformas digitais que usam jogos para personalizar o ensino de acordo com o desempenho do aluno, estimulando o engajamento e a aprendizagem ativa.
- Avaliações digitais: Aplicativos que permitem aplicar provas e atividades online com retorno em tempo real, oferecendo dados que ajudam os professores a planejar intervenções pedagógicas mais precisas.
- Uso da inteligência artificial: Ferramentas seguras e com conteúdo curado que auxiliam alunos e professores na produção de conteúdo, revisão e adaptação de materiais.
- Desenvolvimento criativo: Recursos que incentivam a criação de mapas mentais, vídeos, podcasts e apresentações multimídia com conteúdo escolar.
- Estímulo à leitura digital: Acesso a livros didáticos e literários em formatos digitais como e-books, PDFs e HTML, democratizando o hábito da leitura.
Apesar dos avanços, Talita alerta para a desigualdade no acesso à tecnologia em algumas realidades brasileiras. Muitos jovens têm contato apenas com o celular e desconhecem o uso de outras ferramentas digitais como computadores, tablets ou leitores digitais.
“É papel da escola garantir esse acesso. Se o aluno não tem um notebook ou um Kindle em casa, a escola precisa oferecer esses recursos. Isso é promover equidade”, enfatizou. A especialista ainda apontou que o domínio de diferentes tecnologias é essencial para a formação profissional dos estudantes.
“Hoje muitos jovens dominam o celular, mas não sabem usar um Excel ou fazer uma pesquisa crítica. Por isso, a escola deve proporcionar vivências com outros equipamentos e programas que preparem para a vida e o mercado de trabalho.”
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade
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