O município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, concentra 66% dos incêndios que assolam o Pantanal em 2024. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até 30 de junho, a cidade registrou 2.356 focos de incêndio, representando 33,5% de todas as queimadas no Brasil no primeiro semestre do ano.

Os dados do Inpe indicam que o Pantanal registrou 3.538 focos de incêndio no semestre, ultrapassando em mais de mil queimadas o primeiro semestre de 2020, que foi o pior ano já registrado no bioma. Este ano, a região enfrenta a pior seca em 70 anos, segundo o governo federal.

“Corumbá é o maior município do Pantanal, e além disso possui as áreas mais inundáveis, com muita biomassa. A chance de megaincêndios nessa área é maior”, afirma o professor Geraldo Damasceno, do Núcleo de Estudos do Fogo da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Origem

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que a Polícia Federal está investigando a origem de 18 focos de incêndio em propriedades privadas em Corumbá, que seriam responsáveis por grande parte das queimadas que ameaçam o bioma. Informações oficiais indicam que todos os incêndios no Pantanal este ano têm origem humana.

Corumbá responde por metade dos incêndios em Mato Grosso do Sul e é o município que mais desmatou no Pantanal, com 52,8% de seu território afetado. Desde 1985, a cidade tem a maior área queimada do Brasil, conforme o monitoramento do MapBiomas Fogo.

André Lima, secretário nacional de controle do desmatamento e ordenamento ambiental territorial do Ministério do Meio Ambiente, aponta uma relação direta entre desmatamento e incêndios. “Não é por acaso que a maior parte dos incêndios estão no município que mais desmata, Corumbá”, afirmou, em conversa com Um Só Planeta na última semana.

Ele menciona a “tríplice convergência”: mudanças climáticas, desmatamento nas cabeceiras do Pantanal, impactando o sistema hidrológico, e incêndios intencionais. O Rio Paraguai, crucial para a bacia hidrográfica, está mais de 3 metros abaixo do esperado em Ladário e Porto Murtinho.

Mais incêndios

Além de Corumbá, o top 5 de cidades com mais incêndios no semestre inclui Caracaraí (RR), Mucajaí (RR), Rorainópolis (RR) e Feliz Natal (MT), com Roraima sofrendo os efeitos da seca de 2023.

Os incêndios florestais no primeiro semestre de 2024 geraram as maiores emissões de CO2 em 20 anos no Brasil, segundo o observatório espacial europeu Copernicus. Mato Grosso teve 8.798 registros de fogo, seguido por Roraima (4.627) e Mato Grosso do Sul (4.000).

No contexto sul-americano, o Brasil ficou atrás apenas da Venezuela, que teve 38.136 registros de incêndio, enquanto o Brasil registrou 35.938 no mesmo período. Nos biomas brasileiros, o Cerrado registrou 13.229 incêndios, ficando atrás apenas da Amazônia, com 13.489.

Para combater os incêndios no Pantanal, a Força Aérea Brasileira está utilizando aviões com 12 mil litros de água e produtos químicos para extinguir as chamas e prevenir novos focos. Desde abril, mais de 400 bombeiros militares do Estado, além de 300 agentes federais, incluindo brigadistas e a Força Nacional, estão mobilizados na região, permanecendo por pelo menos 60 dias.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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