Especialistas comentam os efeitos da alta do dólar na economia brasileira (Foto: Vinicius Tondolo)

 

Na primeira quinzena de fevereiro de 2020, o dólar ganhou destaque nas manchetes e no cotidiano do brasileiro com uma valorização acima do esperado. Três movimentos são responsáveis por gerar a cotação do dólar acima dos R$ 4,30 e contribuíram para a depreciação do real: A turbulência dos ataques dos Estados Unidos ao Irã, a insegurança na economia mundial com a epidemia global do novo coronavírus (Covid-19) e a diminuição dos juros domésticos ao nível mais baixo da história, 4,25%.

Mas, na quarta-feira, houve um motivo a mais para a disparada do dólar: a infeliz declaração do ministro da Economia Paulo Guedes. Na ocasião, Guedes disse mais uma vez que o dólar alto veio para ficar. “Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vou exportar menos, substituição de importações, turismo, todo mundo indo para a Disneylândia”, afirmou. Mas não ficou por aí. “Empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada. Mas espera aí. Espera aí”, continuou. A fala pegou muito mal, inclusive dentro do governo.

Para discutir sobre o assunto no Debate Super Sábado, o jornalista Vinícius Tondolo conversa com o superintendente de Atração de Investimentos Internacionais da Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços (SIC), Plínio Viana, a vice-presidente do Conselho de Economia de Goiás (Corecon-GO), Alessandra Campos, o superintendente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Edson Roberto Vieira, e a economista mestre em administração pública, Karla Araújo. 

Karla Araújo explica que o dólar hoje é a moeda base da economia. “É a moeda mais forte que temos na economia e várias commodities são cotadas no Dólar”. Commodities são produtos comercializados globalmente e que não possuem marcas, como a soja, o petróleo, e no comércio global são negociados em dólar. A economista exemplifica o principal motivo do valor da moeda subir. “A gente pode entender o dólar como um produto qualquer, então quando a procura é alta, tem muita demanda, e o aumenta o preço. E quando deixa de ter procura o preço diminui. Esse é um dos motivos”, explicou.

O superintendente da SIC, Plínio Viana, disse que o dólar é referência na economia porque as pessoas sempre querem uma garantia. “Os Estados Unidos hoje tem uma economia bastante estável e forte, dá condições para esse dólar ser um lastro para as outras moedas. No passado era o ouro os meios de garantia, tanto que as trocas eram pelos escambos, eram feitos baseados no ouro e agora no dólar”.

Viana afirmou que no Mercosul já houve uma iniciativa para que a troca e as negociações sejam realizadas em moeda local e não usando o dólar, mas ele aponta que a moeda norte-americana ainda será a mais valorizada. “Enquanto os Estados Unidos tiverem essa potência, essa economia bem aguerrida e competitiva, espera-se que o dólar seja a moeda mais usada nas trocas. Porque ela representa e garante as negociações de uma forma mais estável”.

Está mesmo caro?

Cotado acima dos R$ 4,30, o dólar subiu por questões de especulações, é o que afirma a vice-presidente do Corecon-GO, Alessandra Campos. “O dólar está caro, se comparado a momentos da nossa economia onde tivemos ele com valor muito mais próximo do real, no momento em que nós tivemos uma estabilidade econômica maior com o plano real, a gente percebe que o dólar aumentou expressivamente”.

Para Edson Roberto Vieira a questão é relativa. O superintendente do IBGE explicou que no momento em que houve a criação do plano real, o dólar era R$ l, mas se autorizado pelo IPCA, teria que ter hoje um dólar de mais de R$ 6, mas ele alerta que a comparação imediata é feita em relação ao ano anterior. “Tivemos um momento de muita valorização da moeda no início do plano real, isso gerou um problema para a economia brasileira, nós tivemos uma dificuldade muito grande de exportar, essa conta foi fechada com a entrada de capitais internacionais, a economia brasileira tendo que manter a taxa de juro interna muito elevada, criando a dependência dessas moedas que entram para ganhar com essa diferença entre o juro interno e juro internacional”.

Segundo explicou Edson, a dependência das moedas deixou a economia brasileira frágil e movimentos eternos abalaram o país, sem que pudessem ser geridos aqui. “Tivemos um abalo em 1995 com a crise no méxico, depois tivemos a crise da Ásia, em 1997, a crise da Rússia em 1998, todos esses movimentos geraram uma saída de capitais da economia brasileira porque os investidores saem em busca de segurança”. O superintendente do IBGE disse ainda que crises como o coronavírus causam crise cambial,  o que faz com que os países percam capital.