Filas, sofrimento e longa espera já fazem parte do cenário das unidades de Saúde Pública em Goiás. Não ser mais um entre as centenas de pessoas que enfrentam fila para serem atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é o principal objetivo de quem adere a um plano de saúde, tanto os individuais quanto os coletivos. Mas muitos usuários da rede privada não usufruem da qualidade vendida pelas empresas e chegam a tentar driblar os gargalos buscando apoio na rede pública, demonstrando que pagar pelo serviço de saúde deixou de fazer diferença.
Reclamações referentes ao descumprimento dos prazos máximos fixados para marcação de consulta, exames e cirurgias e denuncias de que algumas empresas alegam que o período de carência não foi cumprido, quando, na verdade, o prazo já acabou também são queixas comuns de usuários de planos privados. A diferença é que estas empresas são monitoradas, fiscalizadas e punidas, o que viabiliza a busca por qualidade no atendimento por parte das operadoras, mas demonstra ainda que o fator fiscalização não reflete na diminuição das ocorrências.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciou nesta quinta-feira (10), que vai ampliar os critérios para monitoramento dos serviços prestados por operadoras de planos de saúde. De acordo com a Agência, entre dezembro de 2011 e março de 2012, registrou 2.981 reclamações, mas nenhum plano foi suspenso na época. Entre março e junho de 2012, registrou 4.682 reclamações e levou à suspensão de 268 planos de saúde. A terceira etapa de monitoramento foi realizada entre junho e setembro de 2012, quando registrou 10.144 reclamações, com 301 planos suspensos. Por fim, o quarto ciclo, divulgado nesta quinta, registrou 13.600 reclamações e 225 planos suspensos.
O médico recém-formado, Fernando Nascimento, de 25 anos, declara que muitas pessoas ainda procuram o serviço público de saúde na tentativa de driblar falhas de alguns planos privados. Ao ser questionado sobre influências pessoais em relação ao atendimento da saúde privada, ele acredita que no serviço público isso é mais fácil de acontecer. O médico avalia ainda que o atendimento privado em Goiânia é satisfatório, mas que existem falhas. “Além da alta demanda, há deficiências em várias especialidades médicas, e também não são todos os planos que tem convênios, com isso ficam indisponíveis alguns exames por determinado plano”, salientou.
“Plano de Saúde é igual plano funerário a gente tem que ter, mas nunca faz”, essa é a declaração da micro-empresária Célia Regina, de 47 anos. Célia disse que o plano de saúde pela faixa etária dela é muito caro, mas apesar da burocracia ela gostaria de ter. Mesmo sem usufruir do serviço privado, a mulher informou que quando precisou de atendimento público ela contou com os serviços prestados e saiu bem atendida. “Meu filho de 11 anos chegou ao Cais com uma dor, foi encaminhado para o Hospital Materno Infantil e diagnosticado com apendicite. No período de três horas ele foi atendido e operado”, enfatizou.
Mas nem todos tem a mesma sorte de Célia. A operadora de caixa, Pabline Dias, de 23 anos, conta que chegou a um Cais com fortes dores de cabeça às nove horas da noite e saiu à meia-noite sem atendimento. Após o ocorrido, ela procurou informações sobre um plano, mas o que era viável ao orçamento dela disponibilizava os serviços em apenas uma unidade de saúde e não tinha prestador de serviço na especialidade que ela precisava. “Agora meu esposo começou a trabalhar em uma empresa que oferece plano de saúde aos funcionários então vamos poder ter”, esclareceu. Já o comerciante Raymilan, de 37 anos, afirma que tem plano de saúde há muito tempo e que os filhos dele são sempre atendidos. De acordo com ele, se for pagar consultas individuais ficará bem mais caro.
Gilvan Almeida, de 32 anos, acredita que os planos de saúde são todos bagunçados. O vendedor diz que quando você precisa fazer um determinado exame, alegam que o plano não cobre. “Gostaria de ter um plano, mas pesaria muito nas despesas. É bom e ruim ao mesmo tempo, tem alguns casos que quando a gente mais precisa, eles dizem que não faz. Minha tia é diabética não tem plano e vive com problemas nesses Cais ai”, ressaltou. O aposentado José Teodoro explicou que há quinze anos é usuário de um plano. Ele conta que é diabético, vai ao médico periodicamente, mas nunca enfrentou problemas ao marcar a consulta porque faz a marcação para a próxima assim que sai do consultório médico. “Minha esposa tem câncer e nunca tivemos problemas com atendimento. Inclusive o plano sempre me envia pelo Correio todas as informações e mudanças, até quanto aos prestadores de serviço”, finalizou.
A Associação de Consumidores Proteste declarou que as suspensões são a melhor forma de obrigar as empresas a melhorar a qualidade dos serviços prestados. Além da entidade, muitos órgãos de defesa do consumidor elogiaram a ação da ANS desta quinta, de suspender a vendas, por um período de três meses de 225 planos de saúde de 28 operadoras e ressaltam que é necessário dar continuidade ao monitoramento. Quanto à rede pública o Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira (9) a liberação de cerca de R$ 63,3 milhões para serem investidos na assistência de Média e Alta complexidade de 15 estados, 39 municípios e o Distrito Federal. Para Goiás foi destinada a verba de 5.472.473,16, o que poderá amenizar os entraves apontados.