A cidade já foi elogiada internacionalmente por sua qualidade de vida e o fato parece longínquo. Goiânia dá adeus às características que a fizeram famosa, como a tranquilidade: a média de homicídios é de três por dia, fora os que a polícia não registra como assassinato porque não quer. Está em fase de demolição a imagem de cidade bela: a paisagem foi ocupada por placas com anúncios publicitários. Se há um título que Goiânia honra atualmente é o de capital da demagogia.
Vereadores pressionam e a Secretaria de Fiscalização aceita instalar qualquer quantidade de bancas em cima das calçadas. Aliás, as calçadas cedem espaço para tudo, menos para o tráfego de pessoas. É pitdog na calçada. É camelô na calçada. É pirateiro na calçada. É restaurante na calçada. É estacionamento na calçada. É caçamba de entulho na calçada. É outdoor na calçada. É a sonegação na calçada, derrubando os pedestres e a arrecadação de tributos. Uns pagam muitos, outros estão livres da tributação.
Mas não foi apenas sobre as calçadas que a administração perdeu o controle. O leito das vias pertence a mais de mil feiras. A poluição sonora é caso de polícia, mas nem a polícia nem as autoridades ambientais tomam conta de nada. Perdeu o controle também sobre a poluição de córregos, ribeirões, rios e nascentes.
Desanima, pois parece uma cidade abandonada. É cada um tentando demolir Goiânia com mais rapidez. Já demoliram o equilíbrio ecológico, no céu, no ar, nas águas, no solo. Já demoliram a tranquilidade, pois as polícias entregaram as ruas aos bandidos. Já demoliram as praças, que cederam o território aos carros e aos outdoors. Enfim, não existe controle sobre qualquer espaço público. Se algo os controla é a demagogia.
Os resultados da demagogia estão nos mais de mil bairros. A podridão é fruto dos três poderes nos três níveis, federal, estadual e municipal. Para Goiânia voltar a receber elogios, inclusive de seus moradores, basta as autoridades demolirem a demagogia. Parece mais difícil do que devolver as calçadas aos pedestres, somente aos pedestres, a nada mais que os pedestres.