Nego Boy, Weslley dos Santos, conhecido no mundo do crime como Zói, e Paulo Henrique de Sousa Silva cumprem pena na Ala C da Penitenciária Odenir Guimarães, onde ficam os presos de alta periculosidade. Lá de dentro eles comandavam uma organizada quadrilha de tráfico de drogas e roubo de carros. Durante quase um ano de investigações, os policiais da Delegacia de Furto e Roubo de Veículos Automotores conseguiram identificar mais de cem pessoas envolvidas no esquema criminoso.

Para chegar aos líderes do bando, a polícia solicitou à Justiça a quebra do sigilo telefônico dos suspeitos que executavam os crimes aqui fora. Segundo o delegado da Furtos e Roubos, Edson Carneiro, a quadrilha era dividida em várias células, cada uma responsável por um tipo de ação, e todas comandadas de dentro do complexo prisional por meio de telefones celulares. “É preciso resolver esse problema com a máxima urgência porque a situação está insustentável e o que mais preocupa é que são pessoas muito perigosas” destaca o delegado.

Uma constatação que, de acordo com Vinícius Marçal, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público estadual, expõe a incompetência dos gestores de segurança nos presídios goianos. “Há um ano, quando ainda integrava o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MP, escancaramos o problema com a operação que revelou que há uma cadeia que viabiliza o crime e os criminosos ainda contam com o álibi de estarem presos.”

A facilidade com que os aparelhos de celulares entram na POG já foi relatada pelo jornalismo da Rede Clube de Comunicação. Reportagem publicada no Portal730.com.br em fevereiro deste ano mostrou que as portas da entrada de drogas, celulares e armas no presídio são variadas, sendo que a maioria é transportada para dentro do presídio por meio das visitas, que entram com objetos escondidos nas partes íntimas do corpo. Há casos ainda em que os detentos contam com a ajudinha do próprio advogado. No ano passado, dois criminalistas foram detidos ao permitir que seus clientes usassem aparelhos celulares deles. A ação de condenados às vezes é facilitada por agentes penitenciários corruptos. No ano passado a corregedoria do sistema prisional instaurou 191 sindicâncias para apurar irregularidades e quatro agentes foram demitidos por facilitar a ação de criminosos.

Os meios são bem conhecidos, mas pouco combatidos. Há mais de dez anos a polícia registra o uso de aparelhos celulares dentro das cadeias, porém, só em 2010, os gestores da antiga Agência Goiana do Sistema Prisional e atual Secretaria de Administração Penitenciária e Justiça decidiu fazer uso de recursos federais que estavam disponíveis ao Estado para adquirir 47 bloqueadores de sinais de celulares. Investimento de R$ 80 mil que teve pouco ou nenhum resultado, uma vez que a tecnologia adquirida não é adequada para a estrutura da POG.

O sistema nunca pode ser usado em sua potência total porque prejudicava o sinal nas casas e fábricas localizadas na região. O proprietário da Wantek, empresa que ganhou a licitação e forneceu os aparelhos, não respondeu as ligações da reportagem para explicar sobre essa particularidade do sistema, que está desativado desde o início deste ano.

Numa tentativa de resolver o problema, o Secretário de Administração Penitenciária, Edemundo Dias, solicitou ao Estado recursos para adquirir novos aparelhos, esses de tecnologia israelense, que deve custar ao poder público cerca de R$ 1,5 milhão. “Fizemos o orçamento, estamos esperando a complementação da verba e, só depois, abriremos a licitação, o que deve acontecer no final do ano”, explica o superintendente de Segurança Penitenciária, João Carvalho Coutinho Júnior.

João Carvalho - Secretária penitenciária

Para o promotor Vinícius Marçal, os tropeços cometidos pelos gestores do sistema prisional revelam um amadorismo inaceitável que compromete a segurança da sociedade. “A gente percebe que as iniciativas não foram acertadas e que os criminosos continuam utilizando os presídios como escritório do crime.”

O especialista em segurança Ivan Hermano Filho considera incompreensível as trapalhadas cometidas pelo governo, considerando que só o fato dos presos terem acesso a rede elétrica dentro das celas já é questionável. “Não se pode levar a sério um governo que até hoje não entendeu a necessidade de se construir um presídio de segurança máxima, onde o condenado não tenha regalias como energia elétrica, que permite o uso dos celulares.”

Ivan Hermano filho

Em junho do ano passado, a extinta Agência Goiana do Sistema de Execução Penal anunciou a construção de um novo complexo penitenciário em Aparecida de Goiânia. A meta era concluir a obra em 2014, com 1.600 vagas, mas, até hoje, o governo não finalizou uma parceria público-privada, que viabilizaria a obra.