Junior Kamenach
Junior Kamenach
Jornalista, repórter do Sagres Online e apaixonado por futebol e esportes americanos - NFL, MLB e NBA

Economista critica impacto do aumento de IOF e alerta para desequilíbrio social

O anúncio — e posterior recuo — do governo federal sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) reacendeu um debate que há anos ocupa espaço entre economistas, empresários e contribuintes: afinal, quem paga a conta da carga tributária no Brasil? A discussão foi tema da nova edição do programa Pauta 2, da Sagres TV, que contou com a participação do economista e professor Júlio Paschoal.

Segundo Paschoal, o IOF tem impacto direto sobre toda a economia brasileira, já que incide sobre operações de crédito, câmbio, seguros e investimentos. “Aumentar o IOF significa, na prática, aumentar o custo financeiro das empresas. E esse custo é automaticamente repassado para os consumidores, no atacado e no varejo. Vai bater no preço do arroz, do feijão, da blusa de frio, em tudo”, explicou.

O economista alertou que os percentuais de aumento do IOF variam entre 0,38% e 4,38%, dependendo do tipo de operação, o que pode gerar inflação indireta. “As empresas tentam se proteger, e se o Congresso não barrar essas medidas, esse aumento acaba no bolso da população”, afirmou.

A decisão do governo de elevar a alíquota ocorreu mesmo após a aprovação tardia do orçamento federal de 2025, o que gerou ainda mais desconforto no mercado. Júlio explicou que, apesar da recente aprovação orçamentária em março, o Executivo federal tem enfrentado forte pressão para cumprir metas fiscais.

“Os juros da dívida pública consumiram quase um trilhão de reais em 2024. Com a Selic em 14,75%, em 2025 esse valor pode chegar a R$ 1,4 trilhão. É uma dívida construída ao longo de 65 anos. Não dá para querer que em quatro anos ela seja resolvida”, declarou o economista.

Além disso, Paschoal foi enfático ao criticar a falta de comprometimento de outros entes da federação com a responsabilidade fiscal: “Mesmo com o governo federal fazendo a lição de casa, cortando R$ 30 bilhões para cumprir o arcabouço fiscal, não vemos os mesmos esforços por parte dos estados e municípios”.

Para ele, a cobrança por ajuste fiscal tem sido seletiva e penaliza principalmente os mais pobres. “Cortar gastos é necessário, sim. Mas cortar de quem? O problema é que os empresários que mais cobram o equilíbrio fiscal continuam recebendo incentivos, enquanto os mais pobres perdem acesso ao SUS, à educação pública, aos programas sociais.”

De acordo com dados citados no programa, apenas em Goiânia já foram arrecadados mais de R$ 1 bilhão em tributos até maio. Em todo o estado de Goiás, o número ultrapassa os R$ 32 bilhões. Nacionalmente, o chamado “impostômetro” estima que o brasileiro precisa trabalhar quase cinco meses por ano apenas para pagar impostos.

O professor também destacou a complexidade do orçamento público e as distorções entre previsão e arrecadação. “O orçamento, quando aprovado com atraso, já começa defasado. A receita estimada nem sempre se confirma, e o governo precisa abrir créditos suplementares. Mas quase sempre se corta onde não se deve: na saúde, na educação, no mínimo de sobrevivência das camadas mais pobres.”

Ao ser questionado sobre o papel do IOF na estrutura fiscal brasileira, Pascal foi direto: “O IOF é uma ferramenta de arrecadação, sim. É a maneira que o Estado tem para tentar equilibrar as contas. Mas o problema é que as medidas sempre recaem sobre o Executivo Federal. O Judiciário, o Congresso, os grandes empresários — ninguém quer abrir mão de nada. E aí, sobra para quem tem menos.”

O debate em torno da reforma tributária também foi abordado no programa. Para o economista, embora a proposta em tramitação no Congresso não seja perfeita, ela representa um avanço. “A reforma tributária que foi aprovada prevê uma carga média de 26,5% a 27% do PIB. Hoje, estamos em 32% a 33%. Isso representa uma queda de cerca de 7%.”

Contudo, Paschoal alerta que a redistribuição da arrecadação poderá prejudicar regiões como o Centro-Oeste e o Norte, que atualmente dependem de incentivos fiscais sobre a produção. “A reforma tira a tributação da origem e leva para o destino, ou seja, para onde está o consumo. Isso favorece os estados do Sul e Sudeste, que têm maior poder de consumo.”

Para ele, o grande problema continua sendo a injustiça tributária. “Quem paga a conta mesmo é o consumidor, de duas formas: primeiro ao pagar o imposto no produto; depois, com o repasse do aumento do custo das empresas que também são tributadas. E o consumidor, diferente das empresas, não tem benefício fiscal algum.”

Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas: ODS 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico

Leia também:

Mais Lidas:

Sagres Online
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.