A cidade está em obras e o fato é que nunca houve tanta oportunidade para quem quer trabalhar na construção civil ou adquirir imóvel. A estabilidade econômica, herança de duas décadas de Plano Real, proporcionou juros menores, alta de salários e condições de financiamento. A parte ruim é, como sempre, a ação paternalista dos governos nos três níveis, municipais, estadual e federal. O apogeu do equívoco são os programas “Minha Casa, Minha Vida”, “Cheque Reforma”, “Cheque Moradia” e as doações das prefeituras.
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O pai de família de boa-fé compra um lote em trocentas prestações, de acordo com sua renda. Economiza para quitar em dia o carnê. Pechincha na loja de materiais e sofre para achar pedreiro. Assim age quem quer conquistar as coisas com o suor do seu rosto, não à custa de benesses oficiais. Enquanto um compra o terreno, paga aos pouquinhos e ergue o barracão à custa de esforço próprio, outro ganha a casa prontinha, sem transpirar. É a formação do curral eleitoral, pois político acha que o povo é gado e dar casa é a forma de reunir a boiada.
Os piores exemplos de Goiás estão em Goiânia, como os Jardins do Cerrado, na divisa com Trindade, e o Residencial Pastor Albino, na Região Noroeste. O Cerrado, como bioma, está sendo destruído e mesmo assim é melhor que o conjunto habitacional dado pela prefeitura. O pastor Albino foi um grande líder religioso, chegou a senador e não merecia ter seu nome num lugar usado pela demagogia. Os vizinhos pagaram pelos imóveis, enquanto os beneficiados pela prefeitura entraram apenas com o pedido.
Dando dinheiro público diretamente para as empreiteiras, com a desculpa de reduzir o déficit habitacional, os governos inflaram a bolha imobiliária. Casa de 80 mil reais em 2008 agora é oferecida por três vezes mais. A valorização irreal chega a níveis como o que desmontou a economia americana. No Brasil, o fenômeno já começa a acontecer. Está difícil vender e alugar casas. O próximo passo é o preço cair. O que vem depois ainda não se sabe. Mas tudo indica que não seja coisa boa.