O Aliança é um dos maiores representantes goianos de futebol feminino no país. Única equipe representante de Goiás, as meninas se despediram da Copa do Brasil, na tarde da última quarta-feira, dia 31, ainda na 1ª fase da competição.
Apesar da eliminação precoce, não dá para reclamar da atuação das atletas no esporte. O Aliança é um time completamente amador, gerido com apoio de diversas entidades e pessoas, mas que, mesmo assim, esbarra em muitas dificuldades, típicas da situação do futebol feminino no país.
Dificuldades e ajuda do governo
Um dos destaques da equipe é a camisa sete Vanessa. A jogadora tem 19 anos, mora em Vianópolis, a 90km de Goiânia, e está no ensino médio. Ela conta sobre a dificuldade que encontra em conciliar os estudos, na cidade natal, com os treinos, na capital.
“Eu não moro aqui, moro em outra cidade, então é muito difícil para eu vir treinar. Eu só estudo, estou tentando terminar a escola para começar a faculdade e vir morar aqui (Goiânia) para ficar mais perto para treinar”, afirma a atleta.
Dentre o pouco apoio que o time recebe, dois programas do governo se destacam: o pró-atleta e o pró-esporte. O pró-atleta é voltado para as próprias jogadores e atua no pagamento de bolsas. O pró-esporte é voltado para o time enquanto instituição, é o que conta Luiz César, técnico e presidente do Aliança.
“O governo tem dois projetos muito bons, o pró-atleta, que são bolsas para atletas, e o pró-esporte, que é para o clube. No pró-esporte, nós fazemos um projeto de material, eles passam o dinheiro e a gente presta conta. Nas bolsas, são 12 bolsas por ano”, afirma.
Apesar do incentivo ser bom no papel, na prática, o dirigente conta que não é bem assim. O governo demora a liberar o benefício e, quando liberam, não é na quantidade prometida pelo programa. “Eles pagam duas, três por ano. Ainda tem duas do ano passado para pegar, as desse ano já foram homologadas e publicadas e eles não pagaram nenhuma”, ressalta.
Vanessa é uma das atletas contempladas com o projeto e confirma a falta de comprometimento do governo com o programa. “A gente ganha salário, mas custa sair a bolsa. Nós não temos apoio e é muito difícil achar lugar para treinar. Mas somos guerreiras e temos que lutar”, destaca a jogadora.
Garantia para o futuro
Entre as parcerias firmadas com o clube, está a faculdade Estádio de Sá. A instituição de ensino superior concede bolsa integral para as atletas do Aliança, em diversos cursos, e Luiz César comemora com veemência a relação da equipe com a faculdade.
“O nosso grande trunfo é a faculdade Estácio de Sá, nós temos uma parceria com a faculdade e ela dá 100% das bolsas para as atletas do Aliança. Lá, nós temos jogadoras fazendo educação física, fisioterapia, contabilidade, engenharia, enfermagem. Isso é melhor do que pagar por mês, elas terão um diploma para o resto da vida delas”, ressalta o dirigente, com orgulho.
A meio-campista Marília é uma das jogadoras que estudam na Estácio pela parceria. Ela tem 23 anos, está no segundo período de Educação Física e há seis anos defende as cores do Aliança. Ela também narra as dificuldades encontradas no futebol feminino e destaca a força de vontade das atletas.
“Nós temos o apoio da Estácio, que tem parceria com o Aliança. Meu pai é o que mais me ajuda e temos muita força de vontade, porque não temos apoio nenhum. Temos amigos que às vezes arrumam a ambulância, o material”, declara.
Por ser uma das veteranas da equipe, ela conta que o cenário já foi muito pior. Hoje em dia, a equipe conta com o apoio da CBF em competições nacionais, na questão de logística de viagens e, nos campeonatos locais, o técnico é quem segura as pontas.
“Melhorou muito o apoio, em questão de uniforme, lugar para treinar, transporte, viagens, os hotéis que a gente fica são muito bons. Quando é Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, é a CBF que banca. Quando é Campeonato Goiano, muitas vezes o Luiz (técnico) é que banca”, narra Marília.
O que está por vir
Após a eliminação na Copa do Brasil, o Aliança tem pela frente o Campeonato Goiano de 2016. A competição ainda não tem data certa de início e nem os participantes definidos, mas está prevista para começar no final do mês de setembro. Marília fez um apelo para que o time e o futebol feminino sejam mais apoiados no estado e no país.
“Eles poderiam dar mais apoio para nós, merecemos ganhar pelo menos um salário, somos muito guerreiras. A gente quase não treina, vai para uma Copa do Brasil e perde de sete, o jogo de volta foi bem melhor, pelo menos mostramos garra”, salienta.