Um estudo feito na Universidade Federal de Goiás, publicado na revista científica, Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS), concluiu e explicou por que a América do Sul tem a maior diversidade de peixes de água doce.
De acordo com os autores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da UFG, Fernanda Cassemiro, Thiago Rangel, André Menegotto, Marco Túlio Coelho e Robert Colwell, e também pesquisadores nacionais e internacionais parceiros, são aproximadamente cinco mil espécies presentes no subcontinente.
“A América do Sul apresenta a maior fauna de peixes de água doce do mundo e há raros estudos que tentam descobrir o motivo de tamanha diversidade. A maioria dos estudos sobre peixes estão concentrados na Europa e Estados Unidos. No início do meu pós-doutorado fui contemplada com uma bolsa do governo suíço para passar uma temporada no WSL (Instituto Federal Suíço de Ciência) em Zurique. Lá, ao apresentar o banco de dados para a Catherine Graham, uma pesquisadora muito importante na área de ecologia e evolução, tivemos a ideia de fazer um estudo com enfoque biogeográfico para tentar encontrarmos as causas que levaram o nosso continente ser tão rico em espécies de peixes”, explicou uma das autoras do estudo, Fernanda Cassemiro.
O Brasil é um dos países da América do Sul que apresenta a maior diversidade de peixes de água doce do mundo, seguido pela Colômbia. Segundo a pesquisadora, o fato dessas nações terem grande quantidade de água doce também ajudam a explicar o fenônemo.
A cientista conta que para explicar o fenômeno foi um longo e trabalhoso processo que envolveu vários pesquisadores. O estudo compilou cerca de 500 mil registros de ocorrência das espécies de diversas bases de dados online, como GBIF, FishBase, FishNet, SpecieLink, artigos científicos e museus.
Em seguida, os cientistas filtraram todos os registros, utilizando algoritmos computacionais, para eliminar qualquer informação que pudesse atrapalhar os resultados, como erros de localização, de identificação de espécies, espécies exóticas, entre outras. No final, foram cerca de 350 mil registros de ocorrência para toda América do Sul.
“Obtivemos uma árvore evolutiva utilizando espécies que tiveram sua genética molecular avaliada. Assim, trabalhamos com o mais robusto e confiável banco de dados taxonômico e evolutivo. Trabalhamos com modelos estatísticos para estimar a taxa de origem e dispersão das espécies e, assim, saber onde e como elas se originaram e para onde foram. À medida que mais perguntas iam surgindo, fui convidando pesquisadores que pudessem agregar tanto analítica quanto conceitualmente”, destacou Fernanda Cassemiro.
Segundo a pesquisadora, a região oeste da Amazônia foi a maior fonte de peixes para grande parte da América do Sul. Ainda conforme a cientista, eventos geológicos, como a elevação dos Andes e da Serra do Mar, foram muito importantes para a formação de milhares de espécies de peixes.
“Os nossos resultados chamam a atenção para se preservar a rica fauna de peixes do nosso continente, principalmente na Amazônia e Mata Atlântica, que estão sob forte ameaça. Foi nesses dois biomas que milhares de espécies, que hoje observamos em todo o continente, tiveram origem, muitas delas são endêmicas. Portanto, o desmatamento e o garimpo podem extinguir espécies únicas, com uma rica história evolutiva”, alerta.
O Cerrado também foi um bioma analisado e estudado, considerado o berço das águas, já que importantes bacias hidrográficas, como Paraná e Araguaia-Tocantins, têm origem neste bioma. “Essas bacias foram importantes fontes de espécies de peixes para as bacias amazônica e da costa do atlântico. Portanto, os rios do Cerrado foram e continuam sendo importantes para a manutenção da alta diversidade de peixes que encontramos em todo o continente”, afirmou.
*Com informações do Jornal UFG
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