CLAYTON CASTELANI / SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) confirmou nesta quarta-feira (15) um aumento de 0,75 ponto percentual na sua taxa de juros.

É a maior alta aplicada pela autoridade monetária dos Estados Unidos desde 1994, indicando uma postura mais agressiva do órgão no enfrentamento à maior inflação no país em quatro décadas.

Esse ajuste leva a taxa de referência do Fed para o empréstimo diário entre bancos (parâmetro para o setor de crédito em geral) a um intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano.

Novas projeções após consultas aos conselheiros do Fed apontam para uma taxa mediana de 3,375% ao final deste ano, ou um adicional de 1,75 ponto percentual nas próximas quatro reuniões das autoridades, segundo o The Wall Street Journal.

Também nesta quarta, o Copom, comitê responsável por formular a política monetária do Banco Central do Brasil, apresentará sua decisão sobre a taxa básica de juros do país, a Selic. O aumento no custo do crédito nos Estados Unidos pode afetar a taxa brasileira.

Apesar do potencial impulso que a elevação dos juros pode promover na taxa de câmbio, o dólar recuava 1,26% às 16h05 desta quarta, cotado a R$ 5,0710 na venda.

Analistas avaliam que o recuo ocorre porque o mercado passou a esperar nos últimos dias a elevação de 0,75 ponto e, consequentemente, já havia cobrado esse preço ao promover a valorização do dólar frente ao real desde a semana passada.

Na Bolsa de Valores Brasileira, o índice Ibovespa subia 1,27%, a 103.360 pontos, após uma sequência de oito quedas diárias consecutivas.

Em Nova York, a Bolsa americana também buscava o caminho da recuperação depois de cinco tombos, com seu índice de referência, o S&P 500, avançando 2,11%.

O índice Dow Jones, que acompanha empresas americanas de grande valor, ganhava 0,92%. O Nasdaq, focado em companhias médias do setor de tecnologia, saltava 2,15%.

“De certa forma, o mercado já vinha incorporando essa expectativa nos preços dos ativos, principalmente no câmbio, de forma que o ajuste nos próximos dias deve ser menor”, comentou Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.

O mercado financeiro vem sendo pressionado nos últimos dias pelo sentimento cada vez mais forte de que a inflação mundial está descontrolada e provocará uma alta global de juros capaz de colocar as principais economias à beira da recessão.

O estresse dos mercados ganhou força na última sexta-feira (10), quando dados da inflação americana vieram acima do esperado, reforçando o sentimento de que autoridades monetárias em todo o mundo terão de acelerar ainda mais suas respectivas taxas de juros.

Essa situação tende a valorizar moedas fortes, sobretudo o dólar, e tirar investimentos de ações de empresas negociadas nas Bolsas.

Até a véspera, a Bolsa brasileira mergulhava 9,19% desde a sua última alta, em 2 de junho. Apesar da queda ter forte relação com o cenário internacional, o governo brasileiro também reforçou a percepção de investidores quanto ao risco fiscal ao colocar em pauta uma proposta de desoneração dos combustíveis.

ALTA DOS JUROS NOS EUA TIRA INVESTIMENTOS DOS MERCADOS MUNDIAIS

O aperto monetário -o que significa tornar o crédito mais caro para, assim, esfriar o consumo e desacelerar a inflação- nos Estados Unidos aumenta o rendimento dos títulos do Tesouro americano, considerado o investimento mais seguro do planeta.

Isso leva investidores a diminuírem suas aplicações em mercados mais arriscados, como as Bolsas de Valores. É um momento em que o mercado quer tirar proveito da renda fixa mais atrativa nos EUA.

Esse aumento do fluxo de dólares em direção aos títulos soberanos nos Estados Unidos torna a moeda mais escassa e cara, provocando uma reação em cadeia no mundo dos negócios.

Em países de economia emergente, como o Brasil, a alta do dólar eleva custos de importação e faz disparar a inflação.

Bancos Centrais são forçados a elevar juros para convencer investidores de que o retorno oferecido por seus títulos soberanos compensa o risco que eles correm ao não levarem seus dólares para os EUA.

O principal problema desse movimento é a falta de liquidez no mercado, uma vez que investidores passam a ter a chance de obter ganhos confortáveis com juros altos pagos pela renda fixa em todo o mundo. O dinheiro que sai das Bolsas faz falta para as empresas, pois elas perdem capital com a queda das suas ações e deixam de crescer e gerar empregos.

Mas a crise atual é ainda mais difícil de se enfrentar porque o aperto ao crédito não é o único remédio capaz de frear a inflação. Ainda como consequência das paralisações de atividades provocadas pela pandemia de Covid, o mundo enfrenta a falta de bens e insumos.

A alta de preços, portanto, precisaria também ser combatida com o aumento da oferta. Mas há ao menos dois grandes impedimentos para a normalização da comercialização global de mercadorias.

Em primeiro lugar, a China, que concentra boa parte da produção de bens industrializados do mundo, mantém severas restrições ao funcionamento de empresas para tentar conter as infecções pelo coronavírus.

Além disso, a guerra na Ucrânia reduziu a oferta de petróleo e fez o preço da matéria-prima disparar, uma vez que a produção russa foi banida dos Estados Unidos e de parte da Europa. Também devido ao conflito, a produção de grãos da Ucrânia enfrenta obstáculos para ser escoada, colaborando com o aumento global dos preços dos alimentos.

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