A cidade recebeu chuvas recentemente e o fato é que elas ficaram tão raras que são notícia. Mas as chuvas não desaparecem porque os meteorologistas erram ou porque, lá em cima, um velhinho chamado São Pedro abre as torneiras apenas quando deseja. Existe um processo de formação e Goiânia o agride em toda etapa. A maneira com que a cidade trata as árvores, o solo e os cursos d’água é essencial para o sumiço das chuvas. E os três, árvores, rios e solo, são desrespeitados solenemente, oficialmente, diuturnamente.
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Se os shoppings construídos quase dentro de córregos mandam destruir praças ou concretar a margem, são atendidos na hora.
Se o trânsito está engarrafado, e o trânsito em Goiânia é péssimo na cidade inteira, a solução é destruir praça.
Enfim, a solução sempre é destruir praça e córrego.
Se árvores estão “atrapalhando” a visão de fachadas de lojas ou de outdoors, tragam a motosserra e botem abaixo.
Se uma empresa, o Hospital de Urgências ou qualquer outra repartição precisa de estacionamento, e Goiânia inteira precisa de estacionamento, a solução é levar a motosserra e botar as árvores abaixo.
Enfim, a solução é sempre a motosserra.
Na União, no município e no Estado, o poder é ocupado por partidos antagônicos em público, mas unidos quando a solução é a motosserra, destruir praça e córregos ou aterrar nascentes.
As fontes que abastecem os lagos dos parques estão secas e um dos motivos é a construção de arranha-céus ao redor. Quando a prefeitura lança um parque ou o Estado leiloa uma área, há uma coincidência e na mesma hora a vizinhança toda está loteada. Os parques funcionam como áreas de lazer dos prédios. A empreiteira faz trinta andares para cima e três para baixo, aterra tudo, acaba com o manancial e adeus às águas.
Felizmente, ainda chove. Infelizmente, chove mais na horta de quem agride a cidade.