Férias é sinônimo de complicação para quem depende do atendimento público de saúde. Nesse período aumenta a procura por consultas médicas por parte das pessoas que têm férias em julho, o que só vem piorar a demanda represada do Sistema Único de Saúde. É também nesse mês a maior parte dos profissionais da área – contando com enfermeiros e técnicos – prefere combinar o recesso com as férias dos filhos e os rodízios para atendimento nos postos de saúde da capital acabam furando. Uma situação agravada pela rotineira falta de médicos na rede pública.

Dos 1.308 mil que trabalham hoje na prefeitura de Goiânia, 30 estão licenciados, 134 estão de férias e outros 30 pediram férias fragmentadas. Em agosto, outros 42 médicos sairão de férias. Os 1.114 médicos que estão trabalhando esse mês não conseguem atender todos os pacientes que buscam pelo serviço público. Os relatos de pessoas que tem ido a postos de saúde e voltam sem ser atendidos são duros, e não são casos isolados. Eles ficam sem ser atendidos porque não encontram um profissional da especialidade que necessita consultar, porque não tem médico na unidade e há casos em que o posto está tão lotado, que o paciente sabe que de nada vai adiantar ficar ali esperando, sem nenhum conforto. A pediatria é a especialidade que mais sofre com a falta de profissionais. Não muito raro, para quem depende do atendimento na rede pública, é chegar a um posto de saúde, passando mal, e não encontrar médico de plantão. A situação de agrava, porque os profissionais estão em número insuficiente, porque escolheram descansar em julho ou estão licenciados e soma-se 398 a menos porque pediram demissão até agora.

A capital tem 1,3 milhão de moradores e o ideal, segundo a Organização Mundial de Saúde, é a relação de um médico para cada 1.000 habitantes. O déficit de médicos na rede, de acordo com a Diretoria de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde é de 188 médicos (vagas de plantão), mas o secretário de saúde, Fernando Machado afirma que com 90 profissionais conseguiria cobrir as grades de plantões que estão em aberto, se eles assumissem mais de um plantão por semana.

Sobre a falta de médicos nos postos de saúde de Goiânia, nesse mês, o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado (Simego), Rafael Cardoso Martinez, lembra que, como qualquer outro trabalhador, eles também tem direitos trabalhistas e que nessa época, nem só os médicos saem de férias, mas profissionais de outras categorias. “O que a Secretaria de Saúde faz é tentar um rodízio para que não falte todos os médicos da mesma especialidade nesse período, mas nem sempre ela consegue fazer isso”, explica. Mesmo admitindo ser esse um período crítico, ele diz que é obrigação do gestor gerenciar para que isso não vire uma crise, o que caracteriza ingerência. Por meio de sua Assessoria de Imprensa, a secretaria de Saúde de Goiânia explica que o departamento de Recursos Humanos oferece aos médicos uma “ampliação de carga horária” nesse período de maior procura por férias, para que os atendimentos sejam mantidos. Eles recebem a mais para trabalhar além da carga horária, já que não é possível fazer um remanejamento porque o número de médicos não é suficiente, admite a secretaria.

O médico Rafael Cardoso Martinez discorda da referência de que a “falta de médicos” ocasiona essa crise na rede pública e atribui ao governo federal a tentativa de criar essa situação e esconder a ingerência dele, ao não investir no setor. Ele diz que hoje os médicos fogem do Sistema Único de Saúde por falta de condições de trabalho e de um bom plano de carreira e que por isso, é tão difícil deixar a capital para ir para o interior.

Ele defende que lutar por “falta de condições de trabalho”, não é desejar luxo, consultório bonito e nem aparelho de última geração, mas é ter estrutura para fazer um bom diagnóstico e tratar o paciente. “Muitas vezes nós recomendamos um exame e o paciente não consegue fazê-lo num prazo de um ano. Ele fica sofrendo com dor e sem ser tratado, porque a medicação correta depende do exame. O mesmo ocorre com as cirurgias. Trabalhos sem um exame mínimo e até sem uma equipe multiprofissional. Às vezes o médico se submete ao trabalho, cobra melhorias, e quando ele cansa, ele larga o SUS. A nossa reivindicação é menos para os médicos e mais para a população, porque é ela que não tá tendo acesso à saúde, e não é por falta de médico. Se ele tiver motivação, ele fica no SUS”, explica o médico, que trabalha na rede pública de saúde.

Como forma de demostrar a insatisfação, a categoria resolveu sair às ruas e está confiante de que serão atendidos em pontos que consideram absurdos das recentes propostas apresentas pela presidente Dilma Rousseff. Para os próximos dias, 23, 30 e 31, os médicos que trabalham na rede pública vão suspender o atendimento a exames e consultas eletivas e somente as urgências e emergências vão ser atendidas e não descartam fazer uma greve geral.

Para minimizar as queixas e oferecer atendimento a quem não pode pagar por plano de saúde, a prefeitura diz que vai contratar mais 356 médicos. Desses, 168 já estão entregando a documentação e 188 aguardam convocação que já foi autorizada pelo prefeito.

Estado
De acordo com a Gerência de Folha de Pagamento da secretaria estadual de Saúde, 1.662 médicos trabalham para o governo. Desses, 1.516 são efetivos, 65 são residentes, 81 estão à disposição, e nesse mês, 328 estão de férias e 11 de licença médica.

Do levantamento conseguido, no Hospital Alberto Rassi, o HGG, estão lotados 160 médicos que atuam no ambulatório, 30 estão de férias esse mês. No HDT, dos 105 médicos efetivos, 25 estão de férias e dos 42 contratados por regime CLT, só um está de recesso.  No Hospital de Urgências de Goiânia, tem 367 médicos. Desses, 67 estão de férias esse mês e sete estão de licença.