Fica a dica!!!!! Como o próprio nome já diz, é nosso espaço para sugestões. Vamos garimpar dicas de filmes, livros, discos, locais e qualquer outra coisa que esteja em destaque no momento. Hoje nossa dica é a peça “Mateus e Mateusa”, uma comédia dirigida pelo diretor João Bosco de Amaral.

 

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Espetáculo Mateus e Mateusa

Quem conhece as obras do dramaturgo e poeta gaúcho Qorpo-Santo sabe a importância do seu texto Mateus e Mateusa, escrito em 1866 e que provocou diversas discussões na época em que foi feito. Revisto muitas vezes nos teatros nacionais, o espetáculo aborda em cena a convivência familiar e suas relações, tornando-se uma das comédias mais reconhecidas da carreira do escritor.

Em comemoração ao aniversário de Qorpo-Santo, a Cia. Teatral Oops! estréia hoje, 18,  a sua versão de Mateus e Mateusa. A peça, que conta com patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Goiânia, será apresentada no Parque Campininha das Flores, com sessões às 18h e às 19h. Para o sábado, a companhia leva o espetáculo para o Bosque dos Buritis, às 09h e às 10h. Todas as apresentações são gratuitas.

Com direção e concepção de João Bosco Amaral, a versão goiana tenta ser fiel ao texto original de Qorpo-Santo. Trata-se da história de um divertido casal idoso que, após 50 anos de união, vivem em pé de guerra. Cansados um do outro, acusam-se mutuamente de abandono. De um modo quase farsesco, a peça fala sobre os desgastes dos relacionamentos e da futilidade de determinadas relações.

Os dois são pais de Odara e Odessa, meninas que disputam entre vi a atenção do velho e rico pai. O casal octogenário Mateus e Mateusa torna-se vitrines da passagem do tempo e da vida. A semelhança dos nomes das personagens sugere que, Mateus e Mateusa / Odara e Odessa, são apenas faces de uma mesma moeda; esta semelhança leva à percepção do teatro do absurdo e cômico. De acordo com João Bosco, nas entrelinhas, a peça revela a verdade de que somos aquilo que mais odiamos.

Com trilha sonora executada pelos próprios atores, a peça insinua, de maneira cômica, que a falência das relações humanas deriva do descaso da sociedade como um todo para com as leis e os códigos que deveriam regê-la. O espetáculo busca intensificar a sensação do descompasso e desacerto do mundo, carregando na linguagem e em imagens que fogem das convenções cotidianas.

A peça, que é apresentada em espaços urbanos, subverte também as noções de identidade, espaço e tempo e, com isso, quebra nossas certezas e desorganiza nossa compreensão do mundo. Para João Bosco, a companhia tentou dar uma modernizada à peça, levando questões atuais para dentro do texto, como a questão das relações de poder e da homossexualidade, derivada da polêmica de Marco Feliciano. 

Dessa forma, a linguagem se distancia do próprio texto de Qorpo-Santo e se transporta para lugares inusitados, irreais, fantásticos, inexistentes e flutuantes, fugindo do ritmo cotidiano, provocando o riso e transformação do ambiente cênico. Trata-se de um espetáculo para fazer rir e repensar questões sobre relacionamentos e fidelidade.