No primeiro episódio da série Forma do Bem, o tema foi sobre um estudo feito por médicos no interior de São Paulo que identificaram o poder da fé em tratamentos médicos. O novo documento ratifica e detalha a importância da espiritualidade para os pacientes.
Em entrevista à Sagres o cardiologista e integrante do grupo de estudos de cuidados paliativos da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), Dr. Daniel Dei Santi, explicou como o projeto foi elaborado. Confira a íntegra da entrevista:
“Esse projeto vem sendo elaborado a bastante tempo, porque percebemos uma necessidade de incluir outras formas de tratar os pacientes não só buscando a saúde física. É importante que a gente tenha um reconhecimento de que ser humano é muito maior e mais complexo do que apenas um conjunto de órgãos funcionantes. As pessoas são compostas de uma parte psíquica, sua mente, suas emoções e existem uma questão social que envolvem todas as pessoas. Onde elas estão inseridas, na sua família, na sociedade, sua função, sua profissão e a sua importância. Além disso, a questão espiritual”, esclarece.
O médico ressaltou a importância de diferenciar a religiosidade e espiritualidade. “Uma coisa é você ser uma pessoa religiosa ou ter uma crença em algum dogma ou em alguma coisa já concretizada. Rituais das igrejas, católica, evangélica ou mulçumana, por exemplo. Enfim, você tem uma forma de realizar essa conexão. Outra coisa é a espiritualidade, que é um conceito muito mais amplo, que abrange questões transcendentais, de significado, de conexão. O estudo foi montado justamente para ver como isso afeta a saúde das pessoas”, destaca.
“Pegamos questões da compaixão, solidariedade, a própria empatia, que temos conversado bastante nessa época de pandemia, de entender o sofrimento do outro, e como isso pode afetar a nossa vida, a nossa saúde e nosso comportamento como um todo. A ideia é exatamente mostrar de uma maneira mais cientifica como a gente pode dar saúde e valorizar aspectos para o nosso tratamento como profissionais da área”, concluiu.
O estudo brasileiro traz 368 referências de pesquisas internacionais sobre o assunto realizados nos últimos anos. Um levantamento feito pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, com cristãos, atestou que ir à igreja pelo menos uma vez por semana pode diminuir a mortalidade de 20% a 30% em um período de 15 anos. Uma das possíveis explicações é a associação que a crença pode ter com hormônios. Dessa forma, a a prática religiosa está ligada a secreção de endorfina dopamina, substâncias do prazer e bem-estar.
Dr. Daniel Dei Santi salienta que um paciente mais bem preparado emocionalmente, se recupera mais rápido. “Não tenho dúvidas de que se uma pessoa está mais triste, deprimida e apática a sua energia como um todo estará diferenciada” Um paciente que vai enfrentar uma doença grave, um Covid, por exemplo, se ele tiver uma resiliência maior, seja com recursos espirituais ou psicológicos, ele vai se alimentar mais, vai ter mais força para fazer a fisioterapia e sua reabilitação em geral”, frisa.
“Eu não tenho dúvida que isso vai agir de uma forma hormonal no sistema imunológico e vai influenciar na sua recuperação. Talvez seja uma coisa muito difícil de ser mensurada e na ciência nós temos a necessidade de provar certas coisas, mas percebemos que realmente essa forma de enfrentamento auxilia muito na recuperação dos pacientes”, finaliza.
A Forma do Bem
Esta nova série está inspirada no filósofo grego Platão. Ele descreve “A Forma do Bem”, como uma “Forma” (Ideia) análoga ao Sol que seria uma manifestação física que, assim como o Sol que torna os objetos visíveis gerando vida sobre a Terra, o “Bem” faz as outras coisas inteligíveis, entregando vida a todas as outras formas. O “Bem”, nesse conceito excede a vida, permite transcender para o além. Essa é a forma que, segundo Platão, permite ao filósofo, em treinamento, avançar para um rei-filósofo. É a forma que permite a realização de todas as outras formas.