A cidade está literalmente loteada e o fato não é somente uma aliteração malfeita. A ocupação urbana em Goiânia é um crime permanente. Os municípios vizinhos imitam a Capital no que ela tem de grotesco. Deixaram acabar com Santo Antônio de Goiás, Goianira e Aragoiânia, repetindo o fracasso de Trindade, Senador Canedo e, sobretudo, Aparecida. O caso de Aparecida é tão grave que os prefeitos levaram meio século consertando os erros cometidos em meia década.

Ninguém está nem aí para o que políticos e empresários fazem com as cidades. A Câmara Municipal de Goiânia foi invadida por grevistas querendo igualar benefício de professor para servidor administrativo. Ninguém invade Plenário e ocupa Legislativo nenhum quando os vereadores dão praças para igrejas ou estendem a zona urbana para atender a interesses de pilantras. Outro exemplo: o deputado estadual Samuel Belchior é o rei dos loteamentos polêmicos e isso nunca foi motivo de debate. Belchior virou personagem de escândalo por um motivo bem mais prosaico, a amizade com uma modelo funcionária de um doleiro que fraudava previdência. Não há prova nenhuma de que Belchior tenha lucrado 1 centavo sequer com os rolos entre sua amiga e os fundos de previdência. Mas sobram provas de quanto Belchior lucra com os loteamentos. Aliás, nada contra o lucro, tudo contra o adensamento urbano que não leva em conta a cidade.

Goiânia é uma festa para toda espécie de trambiqueiro. Especuladores, poluidores e empreiteiros aprontam a maior farra sobre o Plano Diretor, invadem os cursos d’água, aterram nascentes, fazem o que querem com Goiânia e nada lhes acontece. Aliás, acontece, sim: quanto mais eles fracionam a Capital, mais juntam capital e o fato é mais que um trocadilho malfeito.

Samuel Belchior não é a única personalidade que tem loteamentos na Grande Goiânia. Até a atriz Glória Pires e o cantor Orlando Morais parcelaram imensas áreas na periferia. Cadê a creche? Não tem creche. Cadê o posto de saúde? Não tem posto de saúde. Cadê a estação de tratamento de esgoto? Pode até existir ET, mas não existe ETE. Quando Glória Pires gravou um comercial para o governo, a oposição, que vive com o rabinho entre as pernas, quis latir contra a atriz, mas não saiu nem miado. Ou seja, ocupar desordenadamente o solo urbano não tem problema, o problema é fazer contrato ou se opor ao governo. Não é apenas um sofrível trocadilho com aliteração, mas a péssima oposição prefere as artes cínicas às artes cênicas.