Aqueles que são pais, cujos filhos são adultos, vão entender esta ilustração, pois tem tudo a ver com o crescimento de um filho. Quando a mamãe vai à maternidade para o parto, a expectativa é enorme dos amigos, avós e principalmente dos pais que vêem na criança a perpetuação da família. Quando nasce o bebê, todos ficam emocionados e tocados de imensa alegria. Quão gostoso é você pegar um nenenzinho tão indefeso e carente de carinho, amor e proteção. O desejo é que o tempo pare para que esta curtição seja eterna, pois é uma sensação indescritível. Somente quem é pai ou mãe sabe o que significa isso.
Com o passar do tempo, os desafios vão mudando, aquele bebê indefeso já aprendeu a caminhar, comer alimentos sólidos, embora ainda dependa dos pais para tudo. Chega o momento de a criança ir para a escola e aquilo que era exclusivo dos pais passa a ser dividido com a professora. A responsabilidade de fazer a tarefinha é a primeira mudança na vida da criança, no que diz respeito a ter responsabilidade, porque terá que apresentar seu trabalho na escola.
Nas fases seguintes da vida, cada uma delas com dificuldades e desafios, os pais ainda tem o controle da situação, ou seja, mandam nos filhos, podendo dar as cartas e decidir aquilo que for melhor para eles.
Mas, quando se tornam adultos, tudo muda. O filho não pede, comunica. Não troca idéias, faz o que acha melhor e, não raro, prefere ouvir os de fora do que os que o geraram. Filho adulto, muitas vezes, dá uma dor de cabeça danada.
GOIÁS ESPORTE CLUBE
Escrevi a respeito dessa situação comum na família para ilustrar o que aconteceu com o Goiás, que é, sem dúvida, o maior do Centro-Oeste. O clube experimenta uma situação difícil nesse momento, como resultado de uma sucessão de erros cometidos ao longo dos últimos anos.
Todos sabem que o Goiás foi administrado à distancia por Hailé Pinheiro, como a um filho onde as idéias do patriarca prevaleciam sempre, sendo certas, boas ou não. É evidente que, sobre o comando de Hailé, a equipe teve muitos avanços, principalmente na área patrimonial, onde tem maior notoriedade com um patrimônio invejável.
Mas assim, como um filho se torna adulto e não escuta mais os pais, o alviverde cresceu e, sem alarde, silenciosamente, acabou se soltando das mãos de Hailé, que, apesar de saber que tem o controle político, até porque soube armar sua rede para estender um pouco mais a influencia.
Basta fazer uma pesquisa e verá: a maioria absoluta dos sócios com direito a voto é ligada ao manda-chuva, de modo que a eleição passa pelas mãos dele, ainda. Entretanto, o velho comandante hoje é questionado em algumas ações. Ele não é mais aquela figura que falou e a água parou, não é uma unanimidade.
Hailé passou um susto tremendo na última eleição, quando teve que compor com uma chapa que foi oposição ferrenha no passado, pois talvez perdesse a eleição para o ex-presidente Raimundo Queiroz, que mesmo enfrentando toda essa força obteve mais de 180 votos. Embora exista uma aparente coesão desses dois grupos, que outrora eram antagônicos, não se sabe como é a relação nos bastidores.
Muitos filhos quando estão sob a responsabilidade dos pais conseguem progredir porque a cobrança faz com que ele aja e os mais experientes evitam que tomem decisões erradas pelas quais pagariam caro no futuro.
FILHO CRESCIDO
Depois que o Hailé deixou de ser a única palavra no Goiás, o clube teve pouco crescimento patrimonial e, para agravar, gastou-se muito com quase nada e a instituição está atolada em dívidas.
Lembro-me de uma vez que o Conselheiro Paulo Rogério disse que o Goiás não estava preparado ara buscar um título nacional por diversos motivos – um deles era exatamente o fato de não poder dilapidar seu patrimônio – o moço quase foi linchado por parte da imprensa e 99% da torcida. Na época, entendi o ponto de vista dele, e quase fomos juntinhos para o cemitério Jardim das Palmeiras.
O Goiás, hoje, é um filho crescido, que precisa de um freio nos gastos. É impossível um time de futebol conviver com déficits todo mês por tanto tempo como o Verdão convive há três anos – e com um crescente passivo, aliás, assustador. Adequar receita e despesa é a coisa básica a fazer. Evite aquilo que não pode pagar, como tentar se equiparar com clubes do Rio e São Paulo que faturam muito mais. Vale lembrar que os do Rio estão todos falidos, vivendo de aparência.
O Goiás não pode pagar R$ 200 mil pra treinador. Isso é loucura!! R$ 150 mil pra jogador é insanidade e compromete grande percentual de arrecadação bruta com poucos funcionários, e isso contraria a lógica de qualquer empresa.
Fico triste quando vejo o presidente do clube, Syd de Oliveira Reis, vir a público e dizer que o Goiás não está com problema financeiro, quando até uma criança de tenra idade sabe qual é a realidade… Isso é querer enganar o torcedor com tendência para acreditar em tudo que dirigente diz. Ora, se está bem, porque não monta um time competitivo e paga as contas vencidas, especialmente os impostos?
Em nome do futuro do Goiás, vocês dirigentes devem dar uma redirecionada na administração, apertar o cinto, evitar desperdícios, parar de querer ser aquilo que não é, pois a humildade não faz mal a ninguém. Evitem loucuras financeiras, que tanto mal fizeram a esse time querido pelo torcedor, para evitar que o patriarca refaça seu testamento e destitua seu herdeiro do comando dos negócios da família.